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Pedro Rolo Duarte

07
Mai08

Cá e lá

Enquanto em Lisboa o ex-musico rock Bob Geldof gelava uma plateia de empresários com uma afirmação seca - Angola é governada por um “bando de criminosos” -, lá em Luanda o criminoso era afinal um indivíduo que saltou da assistência do Festival Internacional da Paz para roubar uma jóia valiosa do pescoço do rapper (obrigado pela correcção, Alexandre) norte-americano 50 Cent.
Algumas diferenças, no entanto:
Bob Geldof disse o que disse... porque pode. Não tem empresas a negociar com Angola, não deve nada a ninguém nem espera receber, para lá do cachet, generosos fundos pelas suas palavras doces ou amargas. Bob Geldof guardou do rock esse espírito livre que lhe permite dizer o que pensa. É raro – mas mais raro é este “género humano” ter acesso a plateias de empresários e políticos e poder provocar uma ligeira onda de choque. Percebe-se o incómodo geral, depois da promoção à volta da conferência e da plateia que Geldof obviamente conhecia.
Já o ladrão de jóias que decidiu operar num festival de música, fê-lo porque não podia de outra forma aceder a tal riqueza. Deve certamente alguma coisinha às autoridades. Tem do rock uma noção mais livre do que espiritual, e o facto de ter acesso a um recinto de espectáculos não faz dele o artista principal do dia, até porque não foi anunciado como tal.
Julgo que ninguém pagou para o ver actuar. E apesar de ter feito o que quis, o que ele quis fazer não faz parte do que se pode fazer. Pelo menos nos países civilizados...
Ambos podem estar errados, embora só um deles esteja legalmente errado. Ambos podem – se alguém os acusar formalmente - ser julgados pelos seus actos. Ambos são livres – até para a asneira.
Mas entre os dois não há mais do que aquilo que liga a Rosa do Canto ao canto da Rosa: jogos de palavras. O resto são as verdades que queremos ou não encontrar pelo caminho.

06
Mai08

Desemprego, por Pacheco Pereira

Antes de haver Internet, e quando ainda não tinha a noção de que a vida era (infinitamente) finita, ocupava parte do meu tempo livre recortando artigos e reportagens de jornais e revistas, que depois catalogava e arquivava em pastas. “Para mais tarde, nunca se sabe”.
Basicamente, guardava o que escrevia e publicava (o portfólio, afinal), matérias relacionadas com jornalismo (o meu interesse mais profundo), e aquilo que designava abreviadamente por GTE: “o que eu gostava de ter escrito” (os artigos que, de tão bons, mereciam estar nas prateleiras dos livros...).
Nas diversas mudanças que fui fazendo, libertei-me dessa carga de papel que se arrastava atrás de mim desde os 12 anos - e hoje resta pouco desse potencial arquivo. Não me arrependo da decisão, apesar de um ou outro momento nostálgico (ou pior: uma ou outra necessidade de reler algo...). Com esse corte, deixei obviamente de perder tempo a recortar artigos de jornal – e hoje, bom, hoje eles andam aí no espaço virtual e tudo se encontra e reencontra com mais ou menos trabalho.
No fim-de-semana passado, no entanto, voltei ao passado. Sem querer. Ou sem sequer pensar no gesto automático que se apoderou súbita e literalmente de mim. Dei comigo a recortar e guardar uma página de jornal.
Estava fora de Lisboa. Agora, ao arrumar a mala de viagem, surpreendi-me a olhar para esta página de jornal recortada e pergunto-me: o que foi que me deu?
Resposta: deu-me um acesso de GTE. De algo que gostava de um dia ter escrito. De algo que merece estar onde estão as mais sábias palavras. Fui ao passado buscar esse impulso físico de cortar a página e a guardar na pasta das “eternidades”.
Está aqui, felizmente ao alcance de todos, uma das melhores crónicas que li nos últimos (largos, bem largos) tempos. Guardem-na como eu a guardo. Mesmo que o recorte guardado na tal pasta GTE seja agora um link ...
05
Mai08

E agora para algo diferente...

Transcrevo praticamente na integra (e sem permitir que o corrector ortográfico se debruce sobre o original) um mail que recebi assinado por Rita Egídio (que está na foto), capa de revista, comentadora de TV, “empresária”. Há 15 dias foi capa da “Nova Gente” sob o pretexto da sua gravidez. Mas parece que as fotos da revista foram feitas para uma campanha comercial. Pelo menos é assim que a dita Rita as oferece agora à “nação”...
Sublinho que não editei o texto original, e que a sequência de frases aparece no mail tal e qual a reproduzo aqui, com (ou sem...) a pontuação que podem ver.
Leiam comigo esta pérola de marketing, comunicação, escrita criativa, desacordo ortográfico e sintáxico e, já agora, por que não, desfaçatez:

“Olá Boa tarde!
Aproveitamos para enviar em primeira mão um press com as fotos de uma nova campanha pela qual a Rita Egídio dá a cara e é embaixadora.
Se existir algum interesse, podem contacta-la e marcar alguma
entrevista ou participação em programas para vos falar no projecto.

Pedia só que confirmassem a recepção.
Atentamente e continuação de bom trabalho
No âmbito do Dia da mãe a Bioteca elegeu Rita Egídio, para ser a embaixadora desta empresa de Preservação de Células Estaminais .
Numa Produção fabulosa que contou com o trabalho dos Conhecidos Nuno Tiago como Produtor e o fabuloso fotografo Gonçalo Gaioso, criou-se 3 fotografias que representam 3 mensagem com que Rita se identifica:
Está nas nossas mãos defender o futuro no nosso bebé.
Não é um luxo optar pela Bioteca é uma certeza.
Tão natural, como desejar o melhor;
Numa campanha que irá durar até Agosto altura do nascimento do Guilherme, Rita Egídio estará disponível para dar voz e cara por algo que pode assegurar o bem estar do nosso filho, dos irmãos e até de outras pessoas.
O Porquê da Criopreservação das Células do Cordão Umbilical do seu filho.
Seguro de vida biológico,
Mais um meio ao dispor dos médicos que poderá ser utilizado em caso de necessidade.
Conseguindo assim Prevenir o futuro do meu filho ou dos seus irmãos
Possibilidade já de tratamento de algumas doenças, e.g., determinadas leucemias e perspectivas de tratamento de outras no futuro como por exemplo diabetes”

04
Mai08

Listas e uma capa de revista

Caso interesse, aqui está (em baixo...) a lista das 100 pessoas mais influentes do planeta segundo a escolha anual da revista norte-americana Time. Os cem nomes dão boas conversas de café: Oprah ao lado de Mia Farrow? Mariah Carey? Peter Gabriel (não chegava já o casalinho Brad Pitt e Angelina Jolie??). Como sempre – e já o escrevi aqui – isto não é mais do que uma revista feita por pessoas como nós a conceber uma lista como qualquer de nós poderia igualmente conceber. Vale o que vale, ou seja: vale o que cada um de nós entender que pode valer.
Confesso que me impressionou mais a escolha da capa da revista, que foi feita por concurso com alguns dos mais relevantes designers. Venceu a proposta de Chipp Kid,
um bom designer de capas de livros, mas muito óbvio nesta ideia de reproduzir os cem eleitos em capas minúsculas de revistas, que praticamente esmagam o logótipo da revista. Não venceu um dos designers de que mais gosto, Neville Brody, o homem que desenhou a Arena e The Face, não esquecendo os projectos iniciais do The Observer e The Guardian. No site da Time estão as capas a concurso, e eu deixo aqui a eleita por “eles” – e depois a eleita por mim. Lá está: são escolhas. Cada um faz a sua.
 




À margem: a páginas tantas, Lev Grossman num artigo sobre a vida sem televisão, ou melhor, só com Internet. Ideia muito divertida e certeira: “YouTube is like those restaurantes that serve only tapas: there’s a lot of good stuff there, but afterward, you’re never sure that you actually had dinner”...

 
A lista dos 100 mais influentes, segundo a Time:

Dalai Lama

Vladimir Putin

Barack Obama

Hillary Clinton

John McCain

Hu Jintao

George W. Bush

Jacob Zuma

Anwar Ibrahim

Kevin Rudd

Bartholomew I

Ben Bernanke

Muqtada al-Sadr

Robert Gates

Michelle Bachelet

Sonia Gandhi

Baitullah Mehsud

Evo Morales

Ma Ying-jeou

Ashfaq Kayani

Brad Pitt & Angelina Jolie

Oprah Winfrey

Oscar Pistorius

Mia Farrow

Andre Agassi

Lance Armstrong

Bob and Suzanne Wright

Peter Gabriel

Kaká

Sheik Mohammed al-Maktoum

Yoani Sánchez

Madeeha Hasan Odhaib

Randy Pausch

Lorena Ochoa

Tony Blair

Alexis Sinduhije

Aung San Suu Kyi

George Mitchell

Michael Bloomberg

Craig Venter

Jill Bolte Taylor

Larry Brilliant

Jeff Han

Mehmet Oz

Nancy Brinker

Harold McGee

Peter Pronovost

Eric Chivian & Richard Cizik

Mary Lou Jepsen

Paul Allen

Nicholas Schiff

Mark Zuckerberg

Wendy Kopp

Shinya Yamanaka & James Thomson

Michael Griffin

Susan Solomon

Isaac Berzin

Lorne Michaels

Miley Cyrus

Robert Downey Jr.

