No Coliseu, ouvindo Rodrigo Leão
Sempre que, no carro, o iPod debita esta música, ou outra de Rodrigo Leão, o meu filho costuma dizer “Boavista!”. Sinal de que associa esta toada, esta paisagem sonora, este ambiente, aos finais de tarde serenos e em absoluta paz lá no Monte da Boavista, na Casa Nova da Cruz. Tantas vezes ali se ouviu Ave Mundi Luminar...
Esse tempo passou, é hoje doce memória, mas ficaram sinais vitais – como aqueles que juntam musica e espaço num mesmo lugar.
Não foi só a emoção dessa memória que mexeu comigo, ontem à noite, no Coliseu de Lisboa – foi também a partilha de emoções com quem as tem vindas de outras vidas. Quando se encontram sentidos diferentes na mesma música, e tudo parece harmonizar-se, por momentos o que era duplo passa a simples. O dois é um. O que somos, é.
Foi o que aconteceu. Isso e o gigantesco talento de Rodrigo Leão e dos seus companheiros, ao longo de duas horas intensas que atravessaram todo o seu universo musical. E se é rico, esse universo onde Rodrigo se move...
Quer ele queira ou não, na modéstia que sempre sublinha os génios, Rodrigo Leão fica para lá dele próprio na música portuguesa de sempre. Vai estar ao lado, de pleno direito, de um José Afonso, de um Pedro Ayres Magalhães, de um Carlos Paredes. E de mais alguns, claro. Gosto de saber que Rodrigo nasceu no mesmo 1964 em que nasci.
Ontem lembrei-me disso tudo enquanto me arrepiava com o que daquele palco se espalhava pela plateia. E tive quem comigo se comovesse. Não podia pedir mais. Nem ter.