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Pedro Rolo Duarte

09
Set09

Do Benfica, sim

Nasci do Benfica e de esquerda.

Quanto ao Benfica, nada a fazer: é qualquer coisa que vem de dentro, e que não sai com o tempo, nem convoca mudança de opinião. Nem opinião sequer. É um facto.

Quanto à esquerda, ainda que haja matrizes de pensamento que não mudam, ao assistir a um debate entre esquerda e ainda mais esquerda, não consigo deixar de confessar que não me reconheço naquelas esquerdas.

Ou seja: de clube nunca mudarei. Felizmente sou livre no pensamento politico e posso pensar hoje assim e amanhã assado. Tal liberdade, que cultivo e não escondo, só me tem trazido dissabores: para a direita sou socialista, para os socialistas sou de direita, e até o putativo critico de televisão Cintra Torres me chamou “novel santanete” (!!!). Tive um “amigo” que certo dia me aconselhou a decidir: “Pedro, ou estás de um lado ou do outro, mas tens de estar de um lado”. Ele escolheu. Não me parece que tenha sido bem sucedido.

Portanto, da tal liberdade de pensar por mim não abdico, e há temas em que me reconheço à esquerda, como noutros me revejo à direita. Voto em função do que releva da espuma dos dias.

Reconheço: os dias andam turvos e a espuma deixa ver pouca coisa. Os debates não têm ajudado.

Já o Benfica é eterno. E às vezes custa...

 

07
Set09

O anúncio que anuncia o possível anúncio

Notícias sobre o estado da Justiça:

“Lisboa, 07 Set (Lusa) - O colectivo que julga o processo Casa Pia poderá anunciar uma data para leitura do acórdão final no dia 16 de Outubro, última das datas agendadas na audiência de hoje. A juíza Ana Peres, que preside ao colectivo, afirmou que a 16 de Outubro poderá ser anunciada uma data em que o tribunal dirá se aceita ou não as alterações ao despacho de pronúncia propostas pelo Ministério Público, referentes a datas e locais em que os arguidos são acusados de ter abusado sexualmente de menores casapianos. Caso o tribunal as aceite, será "dada sequência", ou seja, as defesas disporão de um prazo para se pronunciar sobre as alterações. Caso as indefira, o colectivo designará uma data para leitura do acórdão”.

Leiam comigo: o colectivo pode anunciar no dia 16 uma data para a leitura do acórdão. Ou melhor: uma data em que o tribunal dirá se aceita ou não as alterações ao despacho de pronúncia – de que resultará um prazo para as defesas, ou pelo contrário uma data para o acórdão. Já tínhamos visto anúncios, adiamentos, atrasos, recursos. Agora a possibilidade da possibilidade de possivelmente anunciar uma data para possivelmente ler um acórdão, ou talvez não, este era um anuncio que não esperava ler nos dias da minha vida. Mas é impossivelmente real.

06
Set09

Lá está:

Nem tudo é o que parece, e nem tudo o que é se sente que seja, como nem tudo o que ocorre sentimos que acontece.
Confuso?

Talvez. Nestes dias, só se falou de Manuela Moura Guedes, do Jornal da TVI, de censura e liberdade. Ontem, estava a ler Vasco Pulido Valente no Público e concordei: José Sócrates não tem responsabilidades no fim do jornal da TVI, mas colocou-se a jeito de “merecer as consequências”.

Mas logo a seguir, como faço sempre (começo o Público pelo fim, porque a Opinião é o que convoca a compra diária…), virei a página e fui “tomar café” virtual com o Miguel (Esteves Cardoso, claro). E li assim: “Todos nós temos um problema que nos foge e vai matar. Todos nós fingimos que não é bem assim. Mas é bem assim.”

É assim. E é por isso que nem tudo o que é se sente que seja – lá está, o que o Miguel sente diz-me tudo. E, por comparação, tudo o resto que sucede no mundo diz-me nada. É nesta ordem que vivemos, mesmo quando fingimos que não. Estritamente pessoal, graças não a Deus, mas a nós, que a escolhemos. Todos os dias, toda a vida.

