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Pedro Rolo Duarte

31
Jan09

Sol e sombra

Quem quisesse, nesta fase da “campanha”, fazer um estudo interessante sobre a evolução do jornalismo e da comunicação nas últimas décadas, bastaria que comparasse o impacto nas vendas, audiências, e mesmo na notoriedade, dos jornais “O Independente”, na década de 80, e “Sol”, na actualidade.

A verdade é dura: nos anos 80, para acompanhar as manchetes cheias de sangue e pólvora de “O Independente”, a manhã de sexta-feira tinha um corropio de compradores e muita conversa nas bancas de jornais; em 2009, tudo se sabe na véspera, na internet, e em qualquer parte. Resultado: não é preciso comprar o “Sol”, e nem por isso deixamos de saber “o importante” sobre o caso Freeport. Na quinta-feira, o “Público” resumia as matérias da “Visão” e da “Sábado” e na véspera as televisões já tinham revelado as headlines de ambas.

A informação circula em circuitos tão rápidos e abertos que qualquer pessoa pode saber o essencial de toda a imprensa sem ter de gastar dinheiro ou fazer o mais pequeno esforço. Entre a televisão, os jornais e portais na net, os blogues, a rádio, os temas morrem antes mesmo dos jornais chegarem à banca.

Isso explica que, nesses idos de 80, o “Caso Cadilhe” – uma irrelevância transformada em escândalo... – tenha feito subir as vendas de “O Independente” do vermelho até ao verde nas contas de um ano, enquanto o Freeport dá notoriedade ao “Sol” mas não é exponencial no sucesso comercial do semanário, que parece cada vez mais tremido. Tudo mudou.

Isso convoca também a reflexão que alguns distraídos não estão a fazer: a sobrevivência da imprensa paga passa cada vez menos pelo jornalismo heavy-metal da notícia pura e dura (que ainda vai dando notoriedade, mas em breve será asfixiada pela própria ideia de concorrência e confusão entre marcas, como já sucede quando as televisões se citam mutuamente sem efeito nas suas audiências). O caminho, a ser salvaguardado ou prevenido, passa necessariamente pela mais-valia dos autores, de quem escreve, de como se escreve, se desenha, se fotografa, da criatividade, da capacidade de criar empatia e relação emocional com o leitor – ou seja, pelo trabalho aprofundado e consistente que justifica e explica o preço de capa. Um jornal é cada vez mais a soma dos seus “escritores” (entre aspas, porque debaixo deste chapéu estão jornalistas, cronistas, autores, designers, ilustradores, fotógrafos), e a marca que eles imprimem na credibilidade da marca que lhes dá guarida. O caminho é este.

Quem quiser continuar a pensar no jornalismo à antiga, com muitas notícias e pouca escolha, com mil títulos e muitas cores, com todos à uma e a esperança vaga de que um escândalo salve a honra das contas anuais, pode fazer contas à vida: só vai ter lugar nos semáforos. De borla.

29
Jan09

E se fosse comigo?

Muito bem: estamos, uma vez mais, a fazer na praça pública um julgamento. Neste caso, é o de José Sócrates – sendo certo que, neste momento, nem arguido é.

Independentemente do que possa por aí vir, quando assisto a este tipo de momentos, e dado o “defeito profissional”, faço sempre o exercício seguinte: e se fosse comigo? E se fosse comigo e eu estivesse absolutamente inocente?

Admitir esta hipótese e imaginar o que sentiria contribui definitivamente para ser incapaz de fazer julgamentos prévios, e por conseguinte garante um olhar, pelo menos, sereno sobre o cenário de “guerra”. Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti – o povo tem razão nestes sábios provérbios, mesmo que também faça sentido o que hoje é convocado por José Manuel Fernandes: “à mulher de César não basta ser séria, tem de parecer séria”...

Pois tem. Mas a quem faz notícias sobre a mulher de César pede-se igualmente seriedade. E o mesmo exercício: e se fosse comigo? E se fosse comigo e estivesse inocente?

