Às vezes tu sabes como se faz
Vou apressado para o carro estacionado no esventrado Parque Mayer. Faltam poucos minutos para o jogo de Portugal, está muito calor, e eu vou apressado para o carro que ficou de frente para o que resta do Teatro Variedades. Ou será o Capitólio? Há paredes entaipadas e obras a alimentar a pó o calor, lembro-me da galinha corada da Dona Mimi, e incomoda-me o calor do alcatrão, o calor do pó, o calor da degradação e da decadência.
Mas, num breve fotograma deste quadro miserável, o meu olhar é chamado para um cartaz que recorda um passado daquele lugar. E eu reconheço um nome, um apelido que é um nome que orgulha o nome que tenho.
A pressa deixou de ser apressada e o calor parece que abrandou. A ansiedade desapareceu, Portugal não precisava de mim para começar a jogar, nem eu dele.
Como se fosse um oásis no deserto de um dia, ali estava o meu pai a olhar para mim num cartaz. E eu a pensar assim: Pedro, aprende com os erros dele, deixa lá essa ansiedade e essa pressa. Portugal pode começar a jogar sem ti. E tu sem Portugal. E este encontro merece um sorriso, e a doce memória que persiste em aliviar as dores. Vês, Pedro, às vezes tu sabes como se faz.
E então parei, respirei fundo, sorri para ele, e tirei uma fotografia: