José Sócrates considerou o “não” irlandês ao Tratado de Lisboa uma derrota – até mesmo pessoal, dado o empenho que teve no documento. Aqui do meu cantinho, tenho a tentação de dar os parabéns ao primeiro-ministro português. É verdade que perdeu e este resultado é um pauzinho na engrenagem da Europa decidida por meia-duzia. Mas, por outro lado, ganhou - na medida em que, ao impedir o referendo em Portugal, preveniu semelhante desastre no país que até tem Lisboa por capital. Acaba por ficar bem na fotografia. Portugal, uma vez mais, o bom aluno. A Irlanda, com aquele whisky maravilhoso e a cerveja encorpada, a estragar o arranjinho todo...
Bom, a democracia é efectivamente incómoda e frequentemente desmancha-prazeres. Imagino boa parte dos eurocratas encartados a interrogarem-se: “e não se pode exterminá-la?”.
Poder, pode. Mas lá está: depois as pessoas fazem coisas estranhas como revoluções e pancadaria da grossa. Não me parece uma ideia feliz. Mais vale aceitar os pequenos momentos perfeitos de um regime todo imperfeito.
Posso estar absolutamente errado, mas ao ouvir o porta-voz do movimento dos camionistas anunciar a suspensão da paralisação só me ocorreu uma daquelas curtas e deliciosas histórias que fazem do livro “Tertúlia de Mentirosos” um dos meus companheiros regulares de horas vagas:
“Nasreddin Hodjâ, a seu modo, escolheu entre sonho e realidade. O seu filho disse-lhe um dia:
- Esta noite sonhei que me davas cem dinares.
- Perfeito – disse-lhe o pai – Como és um rapaz muito sensato, podes guardar esses cem dinares. Compra o que quiseres”.
Há uma coisa que me parece óbvia: o povo tende a responder mimeticamente a quem o governa. O espelho não reflecte apenas a luz, mas também a sombra. Tal como sucedeu no último executivo de Cavaco Silva, parece que a história tem vontade de se repetir com José Sócrates: à arrogância, à prepotência e ao autismo político, o povo, neste caso “representado” pela classe dos camionistas e seus patrões, responde com arrogância, prepotência e autismo. Diria que estão bem uns para os outros, não se desse o caso de eu estar entre uns e outros. E de não me agradar uns e outros e os seus tiques autoritários.
“Dar-se ao respeito”, uma expressão antiga que infelizmente volta a fazer sentido, não é sinónimo de ser cego, surdo e mudo em simultâneo. Do mesmo modo, mostrar indignação não é fazer valer o poder da tonelagem sobre os direitos dos restantes cidadãos.
Esta é uma triste história de abuso de poder – e tanto abusa aquele que tudo faz em nome da chamada legitimidade democrática, como o que apenas pode hastear a bandeira da legítima revolta.
Estava na praia e disseram-me que era no Lourenço, às portas de Melides. Nem pestanejei: banho tomado, barba feita, às 7:40 de sábado lá estava sentado em frente ao televisor a pedir a travessa dos caracóis e as imperiais da ordem (ice tea para o António Maria). Duas travessas mais tarde, tínhamos ganho – coisa de que nunca duvidei, mas sou “scolariano”, tenho desculpa -, e eu interrogava-me, uma vez mais, sobre as propriedades do bicho. O bicho, neste caso, era o caracol. Uma vez alguém me disse que “fazia bem aos pulmões”. Desde aí nunca mais ninguém disse nada – era só mandar vir as travessas e comer. Mas nunca deixei de me interrogar sobre o assunto: fará bem? Mal? Coisa nenhuma? Mais vale tremoço?
Nem por acaso, volto à base depois de acalmar os nervos do jogo, dedico-me à leitura dos jornais do dia, e nas páginas do (cada vez melhor) “Fugas” do Público, Joana Ramos Simões dedica-se ao tema e esclarece-me: “rico em proteínas e pobre em gorduras, o caracol é um alimento com alto valor nutricional. (…) Ricos em cálcio. (…) Muito ricos em sais minerais e ferro. (…) Pode ser consumido por quem tem problemas de fígado, arteriosclerose, ou sofre de obesidade. O alto teor de ácidos polinsaturados (…) faz dele um alimento recomendado a quem tem o colesterol elevado”.
