Acertar com uma
Para o meu amigo M.F.
Hoje lembrei-me do Manuel Hermínio Monteiro, por causa do meu amigo Manuel. Há ligações estranhas que o pensamento estabelece, livre e descontrolado, e que não sabemos explicar. Nostalgia ou coincidência. Não sei. Mas foi por pensar muito no Manuel que a cabeça me levou até ao Hermínio. Acho que juntei na minha cabeça amigos, pessoas com quem me cruzei ao longo dos anos e com quem aprendi a ser mais amigo do meu amigo, mais atento, mais cúmplice.
Hoje lembrei-me do Manuel Hermínio Monteiro e fui à prateleira buscar o livro onde a Anabela juntou notáveis entrevistas que publicou no meu jornal. Fui à procura daquela entrevista ao Hermínio que me comoveu mais do que esperaria. Lembrei-me do Augusto a trazer as fotografias. Lembrei-me de ter visto o que talvez não quisesse ver. Parece que me vejo naquela sala, de pé, a ver o Hermínio fotografado pelo Augusto e a perceber o texto, todo o texto, da entrevista. O olhar brando da Anabela, à minha frente – tê-lo-ei imaginado ou foi mesmo assim? Deve ter sido.
Às tantas diz o Hermínio á Anabela: “Precisávamos de ter várias vidas, não é?, para acertar com uma. Esta é muito pequena”.