Como se o mundo fosse todo igual
Critico nos outros o que eu próprio faço, e julgo que todos somos um bocadinho assim. Critico a excessiva facilidade com que se generaliza - e ao fazê-lo, estou também a generalizar.
... Mas ignorando tal facto, aqui fica: não tenho paciência para generalizações, analogias e comparações que tendem a reduzir tudo a um puré de cultura. Não há purés onde há cultura.
É por isso que acho absurda a ideia de uma “queda do muro de Berlim islâmico”, ou de uma “revolução dos cravos” à moda da Tunísia. Da mesma maneira, o debate sobre se a democracia faz sentido no mundo árabe parece-me um desfoque da realidade.
Não custa admitir que estamos perante culturas diferentes das que regem o mundo ocidental. Nem piores, nem melhores, mas claramente diferentes. Até na forma de manifestar o extremismo somos diferentes: eles morrem pela religião, nós matamos pela religião. E não é por isso que somos superiores ou inferiores.
Pretender olhar o que se passa no Egipto, na Tunísia ou em Marrocos com olhos ocidentais é legítimo – mas é absurdo e vai dar mau resultado. A vida não é vista e sentida da mesma forma de um lado e do outro – e por consequência, a política, a ideia de liberdade, e o regime, estão em lugares e patamares distantes do nosso olhar. Tendemos, nestes tempos em que a economia manda na política, a olhar o mundo em equações simplificadas. Dá jeito – só não corresponde à verdade. E qualquer turista distraído que algum dia tenha aterrado num país árabe percebe de que falo quando falo de culturas diferentes, isto é, modos diferentes de entender a vida. E de a viver.
Somos todos humanos? Somos. Somos todos iguais? Não.
Não é exactamente a mesma coisa. E por mais que queiramos catequizar o globo sobre as virtudes das democracias ocidentais e a justiça dos direitos humanos, esbarraremos eternamente nas diferenças que fazem toda a diferença.