Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Pedro Rolo Duarte

17
Jul11

Passagem por Fátima

Vinha de Coimbra para Lisboa e o tempo estava manhoso para a praia. Vi o desvio para Fátima e pensei: acho que nunca fui a Fátima. É hoje. E fui.

Um sábado aparentemente sem história tinha, para meu espanto, centenas, talvez mais de mil pessoas espalhadas pelo recinto gigante, carros nos 15 ou 16 parques que rodeiam o santuário, negócio aberto, camionetas, picnics, turistas, bifanas, sandálias, camisolas de alças, crianças aos berros.

Apesar do meu cepticismo, é frequente comover-me em espaços onde a fé convoca mesmo os que a não sentem. Foi assim no Vaticano. É assim nas raras missas a que vou. É assim quando entro, como também fiz neste dia, no Mosteiro da Batalha, e me detenho na sala onde se guarda o tumulo de D. João I, Filipa de Lencastre, e os filhos. Há lugares que mexem comigo para lá do que a razoabilidade do meu agnosticismo compreende.

Em Fátima, nada disso. Apenas a sensação de estar num gigantesco espaço que, se eu não soubesse para que serve, diria ser um terrível vazio por preencher, rodeado de expectativas infundadas. Ainda assim...

Gostei de encontrar imagens como esta:

 

Gostei das cadeiras brancas, vazias, frugais, antigas, contrastando com tudo o resto, demasiado moderno, a fazer lembrar igrejas de agora, não igrejas de sempre.

Não gostei que se proibisse a mendicidade. Pareceu-me pouco católico, nada misericordioso.

Sorri com a possibilidade de benzer automóveis. Eu sei que se faz com barcos a aviões, mas a placa, assim, no vazio...

No fim da passagem rápida, ficaram estes pequenos nadas - que nalguns casos são bem mais do que nadas e bem maiores do que pequenos... -, e não ficou mais nada.

Era tão bom ter essa fé que me falta.

14
Jul11

Aproximação...

... Uma primeira aproximação à pista.

Este sábado, dia 16, eu e o João Gobern fazemos o Hotel Babilónia em directo e ao vivo a partir da Quinta das Lágrimas, em Coimbra. É a segunda vez, graças ao Festival das Artes (e são bem vindos os que quiserem aparecer por lá, não pagam nada...).

É bom sair do estúdio, mesmo que seja só para apanhar uns figos na cabeça e sentir a adrenalina do directo "fora do vaso". É bom porque falamos com outras pessoas e abrimos horizontes. É bom porque Portugal é bem mais do que os estudios onde tantas vezes nos fechamos demais.

No ano passado, além do óbvio que é todo o deslumbrante espaço da Quinta das Lágrimas, impressionou-me esta verdadeira barreira geométrica, paralela e implacável. É uma primeira aproximação.

 

13
Jul11

Divergência convergente

Eles tentaram mostrar que eram diferentes e divergentes – mas a condição em que se encontram é convergente. António José Seguro e Francisco Assis caminham para um mesmo lugar, e ambos se encontram emparedados entre a troika do presente e o PS de um passado demasiado recente. Presos aos factos, não há maneira de se afastarem – falta-lhes espaço de manobra. O t-zero é pobre e fica longe.

São obviamente candidatos ao lugar de “líder-de-transição”. Uma espécie de “escovilhão”, para não dizer carro-vasoura, que vem limpar os estilhaços da era-Sócrates. Acho sinceramente que ambos têm talento para mais e melhor, mas os tempos são para menos, e o estilo não chega para marcar a diferença.

Se eu fosse militante do PS, não sabia em qual deles votar. Ou melhor: votaria no lado Guterres que encontro em Seguro, mas ao mesmo tempo votaria na consistência e na solidez de Assis; não votaria no piscar de olhos liberal de Seguro, não votaria de todo na herança de Sócrates de que Assis (por mais curta que seja a memória...) é legítimo beneficiário.

Dito isto, venha lá o “aparelho” decidir.

12
Jul11

Nada me surpreende, nem o excesso de criatividade

O Governo está a “inventar” uma fórmula de cálculo para aplicar o imposto sobre o “subsídio de Natal” aos trabalhadores independentes, vulgo “recibos verdes”. É o meu caso.

Confesso que, nos dias que correm, acho tudo possível, até cobrarem por hora de sono, mergulho no mar, ou pela utilização do ar – mas não tinha ainda chegado ao ponto criativo a que os nossos governantes conseguem chegar: eles vão taxar sobre um subsídio que não recebemos, calculando a partir de um rendimento que não tem 13º mês. Ou seja, vão taxar sobre o vazio – mas curiosamente, esse vazio vai resultar em centenas ou milhares de euros por cada contribuinte. Nem o Luís de Matos conseguiria esta proeza.

