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Pedro Rolo Duarte

30
Abr10

Coisas que me encanitam (II)

 

 

(Uma série que tem tudo para nunca mais acabar...)

As fotografias aqui postadas foram tiradas (à má-fila...), um dia desta semana, no canto das revistas e jornais do El Corte Inglês de Lisboa. Podiam ter sido tiradas em muitos outros postos de venda por esse país fora. Exibem o “tuga borlista” no seu melhor: cá pagar um euro pelo jornal, naaaa! Cá contribuir para que a imprensa morra mais devagar, nem pensar! Assim é que é bom: encostamos o carro à praça, escolhemos o jornal da nossa preferência - e lemos de borla, que sabe bem melhor...

Fazer o que este bando está a fazer ou roubar um jornal, ou fotocopiar um livro, ou piratear um DVD, é exactamente a mesma coisa. Ou é pior – porque é ainda mais fácil, à descarada, e sem riscos.

Tal facto é válido também para as senhoras que ocupam o lado oposto da loja molhando os dedinhos gordos nas páginas das revistas cor-de-rosa. Sempre sem pagar, só a “dar uma vista de olhos”...

Quem quer mesmo comprar um jornal ou uma revista tem dificuldade em passar pelo bando de borlistas abusadores e suas compinchas do sexo feminino. O aviso claro que informa ser proibido ler os jornais expostos é liminarmente ignorado.

Mas estamos a falar de objectos que custam dezenas, centenas, milhares de euros? Não. Estamos a falar de jornais que custam 80 cêntimos, ou 1 euro, revistas que custam 1,25 euros.

... Um dia, estes cavalheiros e suas damas vão deixar de ler “à pirata” nas bancas de Portugal – porque um dia, por estas e por outras, não haverá mais jornais e revistas. Alguns lamentarão tal facto, e recordarão com saudades os tempos em que ainda havia imprensa. Esquecerão, porque infelizmente nem disso têm noção, que também contribuíram para o triste estado das coisas.

Por mim, fazia como no Texas com os meninos das escolas: ou paga o jornalzinho... ou leva reguada nas mãos...

É uma coisa que me encanita, pronto.

27
Abr10

Coisas que me encanitam (I)

(Uma série que tem tudo para durar tempo demais)

... Encanita-me que a ASAE (e as autoridades rodoviárias) sejam tão rigorosas no que respeita aos serviços prestados ao público e suas condições de higiene, e não tenham qualquer espécie de exigência quanto ao estado geral dos táxis que circulam nas cidades.

Em dias de calor, como sucede agora, não é obrigatório ter ar condicionado nem o espaço devidamente refrescado, não há quem controle o estado miserável em que se encontra a maioria dos habitáculos dos carros, e pode acontecer – como me acontece regularmente – entrar em táxis literalmente pejados de fumo, que o motorista também tem direito ao seu cigarro quando vai de carro vazio. E se o cheiro não é a fumo, pode ser ainda pior. Pois pode.

Nos cafés e restaurantes vende-se tudo asséptico e nem torneiras para a água podem ser manuseadas – mas cá fora, na rua, dentro de um táxi, vale tudo.

É uma coisa que me encanita, pronto.

24
Abr10

Há quantos anos foi o 25 de Abril?

Quase todos os dias me apetece comentar a política caseira, os temas do dia, as manchetes dos jornais.

Quase todos os dias desisto, mesmo antes de começar a escrever.

Sinto que é mais do mesmo. Que vou chover no molhado. Que o desabafo terapêutico não me é suficiente nem satisfaz ao ponto de curar o desânimo.

Não desisti de pensar, menos ainda de escrever. Mas olho os temas de cada dia e vejo-me repisar ideias que escrevo - eu e todos os que escrevem - há mais de 20 anos..

A substancia não muda: é sempre sobre a honestidade, a seriedade, a verdade, o rigor e o bom senso. Ou a falta deles.

Quase tudo o que nos indigna e escandaliza envolve falta de honestidade, de seriedade, de verdade, de rigor e de bom senso. Às partes ou em acumulação.

É por isso que quase todos os dias me apetece comentar a política caseira, os temas do dia, as manchetes dos jornais - e quase todos os dias desisto, mesmo antes de começar a escrever. Porque o “caso TVI” e o “Face Oculta” e as casas de Sócrates e o Freeport e outras tantas histórias que me chocam e revoltam lembram-me, afinal, o caso Cadilhe, o taxista sobrinho de Isaltino de Morais, as escutas a Cunha Rodrigues, o folhetim da Universidade Moderna, o fax de Melancia, o diploma da vírgula, as OGMA, a DOPA. Repetem procedimentos, fórmulas, comportamentos, abusos de poder, espertezas saloias, aldrabices sem princípio nem fim.

Na repetição, banalizam-se.

Mas na mesma repetição criam o manual de instruções para a mudança. É isso que espero do novo líder do PSD. De futuros líderes do PS. Quem sabe mesmo de outros partidos. Tenho dificuldade em acreditar – e Inês de Medeiros não ajuda... -, mas ainda tenho esperança de recuperar o gosto pelo comentário dos dias normais inspirado por gente que os dignifique e transforme.

