Aprender a aprender
Não foi há muitos anos, e não sei se a coisa persiste: numa instituição privada de ensino, as pautas onde os professores assinalavam as notas finais de ano tinham, junto ao nome de alguns alunos, uns sinais escritos a lápis que eram apagados depois dos professores escreverem as suas classificações. Um professor novato quis saber o significado daquelas cruzes a lápis, e explicaram-lhe: assinalavam os alunos que não pagavam propinas há mais de 3 meses, para que os professores, em caso de nota 10, pudessem descer para 9. Alunos a abater, se me faço explicar.
Na mesma instituição, um professor rigoroso que reprovasse muitos alunos (que julgava, afinal de contas, não merecerem passar) era em geral admoestado pela reitoria – porque, elucidavam-no, se os alunos pagavam o seu curso, tinham “o direito de passar”, desde que cumprissem as suas responsabilidades financeiras…
Lembro-me sempre destes dois exemplos, passados em Lisboa, quando leio as notícias sobre o maravilhoso mundo da nossa educação. Nos últimos dias, são escolas que se encerram por todo o país (o mesmo país "interior" que nas campanhas eleitorais é promovido instantaneamente a prioritário), são os números sobre a diminuição dos chumbos que parecem “martelados” pelas saídas “profissionalizantes” (que limpam e embelezam as estatísticas…), é essa deslumbrante magia de saltar anos escolares no secundário, que tento perceber sem sucesso.
Na mesma Europa onde este Portugal se estatela diariamente, uma hiper-criticada Alemanha lança um plano de austeridade onde a única área poupada a sacrifícios e cortes é justamente a educação.
Talvez isso explique quase tudo. Ou seja: o quase nada que sempre somos. Porque não aprendemos com o passado, nem queremos aprender com os outros. E definitivamente, somos relapsos e negligentes no essencial. Que é justamente aprender a aprender. Sempre foi assim.