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Pedro Rolo Duarte

24
Mai09

O papel e o resto

 

Às vezes complicamos o que é simples: no post de ontem, independentemente de achar mesmo que eles parecem, neste instante, feitos um para o outro (e talvez isso não seja bom para qualquer deles…), o que eu queria dizer era simples. E era isto: tudo o que de relevante se passou naquele bocado de tempo que mediou entre sair do jornal e deitar-me, soube por pessoas, sms e internet. Nem um jornal, nem um canal de televisão, nem uma estação de rádio. É esse o mundo em que vivemos hoje…

… Felizmente, “num instante tudo” ganha novas dimensões. E foi bom passar um bocado da tarde de ontem “enrolado” em jornais a ler matérias excelentes. A saber, sem qualquer ordem, ao sabor da memória:

… Li mais, mas deixo estes exemplos para completar a reflexão: tudo bem, não preciso mais de jornais e papel impresso para saber noticias – mas o prazer de ler uma boa crónica, uma reportagem, uma análise, enfim, o prazer de ler ainda está nesse “hardware” inexplicavelmente perfeito a que os antigos chamaram papel. E os novos, curiosamente, também.

22
Mai09

Sobre o que é informação nos tempos modernos…

Entre as 18:30 e as 22:00, só rádio, e essencialmente ligado à informação de trânsito. Demoro uma hora do Tagus Park ao Estádio da Luz, apanho o meu filho, passo por casa, encho o carro de irrelevâncias, e finalmente avançamos. Quando finalmente estou livre para jantar são dez da noite, sento-me no “Melidense” e diz-me o Carlos:

- Viste a TVI, o Marinho Pinto com a Moura Guedes?
- Não vi.

Descreve-me sumariamente o que se terá passado. Uma hora mais tarde, estou em casa, em Melides, e ligo o computador (aqui só temos quatro canais, os clássicos). Passo pelos blogues, percebo que houve história, passados minutos estou a ver no You Tube o confronto entre Manuela Moura Guedes e Marinho Pinto.

Não me falta nada, a não ser opinião.

Mas eu próprio tenho opinião sobre o tema e, resumidamente, é esta: quem anda à chuva, molha-se. Manuela Moura Guedes, cujo estilo e forma aprecio, foi hoje vítima desse mesmo estilo e forma: como quem atira a pedra e leva com o ricochete, assim esteve ela. Desta vez, levou. Ou melhor: estiveram bem um para o outro.

Tenho factos, imagens, opiniões, e eu próprio já pude exprimir a minha opinião. Agora vou dormir - e amanhã, quando acordar, se ainda houver jornais em Melides, claro que sim. Se não houver, volto à net e logo vejo.

… E é neste ringue de patinagem que todos andamos. Essa é que é essa.

20
Mai09

Eu, como pai

Sobre o episódio da professora de Espinho, que se tornou vírus informativo do dia, noto que:

 

1. Quem não tem filhos, ainda se lembra do argumento da gravação ilegal, às escondidas, de uma aula – e de como isso convoca sentimentos relacionados com liberdade, direitos civis e normas em vigor nas escolas.

 

2. Quem, como eu, tem filhos, não pode deixar de ignorar olimpicamente tal facto perante o volume de som da única pergunta que interessa: a quem confiamos os nossos filhos?

 

É uma pergunta que nunca me abandona. E que vale uma gravação “à sorrelfa” (como diria o meu pai...): vale tudo o que vale para um pai a existência do seu filho.

"Temos pena", mas prefiro uma gravação ilegal nas mãos do que um professor louco a voar.

16
Mai09

Agarrem-me

Quando andava no Liceu e havia ainda uns momentos mais ou menos político-partidários conflituosos, todos nós, militantes das Juventudes dos Partidos, tínhamos uma atitude facilmente reconhecível:

- Havia os militantes da pancada, que se pelavam por uma cena, nem que fosse para disputar uma caneta perdida...