Herbie Hancock

Joel & Ethan Coen

Bruce Springsteen

Peter Gelb

Mariah Carey

Khaled Hosseini

Elizabeth Gilbert

Rem Koolhaas

Judd Apatow

Alex Rigopulos & Eran Egozy

George Clooney

Tim Russert

Suze Orman

Stephenie Meyer

Tyler Perry

Tom Stoppard

Chris Rock

Takashi Murakami

Indra Nooyi

Ali al-Naimi

Rupert Murdoch

Steve Jobs

Radiohead

John Chambers

Jeff Bezos

Jay Adelson

Steve Ballmer

Jamie Dimon

Prince Alwaleed bin Talal

Lou Jiwei

Neelie Kroes

Jeffrey Immelt

Karl Lagerfeld

Lloyd Blankfein

Carlos Slim

Mo Ibrahim

Ratan Tata

Cynthia Carroll

Carine Roitfeld

Michael Arrington

03
Mai08

Sobre a pendular regularidade dos estados de espírito

Sempre admirei as pessoas que conseguem ter uma única maneira de estar na vida. Sempre admirei os optimistas, exactamente da mesma forma que sempre admirei os pessimistas. Ou os loucos. Ou os maníacos. Ou os coleccionadores. Invejo a pendular regularidade dos estados de espírito, do humor, da forma como encaram cada dia. Conheço dois casos clássicos e antagónicos: os do Alberto e do Carlos. O primeiro é um pessimista crónico, um tipo novo que gosta de se sentir envelhecido, um homem que, quando fala, nos obriga a aterrar e a constatar que, em geral, o mundo em que vivemos é uma merda. Este pessimista dos quatro costados é um profissional respeitado, bom pai de família, e a vida tem-lhe corrido de feição. O pior é que, por detrás do seu pessimismo e do ar desolado com que observa o planeta, ele é um tipo feliz.
Já o Carlos tem o registo oposto ainda que com o mesmo resultado: tem tudo para ser um homem infeliz, mas é um optimista e está bem-disposto mesmo quando é impossível estar bem-disposto – por exemplo, quando o saldo no banco faz o seu cartão de crédito esfumar-se em pó. O Carlos é o único ser humano que conheço que parece sempre rico apesar de estar sempre no limiar da pobreza. Ao pé dele, os meus problemas são gotas de água num oceano – e por conta dessa comparação já ultrapassei muitas pequenas crises. Basta-me telefonar-lhe e os meus pesadelos transformam-se em sonhos.

O Alberto e o Carlos são paradigmas do homem que nunca consegui ser. Acordo hoje optimista e odeio as pessoas que não conseguem ver o lado bom do mundo, que encontram defeitos em tudo e em todos, que só conseguem viver numa amálgama de maus fígados. Acordo amanhã pessimista e desejo mudar de profissão, sinto-me indiferente perante as misérias e glórias próprias ou alheias. Há dias em que tenho orgulho no jornalismo – e outros em que sonho com um pequeno restaurante no Alentejo onde todos os dias cozinho ensopado de borrego. Há dias em que encontro qualidades no governo, tenho orgulho em ser português, dou graças a deus por estar aqui – e outros em que compro o «El Pais» para ver os anúncios de emprego em Espanha no caderno «laranja» dos domingos. Nesses dias, desejo para mim uma vida noutro país, noutro universo – como dizia uma alemã que conheci, num país onde a água tenha pressão na torneira...

Equilibro-me nos dias sem conseguir encontrar um fio condutor coerente e lógico. O meu acordar determina o meu feitio – e o meu feitio determina a minha opinião. Às vezes, muito raramente, gosto do que escrevo – mas em geral discordo do que escrevi e sinto-me muitas vezes ridículo por escrever. Como se tivesse o direito de exibir a minha opinião, como se tivesse a mais pequena autoridade para escrever uma linha num jornal com 120 anos e muitas dezenas de milhares de leitores.

Gostava de ser um optimista, como o Carlos, ou um pessimista, como o Alberto. Gostava de ser contra ou a favor. Verifico, com tristeza, que faço parte do vasto grupo daqueles que se agarram ao «no entanto» para poder oscilar em função dos dias, mas que não abdicam dos seus momentos de profunda e inabalável convicção. Se fosse hoje, e se tivesse de ser, diria mal de mim próprio. Se esperar por amanhã, talvez encontre uma pontinha de orgulho para me defender. Os jornais não esperam por mim – e eu não consigo ser só um. A vida era muito mais divertida quando era radical e achava que o planeta girava à minha volta. Tinha 18 anos e o mundo acabava no fim da minha rua. Um dia acordei e percebi que havia sempre mais uma rua a seguir. Tornou-se tudo mais difícil. Nunca mais consegui ser feliz. Ou coerente. Ou sequer irritantemente convicto. Perdi a bela oportunidade de ser um cronista com estilo.

 
Ao sábado, reedições. Texto originalmente publicado no Diário de Notícias, algures em 1998
02
Mai08

Uma colecção


A última colecção que fiz foi a dos filmes do James Bond que o “Público” promoveu, a pedido do meu filho. Agora faço esta – porque apesar da minha memória ser curta no que à época diz respeito, quero guardar este trabalho notável de Joaquim Furtado, que vi incompleto na RTP, e agora vou poder completar. Acho que um dia o António Maria vai querer ver também. Isso vale o dinheiro de cada DVD que em feliz hora o “Correio da Manhã” decidiu promover.

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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