27
Jan09

Perdido em Oeiras

Dei comigo a procurar um lugar para comer qualquer coisa, ao almoço, mais fast menos fast food, mais junk menos junk, rapidamente, no centro comercial Oeiras Parque. Calhou estar por ali. Tinham-me dito que a probabilidade de encontrar amigos, conhecidos, amigos de amigos, era enorme porque, cito, “Lisboa está tão cara que toda a gente está a trabalhar por aqui”.

Achei a ideia exagerada e não liguei.

Mas depois de encontrar uma ex-colega do Marquês de Pombal que mora no Bairro de São Miguel, uma conhecida de sempre que encontro na “Mexicana” ao sábado, um fotógrafo que invariavelmente estava em Lisboa, um conhecido dos meus tempos da Torre 3 das Amoreiras e ainda, como se não bastasse, uma amiga perdida dos tempos do Liceu de Camões... bom, eu dei razão a quem me tinha avisado.

E passei o resto da tarde a pensar nisto: será que todas as pessoas de quem sou amigo, e raras vezes encontro, andam perdidas em corredores do Oeiras Parque ou de outros Parques da mesma natureza? Faço mal em frequentar ainda as Amoreiras, o Corte Inglês, o Saldanha Residence, o Chiado e o generoso lote de “Pingo’s Doce” da cidade?

Fiquei baralhado. Mas também fiquei um pouco triste.

26
Jan09

Malformações do Estado

Mais logo, no rádio, faço do post de José Mendonça da Cruz o centro da minha crónica – não porque algo me aproxime ou afaste do caso, mas porque da leitura de fim-de-semana de muitos blogues e jornais me ficou sempre a ideia de trica. Trica entre direita e esquerda. Trica pré-eleitoral. Trica contra ou a favor do “Sol”. Trica que o “Sol” aproveita para misturar e confundir com o falhanço do seu projecto de jornal. Cobrança devida ou indevida de cobertura mediática, sob o formato de trica. Trica baixinha, tipo “estava-se mesmo a ver” ou “eu bem tinha dito...”. Conversa de porteira, portanto.

O post do José Mendonça da Cruz tem opinião e informação, e centra-se no verdadeiro olho do furacão: enquanto os Governos entenderem que devem criar regimes de excepção para obviar as malformações e negligências do Estado, tudo está errado no regime.

Do Partido Socialista, no qual votei, esperaria justamente a correcção deste desvio estrutural da administração pública. Pois o caso do Freeport demonstra exactamente o contrário. O PS faz parte do problema, já que não o extinguiu. É por isso que logo no rádio, e agora aqui, eu faço minhas as palavras do blogger do Risco Contínuo. Que escreve assim:

“O projecto Freeport é um projecto PIN, uma invenção socialista que dá pelo nome de Projecto de Potencial Interesse Nacional e está hoje consagrada no Decreto-Lei nº 285, de 17 de Agosto de 2007, que podem ler aqui. Os PIN têm a fundamentação aparentemente razoável de tornar mais expedita a aprovação de grandes investimentos que beneficiem o país. Ao contrário, parecem-me uma confissão de incompetência e incapacidade para reformar a administração pública, a negação do mercado em favor do negócio de favor, e um convite à corrupção.

São uma confissão de incompetência, porque onde a máquina administrativa funciona com normal celeridade e transparência, não é necessário abrir vias rápidas à sombra do governo para uns investimentos em especial.

São uma negação do mercado em favor do negócio de favor, porque o que um Estado que tem tal lei está na verdade a anunciar é isto: os nossos regulamentos são incertos, a nossa burocracia é paralisante, antes de investir venha falar comigo (e o Decreto-Lei diz os membros do governo com quem se fala). Anuncia, tristemente, ainda mais: venha falar comigo só se tiver dinheiro que chegue; pequenos e médios empresários, abstenham-se. E é natural que os socialistas - que abominam o mercado e a liberdade que ele dá, mas gostam de negócios de corredor e de como lhes dão poder - se revejam nesta lei.