Foi verdadeiramente música para os meus ouvidos. É que, do ponto de vista psicológico, é diferente arrasar uma pratada de caracóis desconhecendo as consequências da selvajaria, ou fazê-lo com a plena consciência de que, como se não bastasse, “faz bem”. Ai não, que não faz.
(Primeira parte do post publicada ontem, 7 de Junho. Aqui vai então o que resta desse texto antigo...)
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O cravinho é um condimento indispensável em inúmeros pratos, mas que eu saiba não se mastiga nem engole. A folha de louro, óh querida folha de louro, sem ela o que seria do bife? Mas não se come o louro, não senhor. Então por que raio se come o alho? Eu sei que afasta os vampiros, é antiespasmódico, neutraliza gases, estimula a secreção de bílis, é digestivo, diurético, tonificante, expectorante. É bom para equilibrar as taxas de colesterol e triglicéridos; reduz a hipertensão, descongestiona as vias respiratórias. Até ajuda a eliminar toxinas. Sei mesmo que há quem goste de o trincar e se esteja nas tintas para quem o vai respirar a seguir. Mas eu não alinho nisso. Já paguei a factura. Do belo sabor que dá aos alimentos a trincá-lo vai a distância que me separa de qualquer humana depois de comer uma açorda. E eu não pago duas vezes a mesma conta, como é sabido e constitui tradição oriental. Além de que gosto muito de “humanas” depois de uma boa refeição...
O problema é que adoro açorda. Aprendi a fazê-la com o meu avô. Ele enchia o fundo de uma panela com azeite, sobre ele deitava alhos (lá está...), pão velho desfeito em bocados pequenos, e quando começava a levantar fritura despejava água e misturava tudo, pacientemente, em lume brando, com colher de pau, durante uns bons 10 minutos. No fim, um pouco de sal, coentros. Desligava o lume e misturava um ovo cru. Mexia com força, para o ovo ligar ao resto, e estava feita a açorda. Era deliciosa, sabia a alho, mas eu não comia alhos. Que fazia o meu avô Ma Na?
Foi recordando aquele homem forte e baixo, já careca, que pela tarde dentro adormecia numa cadeira de balanço lendo as páginas enormes de «O Século» (... e deixando cair no chão a beata de um eterno «Definitivos» ), foi rebuscando na memória a imagem dele na cozinha a preparar a açorda para mim e meu irmão - foi assim, de imagem em imagem, que repentinamente percebi o segredo. Tão simples, tão fácil. E no entanto...
O meu avô Ma Na era simples no pensar, simples no agir: escolhia gordos e grandes alhos “de uma só cabeça”, justamente nascidos na China, para que se vissem melhor entre a amálgama da açorda, descascava-os à mão, e colocava-os apenas cortados pela metade longitudional sobre o azeite quente. Eles deixavam escapar o inconfundível sabor para ao azeite, depois para o pão. Perfumavam toda a açorda. No fim, quando esperávamos, já sentados à mesa, pelo tacho, víamos o meu avô debruçado sobre a panela, alguns minutos, com uma colher de chá na mão. O que fazia ele? Um a um, tirava os alhos e deixava-os adormecer num prato. O que lhes fazia depois, ainda hoje não sei. O que sei é que a açorda tinha o sabor mas não tinha o que lhe dava sabor. E foi assim que, tendo perdido uma bela noite, ganhei sabedoria recordando os gestos de Ma Na na cozinha com vista para o Casino Lisboa. De imediato avisei o Miguel Ca e deixei recado ao Carlos Arturo. É improvável que esses dois mestres-cozinheiros voltem algum dia a Lisboa, agora que meu pai repousa em paz, e eles se fizeram à vida na China. Mas se algum dia espalharem a boa nova da açorda pelo Oriente, vão pelo menos pensar duas vezes antes de começaram a esmigalhar os alhos. «Nunca sabes com quem tens de falar depois do jantar, menos ainda beijar» – não é assim que o povo diz aqui em Lisboa, do Bairro Alto à Bica do Sapato?