- Havia os que (como eu...) defendiam que “a violência é o argumento dos incompetentes” e tentavam resolver tudo pelo diálogo, mas não fugiam nem tinham medo. Normalmente, enfardavam...

- Havia os mariquinhas, que desapareciam ao mais leve sinal de confronto...

- Havia os rolhas – que eram aqueles tipos que se mantinham à tona de água, qualquer que fosse a maré. Eram amigos de toda a gente e nunca se comprometiam...

- E havia os mais irritantes de todos: os que reproduziam a piada do “agarrem-me senão eu bato-lhe”. Eram os fiteiros: faziam de conta que eram militantes da pancada, faziam de contam que se passavam, faziam de conta que agiam, faziam de conta em regime militante. Mas queriam mesmo era ser agarrados, para poderem continuar a fazer nada e descansar a seguir...

Lembrei-me deste tipo de figuras do Liceu Camões ontem, quando verifiquei, uma vez mais, que Manuel Alegre é dos que gritam “agarrem-me”. Neste caso é “agarrem-me, por favor, senão eu saio, o que é muito pior para mim”. Não há pachorra.

13
Mai09

A minha amante favorita

Se eu soubesse o que era ter uma amante, talvez pudesse dizer que Lisboa era a minha amante favorita...

A cidade onde nasci e vivi sempre, mas a que sou infiel aos fins-de-semana, e sempre que posso.

A cidade que amo, mas que por amar não consigo perdoar.

A cidade que me surpreende quando me mostra de novo o miradouro de São Pedro de Alcântara, mas no minuto seguinte me desilude quando me confronto com um Cais do Sodré arrasado pelo trânsito, pela circulação, pelo que lhe escapa.

A cidade que tem o rio mais belo da minha aldeia – e depois cria muros e barreiras para nos roubar o rio.

A cidade que tem cheiro a pão de madrugada, mas onde o melhor pão vem de fora, de Mafra ao Alentejo.

A cidade que não deu nome de rua ao meu pai.

A cidade de que nunca me despeço, e que sempre cumprimento quando nela aterro de avião e me derreto com a luz e a morfologia únicas e irrepetíveis.

A cidade que me comove, que me excita, que mexe comigo – a mesma cidade que me irrita, me tira do sério, e todos os dias me faz perguntar: continuar aqui?

A cidade a que digo “sim”, sempre, mesmo quando a única resposta parece ser “não”.

A minha cidade – que raras vezes sinto minha, ainda que saiba que é. Não sei se é assim uma amante, mas por presumir que sim, que é, volto ao começo para dizer que Lisboa é a minha amante favorita.

 

Escrevi este texto para a Revista Turismo de Lisboa. Já foi editado e impresso, partilho-o com os leitores do blog...

10
Mai09

A critica que irritica *

 

Tenho idade que chegue para saber.

Mas há momentos mais dispersos, difíceis, trabalhosos, em que não tenho mesmo tempo para ser livre. Acabo navegando à bolina. Caindo aqui e ali na armadilha de confiar.

E foi assim que ganhei ontem uma carga extra de irritação. Passei na FNAC à tarde e andei pelos discos a ver o que havia de novo. Por duas vezes passei ao lado de “Zii e zie”, o novo de Caetano Veloso, porque pairava sobre ele “má imprensa”. Li critica negativa no “Público”, mais uns gozos nos blogues por causa do tema “Menina da Ria” (que se inspirou na Ria de Aveiro), e tenho ideia de ter lido também notas menos simpáticas na imprensa brasileira online, nomeadamente no Estadão.

Ou seja: fizeram-me a cabeça.

Eu, que nasci fã de Caetano e vivi a minha primeira noite de ao som de “Bicho”. Eu que ouvi fado ao vivo no Sr. Vinho sentado na mesa de Caetano. Eu, que promovi espectáculos de Caetano...

Fizeram-me a cabeça e por pouco ía saindo da FNAC sem o disco.

