30
Dez07
Uma má noticia para fechar o ano
Não tarda é dia 1 de Janeiro de 2008 e entra em vigor a tal lei sobre o tabaco. Ou sobre a mais tremenda das hipocrisias. Sem querer argumentar muito, apenas um facto: o dinheiro pago pelos fumadores por 16 de cada 20 cigarros que compram vai direitinho para o Estado. O mesmo Estado que impõe a lei que impede o fumo, e que faz imperar a ideia de que os custos de saúde associados ao tabaco são demasiado pesados para o SNS...
Pesados mesmo são os custos do Estado consigo próprio – isto é, a soma dos custos do funcionamento com o custo da incompetência e o custo da distribuição de tachos, tachinhos e panelas. Mas isso, embora também nos mate lentamente, não merece avisos nas portas das instituições respectivas.
Adiante.
Amanhã chega a nova lei. Eu deixei de fumar há ano e meio, depois de 30 anos de dependência. Fumava, em 2005, diariamente, três maços de Marlboro Lights . Os dias ainda hoje me pesam sem cigarros, e sonho com recaídas, e levo a mão ao bolso à procura do maço que entretanto não voltou. Não é fácil.
Tenho tanto orgulho no que fiz quanto medo de uma tentação – e esse medo é de tal forma verdadeiro que ouso afirmar que não voltarei a fumar justamente pelo receio de ser outra vez quem era antes de 4 de Abril de 2006. Não quero. Prefiro sofrer o meu bocado e continuar a ser, apenas, um fumador que, de livre vontade, se impediu de fumar.
Mas se é verdade que não quero voltar a fumar, quero menos ainda um país asséptico, hipócrita e absurdo, onde as Asaes , as leis contra o tabaco, o culto da aquacultura, a industrialização, o álcool sem álcool, o café sem café, e os comprimidos para o colesterol, tirem à vida o sabor, a graça, o risco, a escolha, ou como dizia o Vasco, a "pontuação de quem escreve".
No fundo, não quero que tirem bocados da vida à vida. Prefiro suportar o fumo mesmo não fumando.
Já fomos mais livres do que somos hoje. Mas o pior é ter de admitir que fomos também mais felizes. E fomos mesmo – morrendo, é claro.
… Mas - e essa é a má notícia que trago a todos - tudo indica que continuaremos a morrer em dado momento do caminho, mesmo com legislação em sentido contrário. E parece certo que isso também vai suceder aos que nunca fumaram nem beberam nem comem ovos estrelados e queijo da serra.
Uma má noticia para fechar o ano, eu sei. Mas cá fica.