É isto que me ocorre na passagem de mais um aniversário do dia em que começámos a recuperar a liberdade.

21
Abr10

Dona Inês

Neste folhetim da deputada Inês de Medeiros, o que verdadeiramente me inquieta não é o parecer de Jaime Gama ou o debate no Parlamento sobre se se deve ou não pagar os bilhetes de avião para Paris – o que me inquieta e assusta, para não dizer que muito desanima, é que o episódio é criado e protagonizado por uma mulher que não vem do universo da política, que se estreia nestas andanças, que pertence à minha geração - ou seja, de alguém para quem a política deveria ser vivida de forma, no mínimo, despojada e livre da pequenez de princípios.

Afinal, em vez de integridade e independência, saí-nos na rifa mais do mesmo. O pequeno esquema: acumular direitos, ter o melhor dos dois mundos. O “dá cá o meu”. O “quero lá saber”. O “direito adquirido” sem qualquer espécie de reserva. O pior do velho Estado e das velhas pessoas do Estado.

Dá-me igual se a deputada”tem direito” ou “não tem direito” – dela esperava que dispensasse o direito, caso o tenha, e tivesse orgulho no dever, se soubesse do que se trata.

 

 

 

 

14
Abr10

Enfim, Nós

 

(E pronto: chega ao final o projecto Nós, Portugueses, que durante 50 semanas acompanhou a edição do sábado do i. Dia 17, o número 50, com esta capa e o editorial que assinala o fim do projecto...)

 

Tenho duas notícias para esta edição final do projecto “Nós, Portugueses” do i – que como se lembram, queria construir um retrato da raça lusa e chegar a conclusões sobre as suas qualidade e defeitos. Uma notícia é boa e outra é má. Como de costume, comecemos pela má: não chegámos a conclusões. E agora a boa notícia: no fundo, não queríamos chegar a lado algum. Quando tudo isto começou, a ideia era simplesmente conceber no projecto desta nova marca de informação, ao fim de semana, uma revista que constituísse um complemento de leitura e um acrescento ao jornal de sábado. Já havia a ideia de fazer uma revista temática, já havia a ideia de explorar características humanas, tendências, e daí ao estudo da Netsonda e à ideia de olhar Portugal e os portugueses pelas suas potenciais características, foi um passo. Foi o passo dado. Tinha um começo e um final. Cumpre-se hoje, com esta edição número 50. Olhando e lendo este conjunto de revistas, páginas, pessoas, histórias, a única certeza é mesmo a de que não chegámos a lado algum. Conseguimos detectar características? Sinais? Uma identidade? Claro que sim. Mas entre os lugares-comuns que já sabíamos fazerem parte deste mosaico e as surpresas que fazem do jornalismo uma profissão apaixonante, o que fica deste olhar sobrevoado sobre o país é a mistura de passados e futuros que tem marcado Portugal nas últimas décadas. Na verdade, ainda somos o país que cospe para o chão e não nota o ruído das chávenas de cafés empilhadas na pastelaria - mas também somos o berço de tecnologias e ideias, de design e de altíssima culinária. Não resistimos a enganar o parceiro, a escapulir ao pagamento voluntário do imposto – mas temos instituições de solidariedade notáveis e soubemos desenvolver sem truques nem esquemas a mais inteligente “via verde” que se conhece. Somos, talvez, um país entre o cá e o lá – entre o que fomos e o que seremos, entre o que queremos ser e o que conseguimos ser. Nessa medida, este projecto foi cumprido – ele contempla tradição e modernidade, tem sinais de futuro e memórias, tem lamentos de passado e sonhos. O melhor de fazer uma revista que tem um começo e um fim é saber antecipadamente o destino – e o pior é pensar no que fica por fazer. E fica. Mas também nesse “fica” está parte deste projecto do i. Porque antes desta revista nunca se tinha concebido e produzido em Portugal uma revista propositadamente desestruturada – ou seja, sem uma só coluna ou secção fixa, sem ordem definida de secções e temas. Este projecto foi concebido semana a semana como se de uma nova revista se tratasse a cada oito dias. E não há duas iguais, mesmo havendo 50 edições que se unem por traços comuns. O desafio era tão difícil quanto juntar o melhor e o pior de um país, o mais antigo e o mais moderno. Hoje, ao chegarmos à edição final, sabemos que foi possível, sabemos que fizemos exactamente a revista que correspondia a estes critérios e vectores, mesmo quando fizemos edições aquém ou além do que pretendíamos. E por aqui regressamos ao começo. Talvez este projecto tenha sido conseguido porque Portugal é ele próprio um país com traços comuns, com elementos de união, com traços, mas no fundo uma soma de partes que se não estruturam de forma clássica. Portugal muda numa esquina do Bairro Alto para o Chiado. Como esta revista mudou. Portugal muda quando no Campo Pequeno há tourada ou concerto rock. Como esta revista mudou. Portugal muda quando é noite ou dia. Como esta revista mudou. Alentejo ou Douro. Revolta ou paixão. Este projecto pretendeu reflectir esse claro/escuro. Essa estrutura por estruturar. Essa felicidade ainda tantas vezes triste. Este projecto está cumprido. Agora venham outros novos sábados para o i. Portugal não muda por causa de nós, mas isso não quer dizer nada.

