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Pedro Rolo Duarte

29
Mar09

Desabafo sem qualquer espécie de argumentação justificativa:

Odeio a mudança da hora.

Seja para a frente ou para trás.

Tira-me do sério não apenas por ocorrer, mas também por me lembrar, de seis em seis meses, que vivo cercado por aparelhos que exibem as horas.

Vou dormir mais uma hora que não tenho. Vou viver menos uma hora até ao dia em que me devolvem a hora perdida. Atraso sem que me atrase, adianto sem que me adiante.

No fundo, não atrasa nem adianta, apenas incomoda.

Que maçada.

26
Mar09

Globalidades...

 

Há quem compre revistas de decoração para sonhar com casas que nunca vai ter. Eu vejo cadernos de emprego de jornais estrangeiros para imaginar vidas que jamais terei. Imagino-me num estúdio de design em Barcelona, num jornal em Londres, numa Televisão no Brasil.

(há anos que o faço, sabendo que me falta tudo, a começar na coragem, para começar de novo noutro lado qualquer).

Deve ser por imaginar cenários de vida que tenho uma enorme admiração por quem parte. Por quem recomeça. Por quem troca a (aparente…) paz da pátria e o quentinho da família e dos amigos pelo desassossego de um novo futuro. Muitas vezes essa opção é forçada – a História portuguesa é uma sucessão de histórias de quem parte à procura do que não tem.

Mas quem me seduz e fascina é quem parte mesmo sem ser forçado a isso. Quem parte porque se sente capaz. Quem parte por sentir que pertence ao Mundo, e não apenas a esta cantinho. Hoje lembrei-me disso porque o meu cunhado fez anos, e ele faz parte, com a minha irmã, desse lote de pessoas que ousou partir (e lá está, um blog, ainda que haja quem não entenda, é um espaço pessoal onde fazemos e dizemos literalmente o que queremos e não há satisfações a dar...).

... Mas também me lembrei por estar a ver e ter ficado a pensar, no fim-de-semana passado, no El Pais, neste anúncio que aqui reproduzo: escrito em alemão, num jornal espanhol, pretende contratar quem mande num braço ibérico.

Quando eu sonhava com outros destinos, era tudo mais simples: empresa espanhola contratava para Espanha, empresa inglesa contratava para Grã-Bretanha, empresa alemã para a Alemanha.

Até esse romantismo se perdeu: hoje, um tipo responde a um anúncio espanhol e acaba contratado por uma empresa francesa que o manda a Lisboa uma semana por mês para despedir compatriotas...

Mais um passatempo feliz que se foi. Não respondo a anúncios. E sonho cada vez menos

23
Mar09

Muito pouca classe

Devo começar pelo disclaimer: sou colaborador da Antena 1 e, além disso, dou a voz a um dos três spots promocionais que a estação lançou nas últimas semanas.

Um deles, como é público, foi entretanto retirado do ar na sequência da polémica que o seu texto provocou.

Não vou discutir o conteúdo do spot e a demagogia barata de quem viu nele mais do que um momento irónico sobre uma realidade que nos afecta a todos quando há greves ou protestos de rua (no dia da manif dos 200 mil, demorei uma hora a fazer um percurso que normalmente me leva 10 minutos…). Apesar de me inspirar um sorriso também ele irónico, não me custa perceber as críticas sindicalistas e de punho no ar. Aceitemos os factos…

Mas acho sinceramente que é pura má-fé (entre colegas de profissão ganha estatuto de pura maldadezinha…) fazer a associação entre a voz de Eduarda Maio, obviamente escolhida por ser uma das que melhor se identificam com a Antena 1, e o facto de ter escrito uma biografia de José Sócrates.

A lógica perversa que se pretende difundir levaria, no limite, a que a escolha das outras duas vozes (a minha e a de Júlio Machado Vaz) teria tido também outros motivos para lá do facto de estarmos no ar, no rádio, todos os dias. Terá o Júlio escrito o prefácio da biografia do primeiro-ministro? Será verdade que me inscrevi no Partido do Governo um dia antes de ter gravado o spot? Hmmm…

É fácil na verdade, fazer jornalismo assim: juntar peças de um puzzle inexistente e construir realidades a partir de ficções.

