No livro da Mónica
As notas para apresentar o livro “Transa Atlântica”, da Mónica Marques, incluíam itens assim, soltos, seguidos, para falar e desenvolver em cima deles. Um improviso organizado, como faço sempre (aprendi cedo que o melhor improviso é aquele que previamente se escreve...). Um guião, é disso que se trata. No caso, este:
- É sobre a língua portuguesa e a língua portuguesa que se fala no Brasil. É um livro mestiço, misturado, no mais sensual que isso pode ter e ser. Tem jeitinho brasileiro, é arredondado, mas é claramente de uma portuguesa.
- É um texto sensual, melhor palavra para definir o livro: sensual
- É um texto muito igual à nossa vida: esconde sentimentos por detrás de gestos bruscos, mostra-se rude apesar da inocência e do carinho. Vive entre a luz e a sombra – é um retrato do nosso tempo.
- É o primeiro livro de uma romancista no que isso tem de mais rico: primeiro olhar, impulso, abismo, sedução, pulsão.
- Ela namora e seduz o leitor – e fá-lo com desarmante simplicidade. - Ela enrosca-se nos factos que vai descrevendo - daí resulta que cada passo do livro nos pode deixar a pensar ou seguir em frente. Tb tem qq coisa de brasileiro...
- É possível ler de rajada – lê-se depressa. Ou ir saboreando. Devagar. Obrigando-nos a pensar.
- É um livro de aforismos, tem qq coisa de manual de instruções... - - - Dá vontade de voltar
- Um livro parecido com as pessoas nas nossas vidas segundo uma amiga minha: ela dizia que as pessoas que passam pela nossa vida deixam-nos presentes. Os presentes ficam cá dentro, embrulhados. Uns são bons, outros não. Mas de vez em quando um desses presentes abre-se.
Quando nos confrontamos com os nossos medos, dramas, alegrias, traumas, enfim, qdo nos confrontamos...
- Este livro tem presentes lá dentro. Essa é a originalidade, esse é o talento da Mónica, saber trabalhar estas ideias, estas peças do puzzle – e talvez nós sejamos isso, uma espécie de peças de Lego sempre a serem mexidas, construídas, destruídas, renascidas. Talvez sejam assim as mulheres de 40, os homens de 40.
... E não me correu mal. Até falei do Júlio Isidro, mas isso agora não interessa nada.
Vi a Mónica feliz e depois vinguei-me nas caipiroskas. Fechei a noite entre amigos num bar de sempre. Que bom.