Foi um miúdo com 12, 13 anos, turco, que de escopro e martelo em punho me perguntou quantos pedaços do muro queria eu, a troco de meia-duzia de marcos alemães. Fiz as contas aos familiares e amigos - e contei comigo, claro. Trouxe uma mala de pedras para Lisboa. Fiquei com o bocado maior que, há tempos, numa manobra menos feliz de quem então me limpava a casa, se repartiu em quatro pedaços. Mas eles resistem na minha vida: são mesmo retirados, “à frente do cliente”, do Muro de Berlim, ainda a quente, há 20 anos, quando tudo voltou a estar em causa e a felicidade estampada no rosto daquele povo me iluminou.
Quem testemunhou o encontro entre a civilização do Trabant e do BMW, entre a luz velada da noite e o néon feliz e feérico, nunca mais foi capaz de acreditar nos tais “amanhãs que cantam”. Já não acreditava – mas deixei-me embebedar noite dentro com a alegria de confirmar os meus equívocos passados...
Ainda hoje me emociono quando recordo aqueles dias que por ali passei, já o muro estava quase desfeito...
Sobre o tema do referendo ao casamento homossexual, ocorrem-me os seguintes pontos:
Um. As eleições legislativas realizaram-se há mês e meio, ou seja, os seus resultados parecem-me válidos e longe de se considerarem desactualizados.
Dois. 54,23% dos eleitores votaram nas três forças que apoiam a alteração legislativa que permitirá o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Tal facto não foi evitado nem escamoteado durante a campanha eleitoral.
Três. Mesmo tendo em consideração a taxa de abstenção nesse acto eleitoral, estamos a falar de 3 milhões, mais 82 mil, mais 751 portugueses. Que votaram no PS, no Bloco de Esquerda e na CDU.
Quatro. Tendo a Assembleia da Republica legitimidade política e legal para legislar sobre esta matéria, como cidadão apenas espero que cumpra a sua obrigação. Defraudar a expectativa de mais de 3 milhões de portugueses parece-me tão absurdo quanto perigoso.
... Dito isto, acho a ideia do referendo, neste caso, uma espécie de piada de mau gosto sobre a essência da democracia. Ou um atestado de menoridade ao Parlamento e ao voto dos portugueses. Ou, pior ainda, uma batota típica de mau perdedor.
Não me fica mal lembrar, qual disclaimer, que desta vez não votei em qualquer daquelas 3 forças politicas que representam os tais 54,23%...
"Com que então, morreu António Sérgio. Ora muito obrigado. Obrigado, Deus, por teres decidido. E obrigado, António, por te teres deixado levar. Veio mesmo a calhar a tua morte. O teu trabalho aqui na terra estava mais do que acabado e, graças a Deus, há centenas de novos Antónios Sérgios para te substituir. Que grande pontaria.
O que andam vocês todos a tramar na afterlife? A afterlife é a mais cool de todas as after hours. Não é música toda a noite e todo o dia: é música toda a cabrona da eternidade. Já lá estava uma redacção de sonho: o Rolo Duarte, o Fernando Assis Pacheco,o Cáceres Monteiro, o Manuel Beça Múrias, o Afonso Praça, a Edite Soeiro, o Eduardo Guerra Carneiro. Com uns colaboradores que já não existem e cujos nomes são tantos e tão grandes que não nomeio sequer um, com medo de vos deprimir com a comparação com a lista dos que ficámos vivos.
Que jornal; que revista; que estação de rádio estão vocês a fazer aí no pós-vida? Não lá em cima, no céu, mas aqui ao lado, paralelamente, no after, no depois, no enquanto estamos a dormir e a viver.
A morte de tanta gente boa faz-me acreditar que, quando cada um de nós morrer, seremos bem recebidos. Haverá bons inéditos; bons jornais; boa música; bom cinema. Imaginem só Bach, Wagner, John Lennon, Ian Curtis, Stockhausen - e, para apreciar e descobrir o resultado, António Sérgio.
Como sempre, adiantaste-te. E nós vamos atrás de ti. Está certo. Foi sempre assim."
Texto de Miguel Esteves Cardoso, no Público de ontem.
Ia começar a copiar a crónica, porque não está disponivel online - mas ao ver que o Maradona já o tinha feito, zás: copy-paste. É pirata, mas eu sei que o Miguel deixa e o António Sérgio gostaria...
O país está em crise – e esta frase dá para tudo, serve para todos. No universo onde me movo, anunciantes, agências, centrais de meios, justificam cortes nos investimentos publicitários com a crise, e sempre que, entre amigos, invoco incompetência ou negligência na forma como se planifica e compra espaço publicitário, os que estão ligados ao meio defendem a sua dama como podem.
Pois bem.
Ontem, ou melhor, na madrugada de hoje, à uma da manhã, no intervalo que fechou um “Prós e Contras” dedicado à Gripe A, entre anúncios a pensos higiénicos Evax dedicados a raparigas entre os 13 e os 18 anos e spots a promoverem o concerto de João Pedro Pais que está esgotado há vários dias, vi um anúncio da marca Clearasil sobre borbulhas de adolescentes de 13 anos e como combatê-las.
Sorri, evidentemente. Mas tenho pena dos homens que mandam no marketing da Clearasil – deitar dinheiro à rua não é das actividades que acho mais interessantes, nem eles certamente o fazem com gosto.
O consolo que lhes posso dar é que não estão sozinhos. Basta observar com atenção os espaços publicitários nos canais comerciais de televisão, ou mesmo as páginas de publicidade de luxo em publicações segmentadas para as classes mais baixas (e/ou vice-versa), para perceber que o mercado está virado do avesso.
Pelos vistos, não há quem o queira endireitar. Faz lembrar a frase da canção: “me engana que eu gosto”...
... Saiu o segundo volume de Pinho Vargas a solo. A solo, não: na melhor companhia, com o piano. Há versões para descobrir e clássicos para voltar a ouvir.
Sabe muito bem ter um piano a encher-nos a sala numa noite chuvosa de domingo...
PS - À procura de temas deste disco para dar música ao blog (não encontrei nada...), descobri o blog de António Pinho Vargas. Não lhe dá atenção desde Agosto, mas gostei do ultimo post que lá deixou...
"Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades".
Almada Negreiros
3.
"Jovem, medíocre sob todos os aspectos, procura mulher magnífica sob todos os aspectos para deambular em locais carregados de história, como os jardins de Versailles, ou em deslocação constante, como os corredores dos comboios".
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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