Tenho a certeza de que a Eduardo Maio, se lhe passasse pela cabeça quão baixa podia ser a campanha que lhe movem agora, tinha simplesmente recusado participar no anúncio. Podia tê-lo feito, como qualquer de nós, já que não fomos pagos e era de livre vontade que aceitávamos ou não colaborar no marketing da rádio cuja camisola vestimos. Mais vozes haveria que podiam também “contracenar” com o “presumível ouvinte”. Mas não: a Eduarda aceitou, porque provavelmente não avaliou bem a classe a que ambos pertencemos. Mas a classe é assim, como o país: pequenina. Muito pequenina. E classe, tem pouca…

22
Mar09

Eu é mais ovos

Hoje vou falar de ovos. Porque eu gosto de ovos. Gosto deles mexidos – simples, com tomate, com espargos – mas também gosto de estrelados, de omeletas, gosto do ovo cru que se mistura na açorda, gosto do cozido que se desfaz na salada de atum, gosto do ovo escalfado nas ervilhas, ou do que se pincela por cima da empada de caça antes de ir ao forno. Gosto do ovo no bacalhau à gomes de Sá e no bacalhau à Braz...

Já perceberam que tenho com o ovo uma relação próxima. Eu apanhava ovos das galinhas da Dona Olímpia quando tinha 5 anos, no Penedo, e o meu filho apanhava ovos das galinhas da Dona Ana quando tinha 5 anos, na Zambujeira...

(Parêntesis para momento de humor: num texto sobre um dos meus livros, o crítico João Pedro George remata um arraso monumental desta forma: “Como dizia a minha avó (o Pedro Rolo Duarte) é como o ovo, não tem ponta por onde se lhe pegue”). Enfim, dá para perceber que o ovo está para a minha vida como a chuva está para os campos: essencial, mesmo quando em excesso.

Pois bem: aqui há dois ou três anos, numas análises corriqueiras, descobri que tinha o colesterol numa conta demasiado generosa. Em princípio, tudo indicava que morreria no prazo de semanas se acaso não controlasse os meus ímpetos. Uma rigorosa dieta, acompanhada de milagrosos comprimidos, devolver-me-ia anos de vida e um colesterol “normal”. Alinhei, claro...

Dessa dieta fazia parte o corte com o ovo – esse assassino silencioso, disfarçado de alimento completo, elogiado toda a vida pelas suas virtudes. Mas, e afinal, um “serial killer” à solta na nossa alimentação.

Na verdade, um mês depois, entre a dieta e os comprimidos, o colesterol tinha sido dizimado e os níveis de “contaminação” estavam dentro do padrão europeu. Não gosto nada de entrar em padrões europeus – mas o médico assustou-me mesmo e até me esqueci desse ódio de estimação.

Desde aí, o ovo passou a ser a minha miragem. A excepção à regra. O meu Natal irregular. De vez em quando cedo e, como um louco à solta, peço uma omeleta. Quando nada mais me resta, faço um ovo mexido com tomate. Mais nada.

Até que, há poucos dias, leio uma notícia cujo título dizia “Ovo completo”. Logo ao segundo parágrafo, está escrito com todas as letrinhas: “Em 2006, um estudo da Universidade de Massachusetts, concluiu que a ingestão de um ovo por dia ajuda a prevenir a degenerescência molecular relacionada com a idade, sem que os níveis de colesterol aumentem. À semelhança de outros estudos, a ligação do ovo ao colesterol foi negada”. E eu paro: mas estão a gozar comigo? Então, ando eu a evitar o ovo, a fugir do ovo, e mais uma vez a medicina se contradiz e me explica que estou a perder tempo?

Uns dias depois desta notícia, leio na insuspeita revista “Veja” uma matéria sobre as oscilações que alguns produtos têm na observação dos cientistas. O ovo é um deles: já foi miraculoso, assassino, amigo, odioso, e de novo companheiro da saúde humana. Fico de rastos. Por favor, sosseguem! Eu não consigo viver a desconfiar de ovos, alfaces e frangos! Eu não quero sonhar com ovos a perseguirem-me e bifes de vaca a asfixiarem-me. Eu não desejo morrer por causa de uma dourada “de aviário”...

