Todos responsáveis? Não, uns mais do que outros...
Neste circo que se montou a respeito da crise financeira e das medidas de austeridade, nunca se fala de responsabilidades.
Diz-se que é preciso cortar na despesa, diz-se que andámos 30 anos a assobiar para o lado e a gastar o que não tínhamos, mas não há responsáveis nomeados – somos todos, é o todo a que se chama Portugal.
Ora, sendo certo que Portugal somos todos, não é menos certo que elegemos regularmente uns indivíduos que supostamente governam a casa. Governam a casa e as contas da casa – cortando ou investindo, emprestando ou cobrando, em principio de acordo com o “superior interesse da Nação”. Esses indivíduos são responsáveis pelas contas públicas - não sou eu, trabalhador a recibos verdes (que quando não trabalho, não recebo nem tenho 13º mês...), nem o desgraçado do padeiro ou do engenheiro informático. Eu cuido das minhas contas privadas, o melhor que sei (e sei pouco), e quando me descuido não há Banco Central Europeu que me ajude e salve.
Dizer-se que somos todos nós responsáveis pela má gestão e irresponsabilidade de uns tantos, é uma aldrabice política rasteira e uma tremenda injustiça. Como se não bastasse, enquanto os actuais ministros tentam vender-nos o peixe do “somos todos responsáveis”, os ex-ministros dos últimos 30 anos tornam-se subitamente comentadores encartados e vêm explicar como se resolve a caldeirada – a caldeirada que eles criaram e alimentaram, e pela qual nunca foram responsabilizados...
Agora que se discute pela Europa fora a possibilidade das Constituições dos estados-membros contemplarem um tecto para o endividamento publico, era bom que também considerassem a responsabilização, o julgamento e a condenação dos responsáveis políticos que arrastaram os países para a situação em que se encontram. Muitas fizeram-no para ganhar eleições, com a plena consciência de que enterravam a economia ou para manter aparências de boa governação. Não raras vezes foram deliberadamente negligentes, mentirosos e trapaceiros. E agora comentam, comentam, comentam, como se tivessem acabado de aterrar na terra e fossem “a caminho da missa”. Uma vergonha publica que todos pagamos como se nada fosse.
O circo está montado. Mas parece-me que há malabaristas a mais na arena.