Mas a FNAC não irrita como a critica, e é o serviço público democrático que se sabe, com todos os defeitos que também sabemos. Bom, pelo menos na FNAC posso ouvir por mim sem depender das estrelas do “Público”.

E à terceira passagem parei para ouvir “Zii e zie”.

Assim, sem rodeios: o disco novo de Caetano Veloso é genial, ou pelo menos muito mais genial que os últimos quatro ou cinco, que foram muito bons mas não mais do que isso. Caetano Veloso regressa às canções, aos manifestos e ao amor. Regressa à melodia. Regressa às frases notáveis: “de onde vem o parar o mar?”. Volta a brincar com as palavras – “Lobão tem razão” – mesmo quando recupera a politica pura e dura em “A Base de Guantânamo”: “O facto de os americanos/ desrespeitarem os direitos humanos/ em solo cubano é por demais forte/ simbolicamente para eu não me/ abalar”.

Caetano recupera a guitarra – o tema “Perdeu” é um monumento... - e o ritmo da bossa nova, na versão por ele mesmo recriada nos anos 70 e 80. Agarra as pontas da sua criatividade passada e volta a cozinhá-las num prato novo. O resultado é um disco outra vez de Caetano Veloso - o Caetano dos seus ouvintes, e não, como vinha sendo hábito, um disco de Caetano a procurar alimentar a expectativa de uma modernidade forçada.

Tornando curta a longa história: ía caindo na esparrela da critica e deixando de fora da minha discografia seleccionada um disco notável de Caetano Veloso. Fui salvo pelo serviço publico da FNAC.

Felizmente, tenho um blog e posso dizer: bardamerda à crítica impressa, o disco novo do Caetano é bom todos os dias do ano. E agora vou dar uma volta a cantar “Eu nunca imaginei que nesse mundo / Alguma vez alguém soubesse quem é”...

 

* O erro é de propósito para a rima...

08
Mai09

Maizena: por fim, a receita

Tenho ouvido falar muito da farinha Maizena, da “papa Maizena”, e acho que foi no Público que li uma matéria onde se dizia que estávamos perante mais uma gaffe do Ministro Pinho, dado que as crianças comiam era Cerelac e Nestum, e nada de Maizena.

Está na hora de repor a verdade dos factos.

Com a Maizena faz-se a famosa “Farinhota” – famosa pelo menos cá em casa, desde que a minha mãe a inventou (inventou, acho eu, isto é um blog, não é um jornal, não vou telefonar-lhe às 10 da manhã a “confirmar”...), lhe deu o nome, eu a devorei anos a fio, e agora o meu filho me pede encarecidamente aos pequenos-almoços de fim-de-semana.

A minha mãe faz a olho, e eu a olho vou fazendo. No limite, pode ficar às vezes um pouco mais espessa – quando tal sucede, chamamos-lhe “cimento Maizena” – mas sempre saborosa. Assim:

Mais ou menos duas colheres de sopa da Farinha Maizena num tacho, e leite em dose generosa (mais ou menos o equivalente a um prato de sopa bem cheio). Em frio, a Maizena e o leite são desfeitos à mão com uma colher de pau. Corre bem, não ficam grumos.

Segue para o lume brando, com duas cascas de limão, e é sempre mexido até que se sente engrossar, sinal de que cozeu. Quando começa a engrossar a operação é rápida: açúcar a gosto (duas colheres de chá, mínimo), retira-se logo do lume, junta-se uma gema de ovo crua, mexe-se para misturar sem cozer, e deita-se num prato de sopa. Canela em pó por cima e... que delicia, meu deus, qual Cerelac, qual Nestum com mel...

Só tenho pena que se tenha voltado à farinha Maizena por causa do ministro Pinho, porque a Maizena também “dá” um excelente bechamel e mais uma série de coisas que ficam para outro dia. Mas enfim: há factos que não se conseguem evitar.

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

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Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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