... Que eu seja como um ovo, aceito tranquilamente. Que o fígado se queixe do excesso, tudo bem. Agora, que andem a brincar com os meus níveis de colesterol e depois me digam que, afinal, “ah, pensámos melhor, e ovos até pode”...

Isso não. Organizem-se. E digam-me de uma vez por todas: o ovo tem ponta por onde se lhe pegue?

Texto originalmente publicado na revista Lux Woman

 

19
Mar09

Correio da Manhã

Em 1981, o jornal Correio da Manhã tinha um suplemento semanal, chamado “Correio dos Jovens”, dirigido pelo jornalista Victor Silva Lopes. Vivia de colaboração avulsa, e gratuita, de jovens leitores. Foi por aí que comecei a ser jornalista. Tinha 17 anos e mandava artigos em doses generosas para o suplemento. Era feliz quando via o meu nome no jornal – tão feliz que um dia telefonei ao Victor Silva Lopes e ofereci-me para escrever de borla todas as semanas. Ele gostou da ideia – e daí em diante, nas manhãs de quarta-feira, lá ia de autocarro até ao Príncipe Real, descia a pé a Rua da Palmeira até ao edifício da Rua Ruben A. Leitão, e entregava os originais escritos à máquina. Sobre música, sobre política, sobre temas internacionais...

Nesse tempo, não era suposto que se lesse o Correio da Manhã – por ser popular, “escorrer sangue” (expressão típica dos mais velhos), e ser vagamente de direita. Ainda ninguém tinha esquecido uma manchete num domingo eleitoral onde se lia “A Democracia vencerá”, sendo que o “A” e o “D” (de “democracia”) apareciam em negativo, dando à distância a leitura de cartaz: “AD vencerá” (Aliança Democrática, para quem não era “nascido”, era o nome da coligação que juntou PSD, CDS e PPM...).

Eu lia o jornal. E colaborava. Sempre fui um bocadinho ao lado do meu próprio mundo...

O Correio da Manhã tem a sua História, e essa história tem os seus casos. Mas o jornal teve uma evolução contraditória com a lógica que lhe estaria subjacente: à medida que os anos foram passando, e que as vendas foram subindo, o jornal melhorou em todos os seus aspectos. Organizou-se. Profissionalizou-se. E sem nunca perder o estatuto de jornal popular, ganhou qualidade e profundidade. Tem hoje excelentes colunistas. É rigorosamente transversal. E sem deixar de ser “um tablóide”, é um diário respeitado.

Faz 30 anos numa excelente forma, e reforça a sua condição de líder com novos colunistas, ideias inovadoras, e uma “forma de estar” que deixa bem longe os seus congéneres europeus, previsíveis e gastos.

Passados 30 anos, leio o “Correio da Manhã”, como nesses tempos do “Correio dos Jovens”, sem vergonha. Em 1981, publicava nele os meus primeiros textos, escritos à mão e depois passados à máquina. Vinte e oito anos depois, deixo virtualmente num blog o meu testemunho. O tempo que passou foi o tempo que o CM evoluiu. Gosto de ver como esse tempo passou bem.

18
Mar09

Com os azeites. Literalmente.

 

Leio no site do Expresso que “o azeite biológico alentejano Risca Grande virgem extra, produzido na zona de Serpa, foi considerado o melhor do mundo numa prova cega entre mais de 70 concorrentes”. O galardão foi atribuído num concurso mundial de azeites biológicos realizado na Alemanha.

Não deixo de notar, com surpresa, que tal concurso se realizou entre os dias 17 e 20 de Fevereiro, e que o maravilhoso mundo das tecnologias e da rapidez de informação demorou 25 dias a fazer chegar a notícia aos media nacionais…

Dito isto, vou a correr comprar o azeite “Risca Grande”, para o testar junto dos meus preferidos, por acaso ambos biológicos e de Trás-os-Montes: “Romeu” e “Carm Grande Escolha”.

A qualidade do azeite determina muitos dos pratos que gosto de cozinhar: seja um bacalhau desfeito com grão entalado no forno ou uma salada simples de tomate e manjericão, passando por uma posta de pescada fresca cozida em vapor (na Bimby, sim senhor) com ervas aromáticas, ou a mais banal salada de atum, em todos o azeite é essencial. Até para fritar um bife do lombo. Tal como se escolhe um vinho adequado para cada prato, também eu escolho azeite. Para cozinhar ou saborear.

