Há muitos anos, na revista “Capa”, entrevistei o almirante vermelho. Rosa Coutinho recebeu-me num escritório esconso, ali nas avenidas novas, e respondeu às minhas perguntas numa sala onde o único objecto decorativo era um poster de João Abel Manta que retratava a “Aliança Povo-MFA”. Depois de evitar falar sobre os negócios que então desenvolvia com os PALOP e de explicar, à sua maneira, a revolução, Rosa Coutinho quis demonstrar com uma analogia do reino animal a resistência dos regimes comunistas à cruzada galopante do liberalismo nos anos 90.
Então contou (cito de memória): “há na floresta africana um animal chamado ratel. É pouco maior do que um rato e obviamente inferior ao leão. No entanto, se observar o encontro entre os dois animais, verifica que o leão evita prudentemente o ratel e raramente se confrontam. Porquê, sendo o leão mais poderoso e estando, por isso, o ratel condenado à morte? Porque o ratel enfrenta sempre o leão, mesmo sabendo que morre, e luta com tanta força que fere com violência o leão. Morre, mas deixa o leão doente”.
É disto que me lembro quando observo, estupefacto, a forma como o PS de Sócrates se deixa humilhar pelo Alegrismo e submete todo um partido a quem apenas o enxovalha, de forma altiva a arrogante, fazendo da idade um posto e do passado um lugar cativo.
Em nome da unidade de uma presumível esquerda, José Sócrates hipoteca um partido inteiro. Veremos se a aritmética eleitoral compensa os votos que perde neste kamikaze politico.
Manuel Alegre é o ratel do Partido Socialista – e esta é a mais triste analogia que se podia encontrar num ano eleitoral. Pior: foi-me ensinada por quem, em nome da esquerda, contribuiu para atrasar ainda mais um país perdido.