Os PIN são, finalmente, um convite à corrupção, porque grandes investimentos ficam - em vez de dependentes de leis em curso, gerais e para todos, transparentemente - esses investimentos ficam antes dependentes de uma comissão que avalia subjectivamente se o projecto preenche os 6 requisitos enunciados no artigo 2º: investimento superior a 200 milhões de euros (ou a 60 milhões se for inovador e tiver conteúdo tecnológico); utilização de tecnologias e práticas eco-eficientes; promoção de eficiência e racionalização energética; integração nas prioridades de desenvolvimento; comprovada viabilidade económica; comprovada idoneidade e credibilidade do promotor do projecto.

Como bem se vê, qualquer interpretação destes requisitos pode estar mais para cá ou mais para lá. Uma boa maneira de aferir isto mesmo é (por exemplo, lembrei-me agora mesmo, por acaso) interpretar à luz dos 6 requisitos as virtudes do tal Outlet gigante”.

24
Jan09

No Coliseu com Mafalda Veiga

A imprensa “de referência” não lhe dá atenção porque é uma compositora mainstream e uma cantora verdadeiramente pop. A imprensa “popular” não lhe dá atenção porque sendo embora mainstream, não constitui o protótipo da artista popular. Entalada entre preconceitos e tabus idiotas, Mafalda Veiga tinha tudo para dar errado.

Mas deu certo. Construiu uma carreira sólida ao longo de 22 anos, tem um público fiel e dedicado, e sobreviveu à tentação de se deixar sufocar por esta atmosfera cheia de rótulos e capelinhas e grupetas. Os discos são bem pensados, melhor produzidos, e há uma coerência nas canções que faz dela uma autêntica songwriter. O seu elo mais fraco – as letras, por serem repetitivas e frequentemente agarradas às mesmas ideias, frases, conceitos – não interfere no conjunto, porque esse conjunto é consistente, rico e melodicamente equilibrado. Eu gosto muito da música da Mafalda Veiga e impressiona-me o ostracismo para o qual parece fadada.

Felizmente, a imprensa já teve os seus dias no que à influência diz respeito. Quem ontem tivesse ido ao Coliseu percebia isso mesmo: a sala estava cheia como um ovo, e Mafalda fez um brilhante espectáculo compacto de duas horas para um publico que progressivamente se entregou até à rendição. Certamente o mesmo que hoje volta a suceder em mais um Coliseu esgotado.

Eu estive lá. Vi uma construção cénica simples mas de uma eficácia brutal: vídeo, luz (simplesmente extraordinária!), cenografia e sequência musical combinadas na perfeição, criando momentos de energia seguidos de momentos de contenção e emoção, implacáveis no rigor e na capacidade de agarrar o público. Vi uma cantora perfeita, sem falhas mas também sem que lhe faltasse sentimento, entregue à sua paixão, acompanhada por um conjunto de músicos competentes, rigorosos, empenhados. Vi uma plateia rendida, cúmplice, que puxava pela cantora e por ela se deixava levar. Vi e vivi, em resumo, um momento único de boa música, uma noite que me encheu as medidas, que me comoveu, me animou, me motivou. Ao meu lado, o meu filho – que foi quem, realmente, me convidou... – estava igualmente impressionado e rendido: “ela canta mesmo bem”, disse ele.

Saí do Coliseu a pensar, uma vez mais, neste estranho desfasamento entre o que é público e o que é publicado. E sem resposta para tamanho equívoco, deixei-me ir a cantarolar baixinho: “abraça-me bem...”

22
Jan09

“Às vezes só me faltava eu”

Quem escreve passa a vida a procurar razões para a escrita, lógicas para este impulso, e argumentos que expliquem por que raio, em vez de dormir ou ler, em vez de ver um filme ou dançar, nos sentamos a escrever. Qualquer pessoa que faz da escrita modo de vida sabe que o mais fácil é complicar, elaborar, encontrar razões dentro e fora da razão. O meu pai passou-me uma frase que o guiou nos 56 anos que viveu: “difícil, meu filho, é escrever pouco”.

Se ele aqui estivesse, eu agora respondia-lhe: “pouco, meu pai, só sei escrever quando estou muito inspirado. No resto dos dias, limito-me a escrever”.

Mas na verdade o que eu muitas vezes queria era também perceber porquê.

