A vista que, enfim, nos devolveram
Habituámo-nos de tal forma a que as coisas corram mal, a que nos tirem e nunca nos devolvam, a que prometam e jamais cumpram, a que nos enganem e aldrabem - e “ah, afinal, porém, contudo...”-, que quando algo sucede de modo diverso parece que nos faltam as palavras...
Ontem, dia 6 de Fevereiro, ia tendo um acidente de automóvel a subir do Bairro Alto para o Rato, porque algo estranho e anormal, à direita de quem sobe, me chamou a atenção, sem que o esperasse. Olhei (foi aí que ía mesmo batendo no carro da frente...), e não quis crer no que os meus olhos viram: o Jardim/Miradouro de São Pedro de Alcântara reaberto. Devolvido à cidade. Recuperado. A traça original.
Ali estava ela - aquela vista que ao anoitecer deslumbra e entontece, e que à noite comove até ao limite do silêncio, o vale desenhado e o Castelo em frente. Há quantos anos nos tiraram este bocado de vista e de cidade, com promessas de requalificação a que naturalmente torcemos o nariz? Imaginei ali um condomínio e uma investigação inconclusiva nas páginas de um jornal...
Agora vejo o Jardim de São Pedro de Alcântara de novo. E não acredito.
Parei, estacionei em segunda fila, dois minutos, dois minutos para acreditar no que estava a ver.
O Jardim/Miradouro de São Pedro de Alcântara é nosso outra vez. Cheguei a casa, fui ao computador, encontrei a notícia (reabriu há dois dias), e as palavras de António Costa: “Era uma vergonha para a cidade ver o estado de abandono a que esta obra estava votada.
Tratava-se de uma obra que estava parada por falta de pagamento e que nós, quando tomámos posse na Câmara, definimos como prioritária. Faz hoje seis meses que tomámos posse e esta obra está paga e o jardim está de volta à população”.
Há muito tempo que não dava valor ao meu voto. Ontem, dei-lhe o valor de uma promessa que se cumpre. De algo que era nosso e a nós veio de novo parar. Ontem voltei a acreditar um bocadinho.
Agora é cuidar dele, do miradouro, e do jardim que vai crescer a verde, com carinho.