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Dez07
O ponto zero
Já ninguém quer saber da família McCann . Passaram 229 dias desde o desaparecimento da “pequena Maddie ” e o caminho diverso e perverso que levou a versão pública da investigação empurra o noticiário para páginas cada vez mais distantes da primeira.
No entanto, nos bastidores desta guerra de convicções, certezas e presunções, as batalhas continuam. Com menos expressão pública, mas sempre pairando sobre os media.
Do lado dos McCann : o jornal Daily Express ” garantia ontem que havia câmaras de vigilância que teriam gravado, a poucos metros do apartamento onde o casal passou férias, três homens, “com um ar suspeito e nervoso, a fumar cigarros” (descrição que li no Correio da Manhã, e claramente se inscreve nas novas leis sobre o tabaco e a evidente ligação ao mundo do crime dos fumadores em geral...). O mesmo jornal revelou também que se teriam realizado no Algarve novas acções dos já famosos cães pisteiros .
Do lado da polícia: não há quaisquer imagens de câmaras de vigilância e não têm sido feitas buscas com os cães. “Fonte próxima da investigação” diz ao Correio da Manhã que estão “quase prontas” cartas rogatórias da PJ no sentido de haver novas inquirições ao casal McCann e aos seus amigos.
Ou seja, informação e contra-informação. Como sempre, desde que o caso começou. Notícia e desmentido, investigação e desmentido, acusação e falta de consistência na acusação. O jogo do gato e do rato. Pressão na suspeita sobre o casal – e reacção permanente dos ingleses. Ou o contrário. Ora é a polícia a destrunfar, ora é o “aparato” McCann a dar cartas.
A vida humana, efectivamente, vale pouco. Mas presumia-se que não tão pouco ao ponto de servir para o mais primário jogo de póquer. Hoje parece óbvio: estamos como estávamos há 229 dias.
O trabalho da polícia portuguesa foi desastroso e desastrado, quando permitiu que os seus preconceitos sobre um casal de classe média com bom aspecto se sobrepusesse às regras básicas do “tudo é possível”. A campanha orquestrada pelos pais da Madeleine abriu alas à desconfiança generalizada.
Não faço apostas nem “ponho as mãos no fogo” por qualquer das teses vigentes. De vez em quando espreito os estilhaços que ainda sobrevoam a imprensa e limito-me a confirmar que o ponto da situação é ainda o ponto zero. A batalha da propaganda continua.
PS - Apenas uma pergunta (igual à que fiz a respeito do “Processo Casa Pia”): de que dimensão e profundidade será a cicatriz que este caso deixa na credibilidade dos media? Para onde vão os leitores de jornais e revistas depois de, uma vez mais, se sentirem enganados?