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Dez07
O poder da(quela) imagem
Estar no lugar errado na hora certa.
Estar no lugar certo na hora errada.
Não sei se é uma coisa ou a outra ou mesmo ambas.
Sei que o dia de ontem não correu bem a José Sócrates. E por mais que ele explique - e mande explicar, e ponha alguém a explicar - que o discurso dele era um, e os assobios no Parlamento Europeu eram outros, este é um daqueles momentos em que o poder da imagem esmaga para todo o sempre a verdade dos factos. Pode ser estudado nas escolas. Sobre a prepotência da imagem, a ditadura da imagem, a forma como condiciona a opinião alheia – e tanto mais quanto menos letradas são as populações que a consomem. O “You Tube” não deixará de contribuir para o caos. Sócrates também ajudou, quando azedou a pose e mostrou irritação.
Nunca ninguém vai perceber o que se passou. O que se ouvirá nas ruas por estes dias é algo do género: “Viste’s o Sócrates? Lá na Europa não 'gostem' dele, pudera: é só mortos no Porto e coisas assim...”
O poder tem um preço a pagar. Em Portugal, muito alto. Tão alto quanto baixo, baixinho, é o investimento dos mesmos poderes no “choque” que realmente falta dar. Chama-se “choque cultural”, mas qualquer nome lhe ficaria bem: literacia, instrução, quarta classe. O que queiram.
Um povo culto será tanto mais injusto na sua avaliação do poder quanto mais for por ele penalizado – mas um povo ignorante será ainda pior, porque nem sequer a medida do conhecimento e da justiça saberá usar. Talvez José Sócrates possa aproveitar a quadra para pensar nisto.