6 de Outubro
Não tenho nada contra a monarquia. Gosto da democracia britânica, defendo a Espanha sempre que o “complexo de inferioridade” português se manifesta, e reconheço o sucesso do permanente e – esse sim... – verdadeiro reality-show que constitui, em geral, a casas realeza europeia, dando de comer a uma viçosa imprensa cor-de-rosa, e deixando sonhar uma multidão de plebeus leitores.
Dito isto, não percebo o debate centenário.
A aparente vantagem de um rei – o simbolismo, a permanência, a ideia de continuidade dinástica, o estatuto de isenção e superioridade face à querela partidária – parece-me claramente irrelevante e pouco sedutora face à possibilidade de votar, eleger, e por consequência mudar de Presidente. Ao contrário, estarmos condenados a uma linha sucessória, e a alimentarmos a pão-de-ló uma família sobre a qual ninguém teve voto na matéria, parece-me muito pouco civilizado e, no limite, pouco inteligente. Além da despesa, claro...
Já a discussão sobre a “qualidade” dos regimes do ponto de vista da democracia e da liberdade é obviamente espúria: conhecemos monarquias e republicas, no passado e no presente, de todos os estilos e cores. A nossa I Republica não pode servir de bombo da festa permanente para os monárquicos reclamarem para si o exclusivo da liberdade de expressão.
Ao ver ontem os festejos da Republica já achei que tínhamos salamaleques em dose mais que suficiente. Se fosse com rei, oh meu deus, ainda agora estavam todos nos Paços do Conselho a dizer ámen ao monarca... Felizmente, há Republica. E à noite já tinha passado tudo.