Não tenho subsídio de férias nem de Natal. Não tenho qualquer espécie de regalia equiparada à mais básica que têm os trabalhadores por conta de outrem. Tenho férias quando posso, ou quem me contrata deixa – e quando deixa, é mau sinal, porque fico sem trabalho, logo, sem rendimento. Mas, como diria a Teresa Guilherme, “isso agora não interessa nada”: “inventa-se” o que não existe para cobrar o que não se ganhou. Em linguagem comum, eu chamaria a isto uma vigarice. Um roubo. Assalto à mão armada.

Mas é imaginativo. Lá isso é.

Em nome da crise, vale tudo. Até tirar olhos.

(O problema é se, um dia destes, aqueles que sofrem directamente com este tipo de injustiças decidem dar o troco na mesma moeda e achar que vale tudo menos tirar olhos – mas agora no sentido contrário. Temo o pior.)

10
Jul11

Domingo à tarde

 

Praia da Aberta Nova, há bocado

 

"Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim".
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente IV, tirado daqui, como sempre

08
Jul11

Foi sem querer

No Hotel que eu e o João Gobern gerimos, não há férias – Agosto é mês de porta aberta, ainda que alguns programas sejam gravados com generosa antecedência para que o João possa pôr os livros e os DVD’s em dia, assistir ao renovado Benfica com a atenção ainda mais focada, e descobrir mais música - e eu possa procurar a sardinha perfeita (estou longe disso, este ano, até agora...), testar o thesaurus dos sabores, e os mil projectos que vão potencialmente cobrir o orçamento agora a descoberto...

Um desses programas “especiais” de Agosto é dedicado a Elis Regina, como se pode “ouvir” num post uns centímetros abaixo... Quando estava a escolher canções e ler sobre a “Pimentinha”, passei por esta versão do fabuloso “Cais”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, e como o vídeo do You Tube era lindo, naquele contraste forte do preto e branco, postei-o sem pensar duas vezes.

Há bocado voltei a ouvir a canção. E descobri o Portugal de hoje em toda ela, do cais à procura da felicidade, do momento de “me lançar” à invenção “do sonhador”. Leiam este poema e digam-me lá se isto não somos nós, hoje, entre a Moddy’s e a austeridade, o mar aqui ao lado, o tempo perdido, o sonho adiado.

Somos nós, não somos?

Ou serei só eu?

 

“Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar”

 

Deixo uma outra versão notável, de Milton com Simone. Assim:


07
Jul11

O último texto

(Disponível aqui)

 

"Acho que descobri a política - como amor da cidade e do seu bem - em casa. Nasci numa família com convicções políticas, com sentido do amor e do serviço de Deus e da Pátria. O meu Avô, Eduardo Pinto da Cunha, adolescente, foi combatente monárquico e depois emigrado, com a família, por causa disso. O meu Pai, Luís, era um patriota que adorava a África portuguesa e aí passava as férias a visitar os filiados do LAG. A minha Mãe, Maria José, lia-nos a mim e às minhas irmãs a Mensagem de Pessoa, quando eu tinha sete anos. A minha Tia e madrinha, a Tia Mimi, quando a guerra de África começou, ofereceu-se para acompanhar pelos sítios mais recônditos de Angola, em teco-tecos, os jornalistas estrangeiros. Aprendi, desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia.

Aos dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitrariamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizemos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos.

Procurei, procurámos, sempre viver de acordo com os princípios que tinham a ver com valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria -, mas também com a justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções.

Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios, nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida, nem na morte. Suportei as rodas baixas da fortuna, partilhei a humilhação da diáspora dos portugueses de África, conheci o exílio no Brasil e em Espanha. Aprendi a levar a pátria na sola dos sapatos.

Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou -mesmo quando faltava tudo.

Regressada a Portugal, concluí o meu curso e iniciei uma actividade profissional em que procurei sempre servir o Estado e a comunidade com lealdade e com coerência.

Gostei de trabalhar no serviço público, quer em funções de aconselhamento ou assessoria quer como responsável de grandes organizações. Procurei fazer o melhor pelas instituições e pelos que nelas trabalhavam, cuidando dos que por elas eram assistidos. Nunca critérios do sectarismo político moveram ou influenciaram os meus juízos na escolha de colaboradores ou na sua avaliação.

Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus defensores por convicção, os meus adversários.

A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi--a com racionalidade, mas também com emoção e até com paixão. Tentei subordiná-la a valores e crenças superiores. E seguir regras éticas também nos meios. Fui deputada, líder parlamentar e vereadora por Lisboa pelo CDS-PP, e depois eleita por duas vezes deputada independente nas listas do PSD.

Também aqui servi o melhor que soube e pude. Bati- -me por causas cívicas, umas vitoriosas, outras derrotadas, desde a defesa da unidade do país contra regionalismos centrífugos, até à defesa da vida e dos mais fracos entre os fracos. Foi em nome deles e das causas em que acredito que, além do combate político directo na representação popular, intervim com regularidade na televisão, rádio, jornais, como aqui no DN.

Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.

Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.

Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará"

Maria José Nogueira Pinto

Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Mais comentários e ideias

pedro.roloduarte@sapo.pt

Seguir

Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2014
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2013
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2012
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2011
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2010
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2009
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2008
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2007
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D