Um livro
Recebi, da “Oficina do Livro”, as sobras do meu último livro, publicado em 2007, antes de ser destruído - ou descontinuado, como agora se diz. O espaço que estas centenas de exemplares ocupam em armazém e o facto de ninguém as querer comprar explicam a decisão. O mercado é assim. Eu respeito o mercado.
A Oficina do Livro mudou, porque o mercado também mudou. À empresa ligavam-me laços pessoais: o livro que estreou a editora foi o meu primeiro livro, “Noites em Branco” (cujo lançamento, numa festa no Lux, foi também a apresentação publica da nova casa). Sugeri colaboradores para a editora, fiz a ponte entre alguns campeões de vendas e a empresa, e o DNA foi berço de muitos livros da Oficina. Quando os dois sócios se separaram, ambos meus amigos, a coisa já doeu. Quando comecei a ser tratado como um número (e pequeno, dado não ser um campeão de vendas), doeu mais.
Agora, quando descontinuaram o “Fumo”, pedi que me dessem alguns exemplares - para poder, pelo menos, prolongar na minha vida a vida deste livro.
O “Fumo” é um livro dúplice – ele acompanha o período mais duro do meu processo de deixar de fumar, há quatro anos, com reflexões, ideias, textos, sobre o mundo, a vida, o que me rodeia e inspira e convoca. Uma espécie de blog em livro, com esse duplo-patamar – os “posts” vão sendo pontuados pelo diário de um fumador viciado, compulsivo e obsessivo, que decide deixar de fumar. E consegue...
Não tenho os meus livros na conta de obras literárias ou que mereçam figurar numa biblioteca – acho que juntei textos e os organizei para lhes dar uma coerência que fizesse sentido num objecto com lombada. De alguma maneira, transformei matéria de imprensa efémera em matéria impressa de longa duração. Mas sou sincero, sem falsas modéstias nem excessos de humildade: um livro, para mim, é um romance do Vergílio Ferreira, para deixar só um exemplo. Nessa medida, os meus três livros são três brincadeiras sem importancia.
Ainda assim, tenho gosto em que este “Fumo” seja lido.
O tempo já apagou o tempo de vida a que mercado lhe deu direito. Agora olho para o “Fumo” e penso que merece melhor destino do que o quarto lá do fundo, onde dormem caixotes de passado.
Vai daí, decidi oferecer exemplares do “Fumo”. Sem passatempo nem concurso. De vez em quando, abro a torneira e compro vinte envelopes de correio verde e envio o livro para aqueles que se mostrarem interessados em tê-lo. Autografado, claro.
É muito fácil: um mail para pedro.roloduarte@sapo.pt com nome, e morada completa. Como não sou accionista dos CTT nem rico, para já vou comprar 20 envelopes para os 20 primeiros. Daqui a uns meses repito a brincadeira. Estejam à vontade, podem começar...