Faz bem
Estava na praia e disseram-me que era no Lourenço, às portas de Melides. Nem pestanejei: banho tomado, barba feita, às 7:40 de sábado lá estava sentado em frente ao televisor a pedir a travessa dos caracóis e as imperiais da ordem (ice tea para o António Maria). Duas travessas mais tarde, tínhamos ganho – coisa de que nunca duvidei, mas sou “scolariano”, tenho desculpa -, e eu interrogava-me, uma vez mais, sobre as propriedades do bicho. O bicho, neste caso, era o caracol. Uma vez alguém me disse que “fazia bem aos pulmões”. Desde aí nunca mais ninguém disse nada – era só mandar vir as travessas e comer. Mas nunca deixei de me interrogar sobre o assunto: fará bem? Mal? Coisa nenhuma? Mais vale tremoço?
Nem por acaso, volto à base depois de acalmar os nervos do jogo, dedico-me à leitura dos jornais do dia, e nas páginas do (cada vez melhor) “Fugas” do Público, Joana Ramos Simões dedica-se ao tema e esclarece-me: “rico em proteínas e pobre em gorduras, o caracol é um alimento com alto valor nutricional. (…) Ricos em cálcio. (…) Muito ricos em sais minerais e ferro. (…) Pode ser consumido por quem tem problemas de fígado, arteriosclerose, ou sofre de obesidade. O alto teor de ácidos polinsaturados (…) faz dele um alimento recomendado a quem tem o colesterol elevado”.
Foi verdadeiramente música para os meus ouvidos. É que, do ponto de vista psicológico, é diferente arrasar uma pratada de caracóis desconhecendo as consequências da selvajaria, ou fazê-lo com a plena consciência de que, como se não bastasse, “faz bem”. Ai não, que não faz.