Sobre os resultados eleitorais:
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Contra o que está, mais do que a favor daqueles em quem voto.
Desanimado – porém, certo de que pior do que estar desanimado e votar, seria estar desanimado e não votar.
Aos 45 anos, não sou certamente ingénuo – mas confesso que só mesmo nos últimos dois ou três anos perdi os resquícios finais sobre a nobreza do trabalho político. E perdido esse derradeiro elo, resta-me o dever de votar para não me abandonar impunemente ao direito de me indignar.
… Se Portugal fosse um país a sério, o noticiário assinado por Manuela Moura Guedes era um entre vários que felizmente convivem na nossa televisão. Criticado aqui, elogiado ali, o jornal de sexta da TVI jamais seria bode expiatório de um Governo em dificuldades, e menos ainda um “exemplo” do que resta da liberdade de imprensa em Portugal. Mal de nós se fosse uma coisa ou outra. Não é nenhuma delas. É apenas um telejornal popular de um canal generalista.
… Se Portugal fosse um país a sério, a Entidade Reguladora da Comunicação não existia. Mas atenção: não existia esta ERC, nem aquelas ERC’s alternativas que pairam pelos artigos de pessoas respeitáveis como Pacheco Pereira, para não falar de estimados amigos como João Gonçalves. À direita e à esquerda, há mais ERC’s do que parece. É muito fácil dizer mal da ERC imaginando uma “nova” ERC feita à nossa medida e gosto…
… Se Portugal fosse um país a sério, o que hoje, no mundo dos media, poderia ser objecto de debate e reflexão não passa por Manuela Moura Guedes nem é sonhado pela ERC ou pelas Comissões que pretendem zelar pela deontologia. Na verdade, o que merece debate e reflexão é a relação entre as empresas de comunicação social e a informação que elas próprias geram - e pode, ou não, beneficiar os seus negócios fora dos media. É de politica que falamos, sim, mas de uma outra política: a que transforma leis em negócios, noticias em lucros, silêncios em escrituras, e desertos em oásis.
… Se Portugal fosse um país sério, a árvore jamais se confundiria com a floresta. E é esse, na verdade, o problema.A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.