Divórcio & lei
A tentação é grande: uma pessoa lê aqui e ali opiniões – de pessoas por quem tem respeito e admiração – e acaba por formar uma opinião. Sem ir à fonte. Sem conhecer os factos. Pela rama. É obviamente enviesada, pouco fundamentada, superficial.
Era nesse patamar que eu estava em relação à nova Lei do Divórcio – para mim, na sequência do que fui lendo e ouvindo, um sinal de desresponsabilização generalizada sobre a instituição e o começo do grande jogo do casa e descasa. A balda, enfim.
Mas desta vez decidi, antes de começar a dar palpites, ler os 53 mil caracteres da proposta socialista. E eu, que passei por um divórcio que foi “de comum acordo” mas teve muitos momentos tremidos, discutidos, forçados, em gabinetes de advogados, encontrei naquela lei sensatez, equilíbrio e uma eficaz interpretação da realidade existente (nomeadamente da queda vertiginosa do número de divórcios litigiosos para o patamar actual dos 5%). Alguns dos principais “dramas” dos divórcios actuais – a guarda dos filhos, a arma de arremesso do dinheiro, a responsabilidade partilhada nas questões essenciais da paternidade, os anos de separação formal que uma das partes não aceita que se defina legalmente – ganham uma dimensão humanizada, civilizada, e deixam aos casais (ou ex-casais, como queiram...) a responsabilidade que muitas vezes a mão cega dos tribunais não consegue administrar convenientemente.
Quanto à culpa, ela nunca morre solteira. Está em cada um de nós no momento em que tomamos uma decisão difícil e dura como a de acabar com um casamento, ou reconhecer que chegou ao fim. Essa culpa arrasta-se atrás de nós, e é-nos bastas vezes lembrada pelos filhos, pelos que nos rodeiam, pelo círculo que se desfaz e desorganiza. Só quem nunca se divorciou pode achar que a culpa desaparece por decreto.