A fazer
Não esquecer hoje, dia de reflexão:
Um. Reflectir sobre a pobreza nível zero de uma campanha eleitoral que deu da Presidência da Republica a ideia mais triste de todas: a de um pedestal dourado onde se senta quem se julga de fora, estando dentro; quem se vê acima, estando na verdade abaixo; quem se julga livre, estando efectivamente preso.
Dois. Reflectir sobre o facto de, aqui chegado, não ter em quem votar, não ter vontade de votar, nem saber que voto serve o quê. O caminho do voto branco parece o mais óbvio, mas um voto absurdo num candidato impossível também é tentador.
Três. Reflectir sobre o momento político à luz da austeridade e da crise: até quando vamos continuar a fazer de conta que estes senhores que nos governam são inimputáveis? Até quando vamos aceitar pagar a despesa que não fizemos?
Quatro. Reflectir sobre o voto à luz da mesmíssima crise: ainda que a imperfeição da democracia a isso obrigue, será efectivamente justo pedir sacrifícios e pagamentos extras a quem não votou no centrão que pôs Portugal na bancarrota? Que sentido faz cobrar o preço da negligência, da incompetência e da lassidão a quem não apenas não votou como não alinhou?
Cinco. Por fim, reflectir sobre o caminho a seguir. Uma amiga minha comunicou oficialmente ao seu grupo de amigos que, estando farta de contribuir para o peditório dos governantes incompetentes, deixava de fazer trabalho a recibo verde e passava apenas a dar explicações pagas em dinheiro “vivo”. Conheço um casal que desistiu da cidade e vai tentar, no campo, viver no velhíssimo sistema da troca: produzem parte do que consomem, trocam o que resta pelo que lhes falta. Talvez freak e romântico em excesso, ainda assim plausível. Há sempre o caminho da emigração. Não sei...
... Uma coisa é certa: não se aplica a Portugal a ideia kennedyana do “não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu pais”. Esqueçamos isso. Já não temos país, pertencemos em dia incertos a uma Europa, nem idealismo que nos valha. A ideia agora é outra: tenho a certeza de que o meu país não vai fazer nada por mim, nem merece que eu faça algo por ele. Por isso me pergunto o que posso eu fazer por mim, sem incomodar o país nem ser por ele incomodado.
E para dia de reflexão, fico por aqui.