Ao fim de semana, memórias. Este fim de semana, em duas partes...
... Durante os felizes meses que durou, algures no final dos anos 90 do século passado, a revista “A Preguiça”, dirigida por Miguel Esteves Cardoso e publicada como suplemento de “O Independente”, era a mais fina ementa do restaurante perfeito (aquele que mistura o melhor das tascas com o supra-sumo do mais elegante restaurante). Coincidiu a sua publicação com os meus primeiros passos dedicados na cozinha. Então, publicava regularmente as minhas receitas na revista – mas, para não as debitar simplesmente, inventei um personagem, o Pedro Mana, português de Macau mais chinês do que outra coisa qualquer. Depois inventei uma família à sua volta. Por fim, desejei que fosse abastado e tivesse cozinheiros e motoristas... Não correu mal. Não sei que é feito do Pedro Mana. Mas agora, a reler este texto, apeteceu-me fazê-lo renascer. Quem sabe, mais um blog um destes dias...
«Nunca devemos comer o que dá sabor à comida», dizia-me o velho Chau, motorista de meu pai, quando me queixei dos maus tratos a que tinha sido submetido aqui, em Lisboa, numa noite quente de Agosto, só por ter tido a ousadia de meter conversa com uma rapariga – ocidental, loura e angulosa, talvez mesmo nórdica, de grandes olhos azuis – depois de jantar uns peixes cujo nome desconheço, acompanhados por açorda. O problema, é bom de ver, não estava nos peixes, mas na puta da açorda - e perdoem-me a inconveniência, mas foi assim mesmo que a senti naquela época –, que tinha dado uma trabalheira ao cozinheiro, senão estou em erro o Miguel Ca, mas ao mesmo tempo deu cabo de uma bela noite de farra, como não ocorria habitualmente nas minhas passagens por Lisboa.
Meu pai nunca confiou nas cozinhas distantes. Quando vinha à capital do império, fazia-se acompanhar de um dos cozinheiros lá de casa, sempre o Miguel Ca ou o Carlos Arturo (este, de origem sul-americana), e convencia gerentes de hotéis e restaurantes a deixarem o nosso homem de confiança produzir os pratos, sempre a partir do que encontravam nas cozinhas onde abancávamos. O problema é que era impossível confeccionar a maior parte das receitas preferidas de meu pai. Faltavam sempre ingredientes: soja, crepes, cães tenros, macacos pendurados, chau-chau, «à pequim», roleta, gin tónico, dados de póquer, entre outros. À falta de melhor, lá marchavam uns peixes fritos quaisquer, acompanhados de uma açorda.
E a açorda é que arrumava com as minhas noites. O Ca (o Arturo menos, mas também) era rapaz para gastar duas horas a migar alhos, à mão, para fazer uma açorda. O seu trabalho era a nossa desgraça. Ficava saborosa, mas nós ficávamos intragáveis. O hálito sentia-se a uma distância considerável e não raro a manhã chegava e dava connosco (eu e meu irmão Mico Mana) numa sessão da «Ah-uh» (espécie de culto religioso clássico em Macau, que deve o seu nome ao Grande Mandarim Chôri So). A meu pai isso não fazia espécie, porque depois do passeio nocturno, a pé, pela Avenida da Liberdade, enfiava-se na cama da suite 789 do Tivoli e dormia tranquilamente até à hora a que Beatriz Costa gritava pelo seu leite meio-gordo com café de saco. Agora a mim, e ao Mico, que Deus tem, aquilo era pior do que óleo de fígado de bacalhau à colher.
Não descansei enquanto não descobri a fórmula mágica. Consultei livros de culinária, tratados de gastronomia, obras das «Selecções» sobre donas-de-casa e «Como Resolver Tudo Em Casa». Não obtive resposta sobre esta pergunta básica: como comer uma açorda com o sabor do alho, sem ter de comer o bicho propriamente dito?
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(Continua e conclui amanhã...)