Hoje fui ajudado. No dia em que o seu blog fez um ano de vida, Patti aproveitou para perceber a lógica dos seus impulsos, a razão da sua escrita:

“Escrever não será nada mais que isto. A forma que sem saber, encontrei de estar mais tempo comigo. Às vezes só me faltava eu”.

Vou juntar esta ideia às que fazem companhia à frase inicial do meu pai. Gosto de coleccionar pensamentos bons.

21
Jan09

O dia repetido

Foi o dia da overdose Obama. Foi o dia da repetição sistemática das imagens, dos pontos fortes, dos resumos, das frases de rodapé. Foi o dia do coro de vozes, das “notas importantes”, da variedade de gente que comenta, e do à-vontade com que todos dizem “O Obama” ou “O Bush”, como se fossem muito lá de casa. Foi o dia da overdose – e por causa disso, tudo redundou num único registo, uma espécie de campo e contra-campo que se anulam simultânea e mutuamente. Planos cruzados que nos fazem perder o ponto de referência. Como se fosse sempre o mesmo spot. E cada momento apaga o momento anterior, e cada ruído abafa o ruído anterior, e cada palavra faz esquecer a que foi dita – e como todos se repetem sucessivamente, todos se anulam e abafam. E assim desaparecem.

À medida que o dia passa verifico que as imagens “decisivas”, os momentos marcantes e únicos, tornaram-se progressivamente mais próximos de uma única massa informe, espécie de plasticina movediça e sem relevo. Como se tivesse assistido, em directo, ao picar da carne, até ficar feita em papa.

Daqui a pouco começam a rodar os jornais de amanhã e suspeito que vem mais um bocado de ruído para cima do ruído com que, neste instante, me retiro. Estou cansado do cansaço que me impuseram. Estou farto até do que ainda não aconteceu. E apesar de me ter rendido ao talento de Obama, não suporto mais uma única imagem repetida deste dia. Um dia repetido à exaustão. Para lá da exaustão.

Fui.

19
Jan09

A crise e a cura

Quando comecei a trabalhar em jornais a palavra “crise” fazia parte do código genético e do livro de estilo de todos os meios. Não havia a ideia de crise como período transitório, havia a convicção de que imprensa rimava com crise e a condição natural de um jornal era a pobreza, as piores condições de trabalho, e sempre a um passo do abismo.

Foi por conseguinte uma verdadeira revolução o dia em que surgiu “O Independente”. Era o primeiro jornal que eu via nascer onde a palavra crise era substituída sem medo, e até com alguma vaidade, pela palavra oportunidade. “O Independente” nascia para aproveitar uma oportunidade, e ía ganhar dinheiro – por isso pagava bem aos jornalistas, tinha os primeiros computadores portáteis da imprensa portuguesa, e uma redacção com mesas novas e cadeiras forradas a azul, que era a cor do jornal...

Depois de O Independente, voltei a ouvir rimar imprensa com prosperidade em mais alguns momentos, poucos, mas o exemplo do jornal do Paulo e do Miguel serve-me para algo que sempre me inquietou neste negócio: por que raio os empresários, os publishers, os editores, nos momentos de aperto recorrem às saídas mais fáceis – despedimentos, cortes, encolhas na qualidade dos produtos -, em vez de pararem para pensar e perceberem como é que vão reconquistar leitores, anunciantes, investimentos? Ou seja, quando é que a crise deixará de ser vista como doença, mas antes como oportunidade para a cura?

Despedir reduz custos, mas não recupera leitores nem anunciantes. Alinhar com a crise maquilha resultados – mas adia a cura, em vez de tratar de vez da doença.

Õ que “O Independente” me ensinou, nesse tempo, foi apenas isto: mais um jornal no mercado só é um jornal a mais se não for previamente pensado e concebido para satisfazer um publico que o espera, mesmo quando não sabe que o espera. Da mesma forma, numa crise económica, salva-se o jornal que se repensar e refizer – não aquele que se encolher e mostrar medo, ou aquele que alinhar na crise e mergulhar nela de cabeça.

A cabeça é mais para pensar.

