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Pedro Rolo Duarte

16
Jul10

1986, Coliseu: Simone

Nos primeiros dias de 1986, Carlos Gomes e José Nuno Martins, então produtores de espectáculos na “Ai, Musica”, convidaram-me para umas imperiais e uns pregos na Brilhante, a cervejaria em frente ao Coliseu de Lisboa. Queriam partilhar comigo a alegria da notícia e convidarem-me para a aventura: Simone, a brasileira, no auge do seu sucesso (o disco desse ano, Cristal, era um sucesso brutal), vinha a Lisboa fazer Coliseus de Lisboa e Porto. Começava por 5 espectáculos (acabaram por ser 12 ou mais, em sessões extras consecutivas...).

Convidaram-me para conceber e dirigir a comunicação do espectáculo – e eu exultei de alegria com tudo. É certo que os 60 contos de cachet foram espatifados no arranjo do carro que espetei num táxi logo depois desse jantar - mas vivi dias de emoção e comoção intensas, daqueles que nunca mais se esquecem. Com o Carlos, o José Nuno, o eterno Matos Cristóvão, o João, a Maria João. Fizemos programas para distribuir a todos os espectadores, produzimos isqueiros especiais para que a plateia pudesse vibrar com essa mania da época, fazíamos das tripas coração para que tudo corresse na perfeição. Havia a estrela de Simone por todo o lado – e uma frase, que assinei: “deixe, a estrela sobe!”. A estrela era o pontinho no “i” do nome dela.

Foram dias fantásticos, entre Lisboa e Porto, quase davam um livro de histórias divertidas, dramáticas, românticas, engraçadas. Pela primeira vez se usaram microfones sem fio em Portugal (e a barraca que isso deu...). A produtora ganhou dinheiro e o mau feitio de Simone foi esmagado pelo sucesso da operação.

Quando terminou, Portugal tinha dado um passo em frente em matéria de produção de espectáculos.

Há bocado, inesperadamente, numa busca pelo You Tube (que tinha outros objectivos...), encontrei duas pérolas desses dias de caos e felicidade: o pequeno documentário que antecipa o genial programa de televisão que José Nuno Martins realizou, e a versão de “Jura Secreta” que Simone cantou no Coliseu, que Nuno Martins tão bem soube olhar, e que é para mim a mais forte de todas as que conheço (sublinho os minutos 5’37” até 5’50”, que ainda hoje me deixam de lágrima no olho...).

Que não fosse por isso, deitar-me mais tarde hoje valeu a pena.

Sigam a Jura Secreta, que é também a minha jura, dedicada e pessoal.

 

 

 

... E agora vejam estes 5 minutos de bastidores. Talento e géno de um grande realizador...

 

14
Jul10

Fiquei

Por razões que não interessam nada, tropecei neste bocado de António Lobo Antunes:

“Com o passar do tempo, há dois sentimentos que desaparecem: a vaidade e a inveja. A inveja é um sentimento horrível. Ninguém sofre tanto como um invejoso. E a vaidade faz-me pensar no milionário Howard Hughes. Quando ele morreu, os jornalistas perguntaram ao advogado: «Quanto é que ele deixou?» O advogado respondeu: «Deixou tudo.» Ninguém é mais pobre do que os mortos.”

E fiquei. E agora vou.

13
Jul10

A melhor notícia de sempre (hoje)

É esta:

 

Notícia que o Miguel, ao seu modo, traduz em crónica (para, uma vez mais, nos oferecer um tratado sobre o amor...).

É de Sol que aqui se fala. De luz. E de justiça também. Todos os jornais para onde o Miguel tem escrito nestes anos mais duros podiam ter dado este passo. Quem o deu, foi o Público. Vale quem deu.

E vale uma alegria imensa para mim.

 

(E agora, um recadinho pessoal: oh meu cabrão: não me leves o Público para lua-de-mel, que eu gosto de ler o jornal. Intocado, como bem sabes. Assim como era quando comprávamos, cada um, o seu exemplar, antes de atracarmos na esplanada do Rita...)

12
Jul10

Coisas que me encanitam (V)

Não vai ser fácil perceber, mas em rigor as frases são estas: encanita-me quando alguém que dá a cara por uma empresa, loja, casa comercial, me diz “a culpa não é minha”. Porque realmente pode não ser dela, mas é a ela que cabe dar a cara mesmo pela culpa que não foi dela.

Ninguém percebeu o que escrevi, bem sei.

