Des(confiar)
Acompanho e sigo o mundo que me rodeia. Sempre o fiz – e para mim, acordar foi, ao longo dos anos, sinónimo de correr atrás do mundo que mudava enquanto dormia. Até que dei comigo a dormitar um pouco mais e percebi que o mundo era o mesmo, quer estivesse na banca dos jornais às 9:00 ou ao meio-dia. Pior: chegando mais tarde, “ganhava” algumas horas sem saber histórias e casos que, lentamente, me mudaram o olhar...
Assim chego ao dia de hoje. A qualidade maior que a idade me trouxe foi, afinal, um defeito. Tornei-me desconfiado. Pior: deixei de confiar.
Até acho, do alto da minha ignorância, que Alcochete deve ser melhor do que a Ota – mas desconfio da mudança. Da facilidade na mudança. E especialmente do sempre sincero Ministro que defendia uma solução e de um dia para o outro muda tudo mantendo o mesmo perfeito sorriso, algures entre a ingenuidade e o alheamento.
Gosto da Bruny – até quando canta... – e aprecio parte do estilo Sarkozy. Mas lá está: desconfio do casal, não percebo o mediatismo, por um lado, e o jogo do gato e do rato, por outro.
E podia seguir por aí fora: o Processo Casa Pia prossegue sem conclusões... Desconfio, duvido, penso nas segundas intenções. Procuro fugir, em geral, à “teoria da conspiração” – mas nem por isso me entrego de corpo e alma ao primeiro piscar de olhos que vem do outro lado da pista de dança.
Pois: o passar dos anos substituiu-me, no código genético, ingenuidade e fé por descrença e desconfiança. Não é com alegria que o digo. É muito melhor acreditar. A ingenuidade tem um sabor doce e delicado. A desconfiança é amarga. Eu preferia o “antes”.
Os mais velhos dizem que cheguei à maturidade.
Eu digo, como a minha mãe, que cheguei onde “o diabo deu três gritos”. Demasiado longe para a minha vontade. Demasiado cedo para o que ainda quero viver.