05
Set09

Sobre as mulheres

Gosto de livros de citações e aforismos. Gosto de frases curtas que condensam, com humor, ironia, ou apenas sabedoria, o que muitas vezes dizemos usando frases longas e argumentações maçadoras. Tenho uma generosa colecção de livros que compilam toda a espécie de citações – das mais óbvias às mais inesperadas -, e não hesito em usá-las sempre que me dão jeito. Como tenho uma memória galinácea, raras vezes consigo ter sucesso. Mas tento...

E às vezes até me lembro da frase e de onde a encontrar. Para esta crónica, interessa-me o mais genial de todos os meus livros de citações, uma edição do jornalista brasileiro Ruy Castro sob o titulo “O Melhor do Mau humor”. São frases assassinas, cortantes, primorosamente seleccionadas, que gozam, ridicularizam ou apenas arrasam os seus alvos. E para os devidos efeitos preciso desta, assinada por Ambrose Bierce: “Dá-se melhor com as mulheres aquele que sabe dar-se bem sem elas”.

Mentira. Redonda mentira. Eu não viveria num mundo sem mulheres, e no entanto não deixo de as admirar. Trabalho com mais mulheres do que homens, dou-me bem trabalhando com mulheres. Reconheço-lhes, em geral, maior dedicação, rigor, criatividade e capacidade de resolver problemas. Aprecio a sensibilidade feminina e a forma como uma mulher leva a água ao seu moinho, mais requintada, discreta e eficaz do que um homem - que deixa o caminho encharcado de água que nunca chegará ao seu sítio.

Ainda assim, tenho a certeza de que viver sem mulheres seria a coisa mais entediante e aborrecida que me poderiam dar. Nem falo do óbvio – falo apenas do que se subentende nas palavras que, lá está, não direi... A frase de Bierce não faz sentido, ponto final.

O mais interessante do tema, no entanto, é que as mulheres são provavelmente as maiores defensoras de um mundo... sem mulheres. Não querendo generalizar, e não pretendendo um debate sobre direitos, garantias e paridade, custa-me reconhecer que seja no campo feminino que se podem encontrar as maiores inimigas do mesmo sexo.

Há poucos meses comecei a moderar um programa de televisão, num canal de cabo, onde só participam mulheres. A ideia era simples: pegar nos temas de actualidade e deixá-los em debate com mulheres de opinião forte e consistente, entre um painel fixo e uma convidada semanal. Não há no programa nada de sexista ou discriminatório, pela positiva ou negativa, mas o reconhecimento de que as mulheres observam o mundo de um prisma especifico – e como a televisão está pejada de programas com homens a dar palpites, podia fazer sentido marcar esta diferença. Tem corrido bem.

Mas o mais interessante tem sido ver como me abordam as pessoas quando me falam da emissão. Há homens que gostam, homens que não gostam, homens para quem “aquilo” é indiferente. E depois, há dois tipos de mulheres que me falam do programa: as que gostam, e as que perguntam “como é que consegues viver naquele galinheiro?”. Em casos mais contidos: “deve ser difícil ouvir tanto mulherio...”. Em casos mesmo muito educados: “é fácil moderar quatro mulheres assim?”.

São elas que depreciam um programa onde as suas pares falam. São elas que colocam a emissão nesse patamar. E são eles, os homens, que “normalizam” tudo falando de um programa, mais um programa, entre tantos...

Volto ao livro das citações: é de uma mulher a frase “Uma mulher sem um homem é como um peixe sem uma bicicleta”.

Eu gosto de moderar um programa onde mulheres inteligentes falam sobre o que aconteceu na semana. Não me sinto um estranho entre elas, mas um profissional a fazer o seu trabalho. E concordo com o homofóbico brasileiro António Maria no livro que acompanha esta crónica do princípio ao fim: “A única vantagem de viver na companhia de uma mulher é a mulher. Aponte outra”.


Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman - e o facto de Manuela Moura Guedes ser a figura da semana é mera coincidência. A minha politica é o trabalho, como diz o povo...

03
Set09

Declaração de voto, ou de veto

Escrevi um post sobre o apoio do João Gonçalves a Pedro Santana Lopes e foi o que se viu. Escrevi um post desencantado com o partido no qual votei nos últimos anos, e foi o que se viu. O que sinto? Sinto demasiada agressividade no ar, muito comentário de encomenda, pouco respeito e azedume em excesso. Não tenho paciência para essas “energias negativas”. Não estou nem aí. Não sou o Luís Rainha nem quero ter aquele espírito, aquele “nhinhinhi”, ocupar tanto tempo com tão pouco. Admiro a persistência do João Gonçalves, mas não quero ver Portugal como ele vê. Acho óptimo que Pedro Santana Lopes se candidate à Câmara de Lisboa mas o meu universo de interesses não passa, nunca passou, por esse mundo de compromisso e networking. Não consigo ver a comunicação social como Pacheco Pereira – só quem nunca trabalhou num jornal pode ver intencionalidade onde, na esmagadora maioria dos casos, há apenas uma soma de acasos... -, mas também já não “sofro” da ingenuidade dos vinte anos.

Tornei-me céptico, mas isso não fez de mim um homem azedo ou amargurado.

Dizer mal de tudo e de todos, observar Portugal como se não fizéssemos parte dele - mesmo o que o olham fingindo que estão longe - faz mal à saúde, duplica as rugas, e deixa os músculos tensos. Não quero.

Há coisas que a idade nos vai ensinando – uma delas é escolher, a cada momento, onde está a paz, onde está o que nos faz bem.

Este tipo de debate político, baseado no insulto, na azia, na inveja e no despeito, não me agrada. Portanto, saio fora. Vou dedicar-me a toda a espécie de trivialidades, até que a passe a euforia.

 

Adenda (já sem "Jornal Nacional" na TVI): eu escrevi há dois dias neste blog "Pessoas que sentiram – eu senti – o golpe na liberdade de informação que permite à oposição falar em “medo” e “asfixia” -  a frase foi muito comentada, criticada e posta em causa. Mas não havia necessidade...

 

02
Set09

O problema de José Sócrates

O problema de José Sócrates está em pessoas como eu. Pessoas que votaram PS porque acreditaram nele. Como eu votei. Pessoas com votos diversos ao longo dos anos, que foram acreditando nas propostas deste ou daquele candidato. Convictamente. E que ao longo destes quatro anos assistiram ao esboroar diário e consecutivo desse crédito e dessa convicção. Pessoas que sentiram – eu senti – o golpe na liberdade de informação que permite à oposição falar em “medo” e “asfixia”. Pessoas que viram a arrogância e a prepotência tomarem o lugar da tolerância e do diálogo. Pessoas que viram o PS governar contra tudo e contra todos, e sentiram que perpetuar o poder era na verdade o Programa de Governo.

Essas pessoas – lá está, das quais faço parte – não acreditam agora na voz repentinamente mansa de Sócrates quando diz que se calhar não foi “delicado” com os professores, ou quando devolve o Freeport à origem, ou mesmo quando fala do orgulho no país das energias alternativas. É um pouco como ver o meu antigo director Paulo Portas a conversar com as peixeiras em Benfica: passa bem na imagem, mas não passa de uma imagem.

Eu olho para José Sócrates – em quem acreditei e votei – e sinto-me desiludido e desencantado. O problema dele são pessoas como eu. Que provavelmente vão votar em branco.

Acima de tudo, e pior: pessoas que deram mais um passo no sentido desse abismo que é a desconfiança generalizada sobre quem se propõe governar Portugal. Sejam quem forem – e isso está muito para lá do PS que está.

 

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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