Sobre o respeito
Se me perguntassem se estaria vivo, não sabia o que responder. Mas está, o cineasta Jean-Luc Godard está vivo e recomenda-se. Tem 80 anos (feitos esta sexta-feira, 3 de Dezembro), um novo filme (“Film Socialisme), e um livro biográfico polémico. Leio no suplemento cultural do El Mundo a entrevista originalmente dada para a revista francesa “Les Inrockuptibles”, e fixo esta ideia:
“O direito de autor realmente não tem razão de ser. Eu não tenho direitos, só tenho deveres”.
É raro ver um criador dispensar assim, tão simplesmente, a criação. Na mesma entrevista, o cineasta insurge-se contra a ideia de herança – “não me parece razoável que os filhos de Ravel recebam pelos direitos do seu Bolero”... -, e recusa a ideia de ter uma obra. Quanto muito, aceita ter tido um caminho.
Não concordo com qualquer destas ideias, e é óbvio que defendo o inalienável direito de autor, tão maltratado pela sociedade da informação e da tecnologia. Mas admiro quem, aos 80 anos, persiste nas suas utopias, vive de acordo com os seus sonhos, e dispensa a pretensa modernidade de um tempo sem causas nem ideais. Nunca admirei o cinema de Godard, nem me revejo na sua geração – mas isso não me impede de admirar tudo o que significa e representa. É de respeito que falo. Lá está, uma palavra em falta nos dias que passam.