Exemplo: se for para deixar numa taça rasa onde se molha o pão, normalmente escolho o Romeu, por ter um sabor acentuado que não pede misturas suplementares. Se quero acrescentar um pouco de sal marinho, algumas especiarias, umas lascas de tomate seco, gosto de usar o alentejano “Relíquia da Vidigueira”, que se vende em latas pequenas e é muito leve, embora tenha personalidade. No dia-a-dia, quando quero uma gordura básica para fritar ou apenas descolar na grelha, sou fiel ao “Galo Clássico”, que continua acima de qualquer suspeita. No último Natal, para o bacalhau da consoada, escolhi o “Carm Premium”, e a família aprovou.

Acho que o azeite pode juntar-se ao tomate na lista de essenciais da cozinha. Ando a pensar nessa lista aqui para o blog... “Nos entretantos”, parabéns aos obreiros do “Risca Grande” (fui ao site deles roubar a fotografia, mas acho um roubo justíssimo...).

16
Mar09

Sábado na Comporta

Sábado de sol, potencial primeiro dia de praia para muita gente. Praia da Comporta, muita gente, crianças, famílias. Dois bares com concessões oficiais, que certamente têm regras e obrigações. São cinco da tarde, começa a sentir-se o ar frio de Março, e apetece comer qualquer coisa. Quem se dirige à “Ilha do Arroz”, encontra a porta fechada à chave, apesar de estar gente lá dentro e empregados. Ninguém vem explicar porquê e quem bate à porta só recebe indiferença. Não há quem se digne vir dar uma palavra... Uma cliente que passa diz apenas: “agora fechou durante um bocado, só vai abrir às seis”.

Do outro lado da passadeira está o “Comporta Café” – e quem bateu com o nariz na porta da “Ilha do Arroz” vai até lá. Uma empregada simpática esclarece: “agora não vai dar, temos uns grupos grandes para receber, vamos fechar durante mais ou menos uma hora para limpar a casa”.

Sábado, 14 de Março, 17:00 horas, praia da Comporta: os dois espaços de restauração licenciados para servir aquela praia comportam-se com o livre arbítrio de quem não tem de dar satisfações nem oferecer um serviço. Pura e simplesmente, fazem o que lhes dá na gana. No Verão do ano passado, por diversas vezes, deixaram os frequentadores da praia à mingua, alugando em simultâneo os seus espaços para casamentos e/ou eventos privados.

Pelos vistos, este ano continuam a fazer da concessão um salvo-conduto para o regabofe.

Alguém – olha, lá está, a ASAE... – quer tomar conta da ocorrência e ver a legislação debaixo da qual aqueles dois espaços foram privilegiados com uma concessão numa das mais bonitas (e frequentadas) praias do Alentejo?

14
Mar09

Aviso aos leitores deste blog

Por causa de um tipo que assina webili1942, e que desde há dias não faz outra coisa senão poluir a caixa de comentários aqui do blog com ofensas e insultos (a mim, e a pessoas próximas de mim), disparates sem principio nem fim, e uma escrita que denuncia mais do que um simples pateta, a partir de hoje, e por tempo indeterminado, os comentários do blog passarão a ser moderados.

Tenho pena de o fazer, porque gosto da espontaneidade dos leitores, porque nunca tive razões de queixa em ano e meio de blog, e porque sou efectivamente cultor da livre critica, da divergência, do debate e da troca de ideias. Mas ninguém gosta de ver o seu espaço violentado, e é isso que está a suceder.

A partir de agora, a reacção imediata dos leitores terá de esperar pela minha disponibilidade - que nesta fase, infelizmente, é mais escassa do que tem sido... -, e vamos ver quando é que voltaremos ao regime aberto e livre, de que tanto gosto.

Pode ser que seja como aquelas vespas que andam à nossa volta um bocado e depois desaparecem e vão chatear outro...

 

12
Mar09

O Magalhães de Barreto

Tenho por António Barreto o respeito que nos deve merecer quem se dedica a pensar Portugal – e o faz com devoção e rigor. Enquanto editor da revista K, privei com ele e publiquei algumas das excelentes matérias que produziu para a revista.

