Há uns anos, em Londres, no clássico Nobu, encontrei-me pela primeira vez com a “coisa”. Este fim-de-semana quis o destino que, noutro restaurante, reencontrasse o velho amigo. E uma vez mais foi certeira a frase “esqueçam tudo o que associam à palavra bacalhau”: este “Baked black cod fillet with kinome miso & mirin glaze”, tão bom ou melhor do que o do Nobu, levou-me ao céu e fez-me perceber, uma vez mais, como a vida é simples – ou antes, como podemos ser felizes com apenas bocadinhos de coisas muito boas. Não precisamos de tudo, ao contrário do que passam a vida a impingir-nos.
Estou ainda a planar com aquele sabor suave, doce, ligeiramente melado, que se desfaz na textura de um bacalhau vagamente grelhado. E que se fazia acompanhar por um sake “Sawayaka, Nama Honjozo”, que jamais houvera provado – e se algum o tivesse conhecido, tê-lo-ia por perto nos melhores momentos da vida para todo o sempre...
Um momento aparentemente simples, um travo doce de felicidade. Só isso, tudo isso.
"A fé é tão simples, tão simples quando o coração acorda e se lembra que a Vida, no bom e no mau, é uma dádiva infinitamente generosa. Não é o Pai e a Mãe terem morrido que nos deixa tristes, é termos tido o privilégio de termos tido o Pai e a Mãe que nos deixa felizes"
"É misteriosa esta coisa de serem contingentes, passageiros os problemas e paixões do nosso tempo e vivermo-los como se fossem únicos, definitivos, absolutos para o passado e para o futuro".
... por isso confesso que nos últimos dias, em tomas diárias, choro a rir consecutiva e militantemente com este sketch que, até prova em contrário, não apenas garante que o Gato Fedorento está vivo como, lá vai um clássico da literatura portuguesa, "recomenda-se".
Por mim, está justificado o alarido sobre a série Zé Carlos: só estes 3 minutos valem qualquer descuido pontual. Ou seja, o cachet dos artistas está plenamente justificado. E não há Sócrates que proporcione momento que se lhe compare, mesmo que se esforce - e esforça-se, como sabemos...
E o meu texto é o mesmo, devidamente editado apenas para ser actual:
Se eu fosse cidadão norte-americano, teria votado também Obama. Não porque o espectáculo montado pelo candidato me convença, ou porque acredite sinceramente que vai resolver os problemas económicos, sociais e políticos dos Estados Unidos – e com isso contribuir para o equilíbrio da economia e do bem-estar globais -, ou sequer porque veja nele algo de verdadeiramente inovador. Mas apenas porque representa um plano de corte na sequência do filme. E fazem falta estes planos para que não percamos de vez o interesse na fita e algum crédito no futuro.
Talvez por isso, fico sempre espantado com os entusiasmos infantis que este tipo de eleições provocam – como se estivéssemos perante um “sim ou sopas” entre continuidade e rotura. Não estamos. Obama é muito menos “alternativo” do que a esquerda europeia pretende que seja – e será certamente uma desilusão para a esquerda hippie-chique que delira com a figura. Obama, antes de ser pessoa, é um quadro electrónico, encenado, teatralizado, construído pelos democratas para vencer muitos anos de poder republicano. Só isso – e jamais “tudo isso”. Ninguém em rigor sabe onde começam e acabam a convicção e as ideias – sendo certo que todos podemos ver onde começa e acaba o marketing eleitoral.
O que a televisão me mostra é um aquário onde nadam de um lado para o outro todas as técnicas da comunicação, todos os artifícios do marketing político, e um sem-número de recursos que o maravilhoso mundo da tecnologia coloca ao dispor dos partidos.
Quando acordarmos deste fogo-de-artifício, o que restará com Obama (e ainda bem que foi com ele) será a mesmíssima América que se agiganta aos nossos olhos com um ar perdido no “subprime” e noutros “primes” que nos escapam de momento. Em vez de balas de chumbo, balas de borracha. Em vez de braço de ferro, poker de dados. Em vez de liberalismo selvagem, liberalismo próximo de.
Temo que não tarde a desilusão. Porque nos EUA, como aqui, cada vez são mais rápidos os ciclos que nos levam do entusiasmo ao desencanto. Da esperança à derrocada. É esta convicção que me leva a pensar nisto: mesmo que todo o ocidente tivesse direito de voto nestes momentos norte-americanos, nem isso mudava o implacável ciclo da miséria humana. Mais do mesmo, ainda que desta vez possa demorar um pouco mais de tempo até que o mesmo seja mais dele próprio.
