Muitas vezes, assim
Tenho ideias e coisas para dizer. Tenho notas tomadas. Às vezes até me canso de ter tanta opinião. Mas depois passeio pelos blogues (que é trabalho de todos os dias), leio os jornais, oiço os debates que enchem os canais de cabo de notícias, e esvazio-me como se fosse um balão a que tivessem desatado o nó. Deixo de ter opinião, ou acho que de opiniões já basta.
Nesses momentos, fico assim, como este poema de Ruy Belo:
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
É essa a pergunta que tanta gente nunca faz: “mas que sei eu?”