16
Jan09

Medos

A revista Sábado pediu-me uma lista de dez medos. Nunca tinha tentado tal exercício. Ficou assim:
 
1. Perder a voz

Querer falar e não poder. De vez em quando sonho com esse buraco negro que é ligar um microfone em rádio ou televisão e a voz não “sair”.

 
2. Ser enganado

A vida profissional tem-me mostrado com frequência que devemos confiar menos e desconfiar mais. Apesar dos avisos e dos sinais, eu persisto e confio. Mas tenho medo...

 
3. Alturas

É a única fobia que me conheço: a vertigem das alturas, a falta de corrimão ou barreira que me segure em relação ao abismo.

 
4. A invalidez

Por todos os motivos: a dependência, a insuficiência, a vida reduzida a menos vida.

 
5. Aterragens

Há sempre um momento em que me interrogo: estará a descer ou a cair?

 
6. “Penduranços”

O convidado que se “corta” e não aparece. A desistência de ultima hora. O atraso que impede a realização. É um dos meus medos curriculares. Não será o medo essencial desta rubrica?

 
7. Pessoas sem princípios

Tenho mais medo de algumas pessoas e das suas tentações prepotentes, arrogantes e mal-criadas do que da esmagadora maioria dos animais selvagens (excepto cobras...).

 
8. Cigarros

Agora que sinto que me libertei deles (já lá vão 3 anos...), tenho-lhes um medinho...

 
9. Perder o sentido de humor

Seria terrível. E mortal. Sem humor deve ser tão triste viver.

 
10. Não estar cá para ver

Como vai ser. Como vamos estar. Para onde caminhamos. Que futuro vem a ser este presente.

14
Jan09

Adeus, Polaroid

Aí está mais uma vítima da modernidade: a Polaroid morre neste ano de 2009. Com o fecho das fábricas que produziam os filmes instantâneos, depois de já encerrada a produção de máquinas, em breve a Polaroid passará para o domínio da memória e da saudade. Diremos "eu ainda sou do tempo da Polaroid". Abriremos caixas antigas onde dormem, serenas, as fotografias tiradas ao longo dos anos, e vamos mostrá-las como hoje mostramos aqueles cubos de flash descartável que atarraxávamos às máquinas fotográficas, ou os discos de 78 rotações.

Fui um cliente tardio da Polaroid – a minha primeira máquina foi-me oferecida nos tempos da revista “K”. Havia muitas máquinas na redacção, e o Miguel era um militante e tirava milhares de fotografias. Eu tirava poucas, porque me intimidava aquele ruído definitivo da máquina quando vomitava o rectângulo de cartolina. Era uma espécie de arte final – sendo afinal um eterno rascunho. Esta dupla condição baralhava-me – mas ao mesmo tempo fascinava. Foi assim que me aproximei da Polaroid – e a ela me rendi aos poucos.

Mais tarde, no DNA, suplemento que dirigi no DN, criei uma secção que se chamava "Noticias do Meu Diário". Todas as semanas emprestávamos a uma figura pública uma máquina Polaroid e um filme e pedíamos um retrato da semana através de sete Polaroids, uma para cada dia, com as respectivas legendas.

O registo fazia sentido por ser imediato, sem intermediários nem cópias. Cada imagem era única, cada momento irrepetível, e de uma caixa com dez Polaroids não se podia fazer mais do que… dez Polaroids.

Era essa a magia e o encanto daquele aparelho. Aprendi a amá-lo e acima de tudo a respeitar-lhe a condição. A massificação da fotografia digital ditou-lhe o fim – ainda que, estranhamente, lhe tenha elevado o estatuto. Uma Polaroid é uma Polaroid – e ao lado dela, milhões de imagens digitais que tiramos sem dedicação nem alma, repetida e distraidamente, ao ritmo a que respiramos, sem qualquer respeito pelo instante (porque, no fundo, todos os instantes são fotografáveis...), enfim, dizia, ao lado de uma Polaroid, as nossas rascas fotografias digitais são menos que zero.

No entanto, a Polaroid vai embora. A máquina digital fica. É uma lição terrível sobre o ponto em que estamos nisto a que chamámos “desenvolvimento”.

 

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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