Se eu fosse cidadão norte-americano, votaria Obama. Não porque o espectáculo montado pelo candidato me convença, ou porque acredite sinceramente que vai resolver os problemas económicos, sociais e políticos dos Estados Unidos – e com isso contribuir para o equilíbrio da economia e do bem-estar globais -, ou sequer porque veja nele algo de verdadeiramente inovador. Mas apenas porque representa um plano de corte na sequência do filme. E fazem falta estes planos para que não percamos de vez o interesse na fita e algum crédito no futuro.
Talvez por isso, fico sempre espantado com os entusiasmos infantis que este tipo de eleições provocam – como se estivéssemos perante um “sim ou sopas” entre continuidade e rotura. Não estamos. Obama é muito menos “alternativo” do que a esquerda europeia pretende que seja – e será certamente uma desilusão para a esquerda hippie-chique que delira com a figura. Obama, antes de ser pessoa, é um quadro electrónico, encenado, teatralizado, construído pelos democratas para vencer muitos anos de poder republicano. Só isso – e jamais “tudo isso”. Ninguém em rigor sabe onde começam e acabam a convicção e as ideias – sendo certo que todos podemos ver onde começa e acaba o marketing eleitoral.
O que a televisão me mostra é um aquário onde nadam de um lado para o outro todas as técnicas da comunicação, todos os artifícios do marketing político, e um sem-número de recursos que o maravilhoso mundo da tecnologia coloca ao dispor dos partidos.
Quando acordarmos deste fogo-de-artifício, o que restará com Obama (espero que seja com ele, claro, e muito, apesar de tudo...) será a mesmíssima América que se agiganta aos nossos olhos com um ar perdido no “subprime” e noutros “primes” que nos escapam de momento. Em vez de balas de chumbo, balas de borracha. Em vez de braço de ferro, poker de dados. Em vez de liberalismo selvagem, liberalismo próximo de.
Temo que não tarde a desilusão. Porque nos EUA, como aqui, cada vez são mais rápidos os ciclos que nos levam do entusiasmo ao desencanto. Da esperança à derrocada. É esta convicção que me leva a pensar nisto: mesmo que todo o ocidente tivesse direito de voto nestes momentos norte-americanos, nem isso mudava o implacável ciclo da miséria humana. Mais do mesmo, ainda que desta vez possa demorar um pouco mais de tempo até que o mesmo seja mais dele próprio.
Tenho saudades do cabrito assado no forno em casa da minha mãe, mas éramos mais à mesa
Também não vou há tempos ao buffet da Doca do Espanhol
Lembro-me dos dias em que acordei em Londres submerso em jornais comprados na véspera à meia-noite, ou ía tomar o pequeno-almoço com eles virgens à minha espera. Quero voltar...
Não esqueço o brunch em Milão num jardim lindo de um palacete que também era discoteca durante a noite
Gosto quando há cozido galego no espanhol da Calçada da Ajuda
Lembro-me de acordar na Boavista e do cheiro a torradas e café (de quem se levantava antes de mim)
As panquecas da Mexicana
Há uns dias em que não descanso enquanto não encontro um Cozido às 3 da tarde
Penso naquela manhã no Vascão em que a neblina persistia em separar o Guadiana das margens, mas a paisagem deslumbrava e o frio acordava todas as terminações nervosas do corpo. Depois abriu
Faz-me falta a edição completa do The Observer
Volto a um domingo de Páscoa com os ovos e os doces e guloseimas escondidos pelo terreno, molhados pelo orvalho, e o meu filho a delirar atrás dos rastos de um coelhinho de ocasião
Compro o El Mundo por causa do Magazine
E quero estar em lugares...
O chá de menta a perfumar o ar no deserto de Marrocos, ao nascer do dia
Acordo (mesmo) tarde em Barcelona e abanco no balcão da “Ciudad Condal” (ou da “Cervejaria Catalana”) e fico a pastelar entre cerveja e tapas de mil sabores
Em Salzburgo, um mercado matinal onde se provam salsichas até ao ponto em que apetece começar a provar águas das pedras. Mas é tão bom...
Em Melides, no café do largo, a ler jornais e ver a aldeia acordar ressacada depois de uma noite de “poesia & acordeão”
Em qualquer lado onde cheire a madeira queimada na lareira e esse cheiro aqueça o cheiro do frio.No campo
Leio a revista do Expresso que sobra sempre do dia anterior
Penso se mantenho ou não o hábito do frango de churrasco ao jantar, a ver o Marcelo e depois o Zé Carlos
Controlo o estado dos vasos de manjericão
Tudo isto ao domingo
... E a seguir recomeça tudo com a crónica da rádio para segunda-feira
E os projectos que continuo a juntar nos cadernos de capa preta.
E é segunda-feira outra vez.
(Como dizia o leitor Júlio num comentário recente: e o que é que os outros têm a ver com isto? Nada. Justamente nada. Excepto quem quer. E quem eu quero)
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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