Mas explico: há poucos dias fui jantar à esplanada da Cervejaria Trindade (Campo Pequeno). Em noite de calor, sabe muito bem estar ali, e ainda que a qualidade do bife deixe a desejar, o molho é (gordurosa e colesterolmente...) sublime e a imperial muito bem tirada. Havia jogo do Mundial, havia muita gente, mas não se serviam bifes em pé – ou seja, o numero de lugares ocupados era aquele que a casa teoricamente comporta.

Pelos vistos, não é assim: esperei quase uma hora pelo mais vulgar bife. Sempre com desculpas da esforçada empregada, que se queixava de estarem muitas mesas ocupadas...

A dada altura, decidi reclamar. Disse tudo o que me ocorreu, sugeri que em vez de restaurante abrissem uma papelaria, ou uma retrosaria, já que não tinham capacidade de resposta. Até cheguei a propor que fizessem uma Trindade mais pequena, com o número de mesas adequado ao tamanho da cozinha.

Aos meus argumentos, a esforçada empregada só conseguia pedir desculpa, acrescentando sempre “a culpa não é minha, nem sou eu que estou na cozinha”. Foi quando me encanitei e tentei explicar algo que há anos tento, sem sucesso, vender em diversos patamares: quem dá a cara por uma empresa, mesmo que não seja culpada por uma incompetência, é naquele momento a “cara responsável” do sucesso ou insucesso da marca. Ninguém pede contas a um cozinheiro de um restaurante – pedimos a quem nos serve. Ninguém reclama com o catering de um avião à empresa que o produz – reclamamos com a assistente de bordo (mesmo sabendo, sim, ;-), que um avião não é uma enoteca nem um restaurante...). Ninguém protesta com o serviço da TMN falando com Zenial Bava – reclamamos com o empregado da loja ou quem nos atende o telefone.

Quem dá a cara por uma empresa torna-se, para o bem a para o mal, a própria empresa. Pode ser por minutos, segundos, instantes, mas é assim mesmo – e saber isto distingue um mau de um bom profissional.

Na lógica contrária, quando tudo corre maravilhosamente – por exemplo, lá está, num restaurante... - a quem damos uma excelente gorjeta? A quem nos serviu. Não me lembro de alguma vez um empregado de mesa me ter recusado uma gratificação dizendo “a culpa não foi minha, o cozinheiro é que é genial”...

Claro que naquela noite, na esplanada da Trindade do Campo Pequeno, nada mudou. Mas pelo menos não me fiquei pela encanitanço: disse-lhes tudo. E no fim rematei informando que tinham perdido um cliente.

... Mas agora, pensando melhor, vou adoptar a frase-remate que o meu pai usava no fim das suas reclamações: “e se pensam que depois disto não volto, enganam-se: amanhã estou cá outra vez”.

E é isso. Pode não ser amanhã, mas eu vou lá voltar.

10
Jul10

Melgas e excepções

(Crónica originalmente publicada na última edição da Lux Woman. Agora, que estou todo mordido dos pés à cabeça, volta a fazer sentido...)

 

Sempre ouvi dizer que os Invernos prolongados, ou os Verões tardios, multiplicam os insectos – o que resulta, logo que o calor desponta, numa praga de melgas, mosquitos e outros “chatos profissionais” que arruínam os finais de tarde em toda a parte e as noitadas ao ar livre perto da água. É onde me encontro: ao ar livre, de noite, com o computador ao colo, a praticar uma estranha e pouco eficaz dança de braços e mãos contra uma dose de bichos que persistem em querer fazer de mim o seu “prato do dia”. Tinha comprado umas velas com um cheiro esquisito que aparentemente afugenta a bicharada. Dentro de casa tenho aqueles aparelhos que se ligam à electricidade e teoricamente impedem as melgas de darem à costa. Também uso repelente, em momentos mais difíceis. É a primeira noite efectivamente quente do ano e não vou dispensar o serão ao relento…

Na verdade, nada faz efeito. Exceptuando um jornal enrolado na mão contra uma parede branca - com o conhecido efeito secundário da marca preta no branco… -, não há como vencer os insectos. Eles entram onde não há entrada, sobrevivem a ataques cerrados, são intrusivos mesmo quando sabem que têm as horas contadas. Mordem, picam, deixam marca, infectam, provocam comichão, alergia, irritação, urticária. Como se não bastasse, são desmancha-prazeres: aparecem sempre que queremos estar ao ar livre e com pouca roupa, mas não dão sinal de vida no Inverno…

