Dois paradoxos moderninhos
Agora que o Grupo Leya apresentou uma alternativa às incómodas barraquinhas clássicas da Feira do Livro, e à própria organização do espaço, percebi por que motivo elas resistem aos anos. É porque funcionam. Já fui duas vezes à Feira do Livro, e em ambas as visitas pude demorar-me nos stands do costume – enquanto na “Praça Leya” senti a claustrofobia e o desconforto do espaço apertado, do excesso de degraus, do excesso de pessoas com t-shirts vermelhas, da fila para pagar (desisti logo de pensar em comprar o que quer que fosse...), dos alarmes instalados à saída, da ausência de livros mais antigos. O culto do “user friendly”, tão na moda em todas as frentes da comunicação, foi ali liminarmente ignorado. Pode ser que seja apenas um começo e, em anos próximos, o conceito melhore. Mas, para começo de conversa, nada de bom a dizer.
... Nas barracas clássicas lá acabei por comprar alguns livros. Não tanto por os procurar, mas afinal por poder encontrá-los...
O “Rock In Rio”, que nasceu no Brasil como um Festival de Música herdeiro dos mais autênticos encontros da História (a começar no mítico Woodstock), é hoje uma versão capitalista da “Festa do Avante!”. Como no evento do PCP, há milhares de razões para concentrar no mesmo espaço tanta gente – mas a música é apenas uma delas. E à componente politica do PC, o “RiR” respondeu com a obsessão ambiental. Foi isso que senti, na sexta-feira, no Parque da Bela Vista. É verdade que estavam lá 90 mil fregueses, e que os nomes de Amy Winehouse e Lenny Kravitz não eram alheios à convocatória – mas a clientela dedicada à cerveja, ao namoro, ao merchandising oferecido pelas marcas, à conversa, à palhaçada, à comida, às compras ou, simplesmente, a passear, competia generosamente com os espectadores dos diversos palcos. E o excesso de mensagem ecológica chegava a convocar a revolta... Bom: gostei de andar por ali num ambiente bem organizado e devidamente pensado, estruturado, que inspira, apesar da multidão, confiança e segurança. Mas não deixei de pensar no paradoxo: aquele conceito foi “inventado” na Europa pelos comunistas. Mas a “Festa do Avante!” tornou-se, evidentemente, o “Rock in Rio” dos pobrezinhos...