Ao fim de semana, memórias. Este fim de semana, com a experiência do post em duas partes, dado o seu tamanho original...
... Durante os felizes meses que durou, algures no final dos anos 90 do século passado, a revista “A Preguiça”, dirigida por Miguel Esteves Cardoso e publicada como suplemento de “O Independente”, era a mais fina ementa do restaurante perfeito (aquele que mistura o melhor das tascas com o supra-sumo do mais elegante restaurante). Coincidiu a sua publicação com os meus primeiros passos dedicados na cozinha. Então, publicava regularmente as minhas receitas na revista – mas, para não as debitar simplesmente, inventei um personagem, o Pedro Mana, português de Macau mais chinês do que outra coisa qualquer. Depois inventei uma família à sua volta. Por fim, desejei que fosse abastado e tivesse cozinheiros e motoristas... Não correu mal. Não sei que é feito do Pedro Mana. Mas hoje, a reler este texto, apeteceu-me fazê-lo renascer. Quem sabe, mais um blog um destes dias...
Hoje lembrei-me do Manuel Hermínio Monteiro. Lembrei-me dos finais de tarde em que passava pela “K” e embirrava com os meus excessos alfacinhas. Ele não gostava que eu não gostasse de Trás-os-Montes. Eu não gostava de Trás-os-Montes porque, à época, era ainda um provocador da estirpe mais primária. Ele também provocava, mas com a serenidade que me faltava. Ríamos os dois com gosto.
Hoje lembrei-me do Manuel Hermínio Monteiro, por causa do meu amigo Manuel. Há ligações estranhas que o pensamento estabelece, livre e descontrolado, e que não sabemos explicar. Nostalgia ou coincidência. Não sei. Mas foi por pensar muito no Manuel que a cabeça me levou até ao Hermínio. Acho que juntei na minha cabeça amigos, pessoas com quem me cruzei ao longo dos anos e com quem aprendi a ser mais amigo do meu amigo, mais atento, mais cúmplice.
Hoje lembrei-me do Manuel Hermínio Monteiro e fui à prateleira buscar o livro onde a Anabela juntou notáveis entrevistas que publicou no meu jornal. Fui à procura daquela entrevista ao Hermínio que me comoveu mais do que esperaria. Lembrei-me do Augusto a trazer as fotografias. Lembrei-me de ter visto o que talvez não quisesse ver. Parece que me vejo naquela sala, de pé, a ver o Hermínio fotografado pelo Augusto e a perceber o texto, todo o texto, da entrevista. O olhar brando da Anabela, à minha frente – tê-lo-ei imaginado ou foi mesmo assim? Deve ter sido.
Às tantas diz o Hermínio á Anabela: “Precisávamos de ter várias vidas, não é?, para acertar com uma. Esta é muito pequena”.
Noticia que leio na edição online da “Briefing”, assinada por Carlos Martinho: “Pedro Lima substitui Paulo Sousa Costa na direcção da Mens Health”.
E depois diz assim: “O actor da novela da TVI «A Outra» é o novo director da «Mens Health», depois de Paulo Sousa Costa ter abandonado a revista por motivos pessoais. Actor e modelo, Pedro Lima começou ontem como director da Mens Health”.
Mais à frente: “O responsável (da editora da revista) explicou que a escolha de Pedro Lima tem também como pano de fundo a notoriedade que o actor tem no mercado da televisão, do cinema e da moda, e que por isso poderá «trazer inputs sobre novos artigos para a revista». Há ainda um momento em que Pedro Lima fala: «Nas conversas que tive com a Motorpress eles aperceberam-se que a minha actividade principal será a de actor», explicou. «O cargo de director é uma questão formal, quero reunir-me com outras pessoas que percebam mais que eu destas áreas», continuou, acrescentando que ainda não conhece a equipa redactorial mas que quer dar um «cunho pessoal» à revista”.
Se ainda restassem duvidas, esta notícia remata bem qualquer teoria que queiramos ter sobre o estado a que chegou o jornalismo e a imprensa em Portugal. Aguardo o convite à Floribela para dirigir a Vogue, e José Manuel Fernandes que se cuide, pois consta que a nova direcção do Público integrará Pimpinha Jardim, Rodrigo Menezes e um elemento sénior: Fátima Lopes.
