“Maqueche”, como dizia a Bé
A ideia de regresso agrada-me - volta-se ao lugar de onde se é, volta-se ao ponto onde se estava. A ideia de “rentrée” incomoda-me – porque me cheira a festarola, comício do Pontal e da Pontinha, frases feitas e mais do mesmo. É bom regressar para continuar ou recuperar – mas “produzir” a “rentrée” que nos esfrega na cara que nada mudou, “eles” são os mesmos, e tudo ficará igual – ou seja, ficará pior? Não, obrigado. Não quero. Volto logo a sentir-me cansado.
Não sei como se concilia o regresso com a ausência de “rentrée” – mas só consigo conceber tal convivência com uma dose muito moderada de informação. Não quero saber tudo. Não vou ler a entrevista de Passos Coelho ao Expresso nem as declarações inflamadas de Sócrates na TV. Tiro o som. Mudo de canal.
Na gincana do que leio e evito para escapar à “rentrée” sem deixar de gostar do regresso, apanho na Única a entrevista da mulher de Manuel Alegre, candidato com quem embirro e em quem jamais votaria. Mas gosto das palavras dela, da potencial “mulher do presidente”, como prefere em alternativa a “primeira-dama”. Às tantas ela está a falar da sua vida na Argélia, antes da revolução, e diz “maqueche” (que se lê “máquéxe”) – e “maqueche” fez ricochete na memória e devolveu-me a Bé, o Phill, o Nuno, um relógio com casa de banho e uma salada de tomate assado com cebola e orégãos. E a Bé dizia “maqueche” por tudo e por nada e ainda hoje a minha mãe diz, volta não volta, “maqueche”, como quem diz “acabou”, “não há mais”, “paciência, chegou ao fim”.
Se eu pudesse, agarrava a “rentrée” pelo pescoço e dizia-lhe “maqueche”. Agora, algo diferente.