13
Abr10

Onde é que está a petição contra?

Um mundo que precisa de ter um Dia Mundial do Beijo – é hoje – está definitivamente perdido. Como se houvesse um Dia Mundial de Ver, ou de Sentir, ou de Viver, ou de Respirar.

O beijo não precisa de dia – precisa apenas da vontade e do desejo, do sentimento e do sentido.

O beijo, diz um especialista à Lusa, “ajuda a combater a depressão", “baixa os níveis de cortisol, uma hormona envolvida na resposta ao stress”, “ajuda a queimar cerca de 12 calorias e activa 29 músculos”.

Poupem-me, por favor. Tirem-me deste filme.

Beijem mas não esmiúcem o beijo. Beijem mas não lhe atribuam um dia. Beijem mas não espalhem que “pode ser o veículo de 250 bactérias". Beijem mas não me digam que há uma ciência chamada “filematologia” que estuda o beijo.

Abaixo o Dia Mundial do Beijo. Onde é que está a petição contra?

 

Mais vale um poema. Mais vale este poema:

 

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Nos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

(Eterno Alexandre O'Neill)

11
Abr10

Papel com datas

(Crónica para a Lux Woman, edição do 9º aniversário. Com beijo de parabéns, claro)

 

Dizem que os homens ligam mais aos gadjets do que as mulheres. Não sei se está cientificamente provado – mas confesso que me perco um bocadinho por um novo telemóvel, uma máquina fotográfica, e no dia em que aderi ao I-Pod nunca mais deixei de observar colunas e amplificadores, para tirar o máximo partido daquele objecto mágico. Demorei tempo a render-me ao GPS no carro – mas agora que o aparelho atingiu a maturidade, lá ando feliz da vida a desbravar caminhos sem olhar para mapas e indicações rabiscadas à mão.

A vida numa praia deserta é maravilhosa – mas com um leitor de música, um telefone, um portátil e internet, acho sinceramente que melhora e pode atingir a perfeição...

Dito isto, há sempre um velho conservador dentro de um pretenso homem moderno. E o conservador que resiste dentro do meu corpo não desilude os nostálgicos – na verdade, não conseguiu, até hoje, adaptar-se e aderir a qualquer formato de agenda electrónica. Nem no computador nem no telefone, nem no PDA nem nas diversas agendas informatizadas que, desde a invenção do velho “Psion”, têm sido lançadas. Nada. Nos idos de 1989, um bom amigo passou uma tarde a mostrar-me o seu sistema organizativo, e eu achei que aquela “coisa” era a minha cara. A “coisa” chamava-se Filofax e não era mais do que uma agenda tradicional, em papel, muito bem pensada, num formato conveniente, e com um sistema de substituição de páginas perfeito. Aderi na hora. E até hoje sou um militante da Filofax - um fiel da agenda em papel, onde escrevo e preencho os dias, planifico trabalho, guardo informação útil.

A Filofax tem renovado a imagem e amplificado a agressividade comercial. O número e variedade de agendas disponíveis, e até as ligações para uma potencial “cumplicidade” com o computador, crescem regularmente. Mas a essência da agenda, os clássicos “seis furos” e o formato “personal”, são implacáveis – e se eu tentei alternativas...

Um dos meus prazeres, no que diz respeito ao ritual da Filofax, é a passagem para a agenda do ano seguinte dos aniversários que me interessam. Como sou um homem de datas, anoto casamentos e baptizados, dias importantes dos que me são próximos, momentos marcantes (lançamentos de projectos, estreias de programas...). António Lobo Antunes escreveu, numa genial crónica, sobre os que “morrem completamente”, que são aqueles que para lá de morrerem fisicamente desaparecem também da memória, do interesse, da existência. A ideia é notável, mas tenho tendência a pensar que na minha vida ninguém “morre completamente” – na medida em que sobrevive nem que seja na folha de uma agenda dos dias. E se, num qualquer momento menos feliz, não passo para a agenda do ano seguinte uma data, um aniversário, não é bom sinal. Porque é como se – aí sim... – algo ou alguém morresse completamente. Não quero. Não gosto.

Gosto de abrir a agenda e lembrar alguém – mesmo que o tempo tenha criado distância ou a vida nos tenha afastado. Gosto de saber que cada dia “pertence” a uma pessoa, ou a um facto. Nascer, morrer e viver. É isso, afinal, o que anualmente passo para a agenda do ano que se segue, e me devolve imagens, memórias, palavras, às vezes até cheiros e paisagens. E esta sensação, este tempo tão bem perdido todos os anos, não há telefone ou computador que me devolva. Sou moderno, sim – mas tenho limites. E ainda não há nada como escrever num papel uma mensagem de parabéns. Como esta, que aqui fica impressa, sem virtualidades, para a Lux Woman, na edição do seu aniversário...

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Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

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