Ora bem, voltemos então à Bimby. Já expliquei aqui a minha relação com a máquina e como se tornou uma amiga indispensável. Hoje deixo uma dica para quem a quiser apanhar.
É que, nesta receita, quando me apetece ter apenas o creme de legumes sem mais nada, misturo no início duas fatias finas de um pimento. A sopa ganha um ligeiro travo oriental que a torna mais sofisticada. E faz toda a diferença.
Aliás, um creme na Bimby tem o seu segredo assente nesta lógica: no copo, legumes cortados em bocados (misturo de tudo, cenouras, feijão verde, tomate, alface, alho francês, enfim, o que houver...), meia cebola partida em bocados, um alho descascado e partido, um caldo de legumes, uma pitada de sal. Quando estiverem todos dentro do copo, encher de água até cobrir os ingredientes.
20 minutos, temperatura 100, velocidade 1.
Aí chegados, 10 gramas de azeite e mais 4 minutos, mesma temperatura e velocidade.
Aí chegados, 40 segundos na velocidade 7.
Está o creme perfeito.
Fica ainda melhor com uma colher de natas frescas a enfeitar, ou uns quadradinhos de presunto, ou mesmo umas folhas misturadas e partidas de salsa e manjericão. Ou tudo junto.
Um pouco mais de sal, se for caso disso, conforme o “cliente”. O meu filho é "sem sal" por defeito. Eu carrego um pouco. Na dúvida, menos...
NOTA - Ao fim de seis meses, tinha da haver uma primeira vez: apaguei um comentário rasca, ordinário e acima de tudo irrelevante. Como se não bastasse, cheio de erros de português...
Agora que o Grupo Leya apresentou uma alternativa às incómodas barraquinhas clássicas da Feira do Livro, e à própria organização do espaço, percebi por que motivo elas resistem aos anos. É porque funcionam. Já fui duas vezes à Feira do Livro, e em ambas as visitas pude demorar-me nos stands do costume – enquanto na “Praça Leya” senti a claustrofobia e o desconforto do espaço apertado, do excesso de degraus, do excesso de pessoas com t-shirts vermelhas, da fila para pagar (desisti logo de pensar em comprar o que quer que fosse...), dos alarmes instalados à saída, da ausência de livros mais antigos. O culto do “user friendly”, tão na moda em todas as frentes da comunicação, foi ali liminarmente ignorado. Pode ser que seja apenas um começo e, em anos próximos, o conceito melhore. Mas, para começo de conversa, nada de bom a dizer.
... Nas barracas clássicas lá acabei por comprar alguns livros. Não tanto por os procurar, mas afinal por poder encontrá-los...
O “Rock In Rio”, que nasceu no Brasil como um Festival de Música herdeiro dos mais autênticos encontros da História (a começar no mítico Woodstock), é hoje uma versão capitalista da “Festa do Avante!”. Como no evento do PCP, há milhares de razões para concentrar no mesmo espaço tanta gente – mas a música é apenas uma delas. E à componente politica do PC, o “RiR” respondeu com a obsessão ambiental. Foi isso que senti, na sexta-feira, no Parque da Bela Vista. É verdade que estavam lá 90 mil fregueses, e que os nomes de Amy Winehouse e Lenny Kravitz não eram alheios à convocatória – mas a clientela dedicada à cerveja, ao namoro, ao merchandising oferecido pelas marcas, à conversa, à palhaçada, à comida, às compras ou, simplesmente, a passear, competia generosamente com os espectadores dos diversos palcos. E o excesso de mensagem ecológica chegava a convocar a revolta... Bom: gostei de andar por ali num ambiente bem organizado e devidamente pensado, estruturado, que inspira, apesar da multidão, confiança e segurança. Mas não deixei de pensar no paradoxo: aquele conceito foi “inventado” na Europa pelos comunistas. Mas a “Festa do Avante!” tornou-se, evidentemente, o “Rock in Rio” dos pobrezinhos...
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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