Desse tempo ficou-me a ideia de uma incompatibilidade primária entre o sociólogo e as novas tecnologias. Recusou o telemóvel durante anos, e fazia questão de tornar público esse ódio de estimação...

Não surpreende, portanto, que chegado a 2009, António Barreto proclame nas páginas da Ler: «Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal». Diz mais: o Magalhães «foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura».

Ora, que António Barreto mantenha essa má relação com a tecnologia parece-me divertido e compõe a personagem. Mais grave é vê-lo falar do que não sabe. Desta vez, o sábio demitiu-se.

A introdução no sistema de ensino, com maiores ou menores problemas de produção e distribuição, do computador Magalhães, é talvez a mais relevante medida social deste Governo no que à educação diz respeito. Equipara as famílias pobres às médias – aquelas onde o computador e a internet estão já ao nível do televisor ou do DVD. Ou seja: coloca potencialmente todos os alunos num patamar semelhante de acesso à informação. Misturar este facto com a cultura do livro nas escolas é mais ou menos o mesmo que relacionar a nossa atávica iliteracia com o advento da televisão ou da rádio…

Do Magalhães ao livro vai a distância da terra à lua – porque não será a ausência de computadores que aproximará os estudantes dos livros, mas também não será a sua existência que os afastará. Pelo menos, convenhamos, dará acesso à informação - logo, à possibilidade da escolha.

A Internet, as novas tecnologias, estão a mudar a forma como vivemos, como consumimos informação, como nos relacionamos uns com os outros. Podemos criticar, estranhar ou mesmo rejeitar o “processo revolucionário em curso”, mas ele é não apenas imparável como irreversível. Não ver isto é como não ver. Ponto. Neste quadro, o “processo Magalhães” só é comparável, do meu ponto de vista, à electrificação dos caminhos, das aldeias, do país. É a abertura de uma óbvia e inteligente porta para o futuro.

O resto, como desde sempre, é tarefa dos pais e dos educadores. Não lê quem tem ou não tem Magalhães – lê quem quer, quem pode, e quem foi estimulado para a leitura. Assim foi, assim será.

 
 

PS – De passagem: não foi por ter um telemóvel aos 7 anos, um computador e internet aos 8, e uma playstation aos 9, que o meu filho deixou de ser, como é, um compulsivo leitor de livros (como eu nunca fui...). E não é por ter acesso permanente à net na sua escola, aos 13 anos, que ele deixa de andar sempre com um livro debaixo do braço.

09
Mar09

O ratel e o leão

Há muitos anos, na revista “Capa”, entrevistei o almirante vermelho. Rosa Coutinho recebeu-me num escritório esconso, ali nas avenidas novas, e respondeu às minhas perguntas numa sala onde o único objecto decorativo era um poster de João Abel Manta que retratava a “Aliança Povo-MFA”. Depois de evitar falar sobre os negócios que então desenvolvia com os PALOP e de explicar, à sua maneira, a revolução, Rosa Coutinho quis demonstrar com uma analogia do reino animal a resistência dos regimes comunistas à cruzada galopante do liberalismo nos anos 90.

Então contou (cito de memória): “há na floresta africana um animal chamado ratel. É pouco maior do que um rato e obviamente inferior ao leão. No entanto, se observar o encontro entre os dois animais, verifica que o leão evita prudentemente o ratel e raramente se confrontam. Porquê, sendo o leão mais poderoso e estando, por isso, o ratel condenado à morte? Porque o ratel enfrenta sempre o leão, mesmo sabendo que morre, e luta com tanta força que fere com violência o leão. Morre, mas deixa o leão doente”.

É disto que me lembro quando observo, estupefacto, a forma como o PS de Sócrates se deixa humilhar pelo Alegrismo e submete todo um partido a quem apenas o enxovalha, de forma altiva a arrogante, fazendo da idade um posto e do passado um lugar cativo.

Em nome da unidade de uma presumível esquerda, José Sócrates hipoteca um partido inteiro. Veremos se a aritmética eleitoral compensa os votos que perde neste kamikaze politico.

Manuel Alegre é o ratel do Partido Socialista – e esta é a mais triste analogia que se podia encontrar num ano eleitoral. Pior: foi-me ensinada por quem, em nome da esquerda, contribuiu para atrasar ainda mais um país perdido.

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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