Sinais
Apenas duas ideias sobre a entrevista de Jardim Gonçalves ao Público.
Primeira: Jardim Gonçalves decide finalmente falar, e ao decidir que deve falar (“é momento em que sinto que devo aceitar dar uma entrevista (...) por considerar importante emitir a minha opinião pessoal e repor a verdade sobre determinados factos”), estabelece as suas regras para a entrevista, sem contraditório nem debate, unilateralmente. O jornal aceita, certamente com receio do impiedoso mercado: se não fosse o Público, outro jornal as caucionaria. Um sinal do jornalismo nos tempos que correm.
Segunda: O Público aceita ainda, e admite-o na própria entrevista, que Jardim Gonçalves responda livremente, garantindo que as suas respostas não sejam editadas, antes publicadas na íntegra. Ou seja, aceita sacrificar o essencial trabalho jornalístico (e obviamente o mais sério e honroso), a edição, deixando-o a cargo do próprio entrevistado. Outro sinal do jornalismo nos tempos que correm.
Não critico nem lamento. Mas ao ver, na primeira página, a palavra “aproveitamento”, fiquei a pensar.
Fiquei a pensar nos sinais que o jornalismo nos dá nos tempos que correm.