Ao contrário do que sucede com a fruta, com os legumes, com os peixes, que se “cultivam” todo o ano em estufas, em aquários, e que se transportam de um canto do mundo para o outro, permitindo comer tomates ou morangos ou mesmo uvas praticamente todo o ano, já com os estupores dos insectos ninguém se preocupa. Devia ser simples mudar-lhes o código genético de forma a terem existência em Dezembro e Janeiro e prisão forçada na Primavera e Verão…

Neste momento, imagino leitores e leitoras agarrados ao mail a escreverem-me manifestos detalhados sobre a importância vital das melgas e mosquitos no equilíbrio ambiental do nosso mundo. Imagino que, sem esses sanguessugas, o planeta perdia a rotação e as nuvens vulcânicas cobririam as nossa existência para todo o sempre… Mas confesso que tais explicações me dizem muito pouco.

Se dependesse de mim, as 800 mil espécies de insectos que sobrevivem na Terra eram pura e simplesmente extintas. Armado em pequeno Hitler, lá mandava um exército de insecticidas dizimar os milhares de milhões de incómodos bichos. Não era improvável que ganhasse eleições com este especifico programa eleitoral.

- E as abelhas?, pergunta alguém ao meu lado. As abelhas? Olho à volta à procura de um assessor, mas não está ninguém. As abelhas? Mas as abelhas são insectos? As fabulosas e trabalhadoras abelhas, que produzem um dos mais ricos alimentos que conheço, e que pertencem ao nosso imaginário desde os tempos da clássica Maia, pertencem à família destes invertebrados sem graça nem história nem obra? Pois parece que sim.

Lamentavelmente, sim. Todo o meu plano, a minha obra, o projecto de uma vida, corre o risco de ruir. Se arraso os insectos, lá vão as abelhinhas misturadas com as moscas e os mosquitos. Não pode ser. Mas já que estou em campanha, e quero mesmo ganhar, posso sempre convolar a situação: sim senhor, vamos acabar com os insectos, mas abrimos uma excepção para as abelhas. Quero as abelhas vivas e mel por todo o lado. Nem todos os insectos são assim tão insectos. Iguais, sim, mas uns mais iguais do que outros. O costume.

Eu não dizia que estava perigosamente perto da política?

09
Jul10

Vai dar Espanha...

...E eu estou com ela.

Deixo um bocado de um poema (de Garcia Lorca, claro, traduzido por Agel de Melo)...

 

Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

 

Poesia é o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.

 

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.

 

Livros doces de versos
sãos os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.

Oh ! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam !

Deixaria neste livro
toda a minha alma...

 

E deixo mais uma canção. Da minha Bebe que há anos toco na Antena 1...

 


07
Jul10

Todo trocado

Com o calor que está, dorme-se menos.

Mas não se vive mais.

Acordo mais cedo do que queria, sem adormecer tão cedo quanto devia.

Fico todo trocado. (Ou ando trocado?).

Então procurei um vídeo para inspirar a Espanha a ganhar o jogo de hoje. Ficou este, que me devolve Sole Gimenez, a ex-voz dos Presuntos Implicados, e uma das minhas cantoras de sempre, numa versão exemplar e tocante.

Além do mais.

Façam o favor e façam como eu, que a oiço estalando os dedos como se estivesse no Castillo de Alaquàs...:

 

06
Jul10

O volume que fica

Estava a ver fotografias antigas (esta foi uma delas, e é um detalhe da Piazza del Campo, a lindíssima praça central de Siena, Itália), e reparei que a maior diferença entre o que passou e o que fica é o volume das coisas – as que aumentam e diminuem, as que desaparecem ou estranhamente aparecem. 0 que engorda e emagrece, o que ganha dimensão e o que perde. Lugares que vimos grandes e são afinal pequenos – mas também o contrário.

Mesmo a morte passa por ser isso mesmo: as pessoas não desaparecem da nossa vida, desaparece apenas o corpo, o volume. O espaço que ocupam desaparece fisicamente, mas em nós ele pode crescer. Quase sempre cresce, quando as amamos.

Este olhar sobre fotografias antigas talvez seja, afinal, mais uma metáfora para a vida: tudo se passa entre a dimensão com que se nasce, a que se ganha, e a que a dada altura se perde.

Como no amor.

Às vezes gostava de saber dominar o volume das coisas como quando brincava com plasticinas. Era fácil, então.

 

(Deve ter sido a pensar estas coisas “fora de formato” que alguém deu o nome a esta terra. “Deixa o resto”, porque o essencial fica...)

Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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