Seguindo a campanha eleitoral pela televisão – falta-me pachorra, confesso, para ler essa parte da actualidade na imprensa -, sinto que nos movimentamos entre dois tipos de candidatos: os que existem mesmo, e os que se esforçam para existir. Os primeiros, já sabemos quem são. Os segundos, preferimos nem saber. Entre estas duas categorias, movimenta-se o cromo desta eleição: Fernando Nobre. O médico que tanto admirei na AMI está agora a fazer o papel de Eanes dos anos 80 – é o salvador da pátria, o homem que dá voz a quem nunca teve voz, o justiceiro, o tipo que vai resgatar, do poço sem fundo, a democracia, a moral e os valores. Mas o discurso que apresenta está mais próximo do astrólogo que tudo promete, ou do feiticeiro que vem de outro mundo em tempo de crise, do que do pragmático pensador. Já ouvimos tantas vezes o pregão moralista dos que se julgam acima só porque têm estado de fora...
Fernando Nobre é o Ramalho Eanes dos pobrezinhos. Chega a ser penoso ouvi-lo falar de política.
Ironias do tempo: no mesmo momento em que a SIC-Noticias festeja merecidamente dez anos de vida com saúde, animo e entusiasmo, aqui ao lado, em Espanha, fecha o canal de notícias mais relevante do cabo, e que juntava a CNN ao Canal Plus (isto é, a Prisa do clássico El Pais). O que diz isto sobre o jornalismo? Nada. O que diz sobre modelos de gestão e negócio? Tudo. Portugal é mais pequeno, menos letrado, consome menos informação – e no entanto, consegue que um canal de noticias viva dez anos com saúde e possa perspectivar-se s0bre o futuro com outros tantos de tranquilidade. Podemos encontrar mil razões para explicar o falhanço de um e o sucesso do outro, mas parece evidente que há dois verbos que se conjugaram melhor em Carnaxide: saber gerir.
Neste, como noutros negócios, faz sentido a ideia de que mais vale uma SIC-Noticias no ar do que mil sonhos a voar. Basta controlar ao milímetro o alcance de cada voo.
Em diferentes momentos da vida profissional, estive em desacordo – mesmo em campos opostos... – com Óscar Mascarenhas, que estava no DN nos bons tempos do DNA e muito me moeu a cabeça por causa da carteira profissional (ou da falta dela...), entre outros “pormenores” do dia a dia. Reencontrei-o num tribunal, há pouco tempo, e estávamos os dois do mesmo lado. Gostei disso.
Leio-o com regularidade - e lá está, consigo discordar dele com metódica regularidade. Mas quando concordo, oh meu deus, é de caras: “O assim-chamado «presidente de todos os portugueses» não é, pelo menos, de «todos os fadistas»: tem a sua favorita, a sua Salomé que, não recebendo cabeças em bandeja, se contenta com um simpático cheque.
Maravilhoso exemplo para a juventude sonhadora e idealista: apoia aquele, que ficas logo a ganhar! Faz pela vida, pá! É o toque de Midas de Cavaco: apareça quem tenha ficado mais pobre depois de o ter servido”.
No momento em que se fala do BPN e dos amigos do candidato Cavaco Silva, esta crónica é tudo o que apetece ler, até por parecer conter em si a chave do “caso” do Banco.
Além disso, a peça está escrita num português de ironia fina, e ao mesmo tempo retorcida, que são justamente os melhores defeitos e qualidades do Óscar Mascarenhas que conheci no Diário de Noticias. É favor ler na íntegra aqui no Jornal de Notícias.
De volta a casa, e para começo de conversa, alinho com Bernardo Pires de Lima, d’aprés Millor Fernandes, no blog Vias de Facto:“O país que precisa de um salvador não merece ser salvo”.
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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