Coisas que me encanitam (VII)
Nas Amoreiras há um restaurante pretensamente espanhol de tapas e pinchos onde a ementa promete tortilha. Das vezes que me sentei ao balcão, nunca havia tortilha. Só havia a caña que inevitavelmente a acompanha. À terceira vez que lá fui decidi ser irónico e perguntar a que horas é que faziam a tortilha, para eu poder organizar a minha vida... A empregada levou a pergunta a sério e respondeu: “Normalmente, não há. Já não fazemos”.
No restaurante Rubro do Campo Pequeno (parece que há outro, onde nunca fui), já houve tortilha. Nunca houve a tortilha espanhola simples de ovo, batata e cebola, mas uma com pimentos ou qualquer coisa do género. Deixou de haver porque tinha de ser feita na hora, atrasava os restantes pedidos e bla-bla-bla, uma explicação mal amanhada.
No balcão de tapas do El Corte Inglês, a tortilha vem sempre seca e demasiado “abatatada”. Não se consegue comer. É igual a que vendem no balcão da comida pronta, não recomendo.
Confesso que gosto muito de tortilha – da que fazia a minha madrinha Teresita, espanhola de Madrid, que a minha mãe aprendeu a fazer, e que em Barcelona como desalmadamente na Cervejaria Catalana ou na Ciudad Condal.
E pergunto-me simplesmente: que mal fez a tortilha ao mundo para, sendo prato tão simples e agradável, fugir a sete pés dos restaurantes que, em Lisboa, exibem “tapas” no menu como se fosse uma especialidade? Dizer a palavra “tapa” e não ter “tortilha” é como dizer salgados e não haver pastel de bacalhau ou croquete. Faz sentido? Não faz.