O meu balanço eleitoral em quatro pontos
Um. O cromo destas eleições não foi José Manuel Coelho, um anti-sistema que canibalizou o voto em branco, mas Fernando Nobre. Tentou encaixar-se numa “candidatura da cidadania”, uma expressão mais oca do que um ovo kinder (...e sem surpresa lá dentro). Tentou a escola do eanismo, do PRD, do MEP, enfim, mais do mesmo: descobrir virtudes numa presumível independência como se a politica, em si, constituísse pecado original. Mas foi vítima da sua própria presunção: qual politico do costume, dois dias antes das eleições dizia “não é possível demover-me da minha intenção. Só há uma maneira: dêem-me um tiro na cabeça, porque sem tiro na cabeça eu vou para Belém”, acrescentando que era entre ele e Cavaco que se discutia a segunda volta - e ontem declarava que a sua candidatura era a única realmente vitoriosa. Ficar em terceiro lugar e declarar vitória é coisa que já nem os políticos profissionais fazem. Fernando Nobre veio a esta eleição lembrar-nos que quanto mais diferentes querem parecer, mais iguais acabam...
Dois. O partido a que desta vez pertenci, o do “voto em branco”, alcançou qualquer coisa como 4,5% dos votos (o dobro das ultimas eleições). Se lhe juntarmos 52,5% de abstenção, estamos perante uma confortável maioria absoluta. Ninguém quer pensar um bocadinho sobre isto? Vale a pena abrir o debate sobre o voto obrigatório? Acho que sim.
Três. Depois de ouvir os discursos, as declarações, os debates, os comentários, tenho saudades de Mário Soares, de Cunhal, de Sá Carneiro, gostava de ouvir Freitas, Adriano Moreira. Sou fiel a Marcelo, mas queria ouvir Vasco Pulido Valente. E Paulo Portas era tão melhor editorialista. Sabendo bem quão politicamente incorrecto é dizê-lo, cá fica: também tenho saudades de António Guterres.
Quatro. A reeleição de Cavaco vai trazer-nos a revelação: vamos finalmente saber quem é este homem. E do que é capaz.