Estava a ler "Intimidade", de Hanif Kureishi, e tropecei nesta frase:
“As palavras são acções e podem fazer com que aconteçam coisas. Depois de ditas não se podem mais recuperar".
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“As palavras são acções e podem fazer com que aconteçam coisas. Depois de ditas não se podem mais recuperar".
A APTCA fica na Av. Alm. Gago Coutinho, 90, Lisboa. E quem vier por bem é bem vindo!
O meu pai faria hoje, dia 16. O meu filho faz na terça, dia 18. A minha irmã Fátima fez a 13. A minha (grande, enorme) amiga Cila fez ontem, dia 15. O meu (grande, enorme) amigo Manel fez também no dia 13, e este ano foram 50, número redondo...
Mais gente de quem gosto muito “calha” neste mês: a Filipa Pinto Cardoso, o Nuno Miguel Guedes, a Fátima Pereira, a Isabel Jorge de Carvalho, a Sónia Marques, o Elvis, a Anabela Mota Ribeiro, a João Calado...
Para lá dos signos – Balança, na esmagadora maioria dos casos – o que me fica é o mês de Janeiro. Ano novo, frio, quentinho do edredon, e a coisa dá-se. Depois nascem todos em Outubro. Parece-me bem, e eu próprio terei sido sensível a essa conjugação de factores.
... Já os meus pais, quando me produziram, estava calor que fervia, era Agosto. Deve ser por isso que eu tenho o sangue quente.
Domingo serve para este tipo de pensamentos, tolices sem nexo, mas também sem consequências.
Há um facto incontornável: tem havido festa. E vai continuar.
É frequente ler matérias na imprensa e perceber o que está por detrás de opiniões, ideias, às vezes até noticias. Apetece traduzir? Apetece.
Um exemplo. No Correio da Manhã de ontem, numa notícia sobre a nova composição da Entidade Reguladora da Comunicação – efectivamente polémica na indicação prévia de um Presidente que supostamente seria escolhido de outra forma (se eu fosse o Carlos Magno, saltava já fora daquele barco, mas enfim, cada um sabe de si…) – é ouvido o putativo crítico de televisão Eduardo Cintra Torres. E depois de chamar “crime perfeito” à escolha de Magno, remata: “Sou completamente contra este processo de escolha. O que temos é um organismo que não é definido pelas qualidades das pessoas, mas pela filiação partidária”.
Tradução das palavras de Eduardo Cintra Torres: “eu quero ser o Presidente da ERC, ou quero pelo menos ser da ERC, e irrita-me esta coisa do bloco central nunca mais me escolher, o tempo a passar e eu aqui a escrever o Olho Vivo. Consegui tornar-me crítico do Público, e sabe deus com que dificuldade, consegui tornar-me professor universitário, já consigo compor umas frases inteiramente minhas por entre citações de gurus, e nunca mais me atribuem o grau publico de Sebastião da Lima Rego do século XXI. Que chatice”.
(Crónica originalmente publicada na Lux Woman, há já dois meses, sobre tema aqui vagamente abordado... Ainda não sabia que o Governo pretendia asfixiar de vez a classe média. Trata-se certamente de uma medida pensada e inteligente, e caso haja duvidas, todo eu sou ironia, para não dizer lágrimas...)
Ora bem, vou também dar um contributo para a crise. É a palavra de ordem, a desculpa, a culpada, a substituta do atraso, do “agora não posso”, do “ligo-te para a semana”. Até nisso poupamos, são apenas cinco letras e está tudo explicado: crise. Devemos ser solidários, amigos, braço dado. Devemos fazer de conta que não percebemos que a crise, esta crise, tem menos a ver connosco, comuns trabalhadores e cidadãos, e mais a ver com “eles”, maus governantes, empresários ambiciosos e com poucos escrúpulos, especuladores que vivem do negócio do dinheiro disfarçados de “agências de rating”. Mas isso, diria um amigo, “são outros quinhentos”.
Para o caso, interessa que temos menos dinheiro e queremos ser felizes na mesma. É fácil desenhar o manual da poupança caseira, ou atirarmo-nos à máquina de calcular para ver onde se corta, mas confesso que me parece pouco estimulante – até porque, se formos rigorosos, podemos cortar tudo, excepto a alimentação, a saúde, a educação. O tecto, no limite, mesmo que arrendado...
No meu caso, procuro ser imaginativo e, entre outras medidas, parte da solução – ou do “esforço de crise”... - custou-me 25 euros. O preço aproximado do livro “The Flavour Thesaurus”, de Niki Segnit, autora de uma coluna sobre combinações de alimentos no jornal britânico The Times, e uma especialista de gastronomia (que até descobriu a sua vocação há poucos anos – ou seja, uma mulher que nasceu já na crise...). Ainda não está traduzido em português, mas tenhamos esperança.
Niki passou os últimos anos a estudar combinações de sabores e produtos, e o resultado desse estudo é um livro onde se responde às perguntas mais (ou menos...) óbvias: o bacon e o chocolate combinam? A avelã fica bem com a banana? E que tal ovos e caviar, como Sinatra e Ava Gardner terão demonstrado em filme clássico? Café e cardamomo têm algo em comum? E se for canela com figos? Quais são as ervas aromáticas mais adequadas ao peixe? A laranja e o açafrão são primos?
Organizado como um dicionário, o livro é um manual de economia caseira para quem gosta de cozinhar e arriscar, sem com isso criar desperdício. Evita o tortuoso caminho que vai da ideia ao prato, deixando para o cozinheiro apenas o que interessa: faz sentido? Já se fez? É bem combinado, é mal combinado? Vamos em frente.
Sei que esta ideia “contra a crise” contraria outra, bem mais interessante, que alimenta os optimistas: em tempos difíceis abrem-se espaços para as novas oportunidades, tudo se pode experimentar e viver. Com certeza que sim.
Mas quando se chega à cozinha, nos confrontamos com as compras feitas no supermercado, e pensamos naqueles a quem fazem falta os produtos que, apesar de tudo, podemos adquirir, há qualquer coisa de irracional que nos conduz a esta poupança. Não estragar. Não “deitar fora”, que é expressão de um tempo que acabou, porque já não há “fora”, há caixotes de lixo separado e com cores diferenciadas... Adiamos o tempo da experimentação e, com o auxílio deste precioso dicionário, podemos continuar a inovar na cozinha sem o peso-pesado do desperdício.
Além disso, podemos sempre sonhar com o dia em que possamos misturar ovos e caviar, porque esse será o dia em que teremos dinheiro para tão desmedida loucura.
Se gostamos de inovar e arriscar – eu gosto... -, vale a pena os 25 euros de um livro. Explica-nos a lógica da combinação de sabores e até nos conta histórias de um passado já experimentado. Deixa-nos um nadinha mais tranquilos. Porque a verdade é só uma: estamos todos no mesmo barco. E o barco parece persistir na ideia de ir ao fundo.
... Lembrei-me desta capa de Constantin Alajálov para a New Yorker (Março de 1938). Somos todos o capuchinho vermelho? Uns mais do que outros, mas quase todos...
Estava no meu “café da manhã”, que é como quem diz, estava na crónica do Miguel Esteves Cardoso no Público. Li assim:
“O dinheiro não compra a felicidade, mas alivia a infelicidade. O dinheiro não compra a felicidade, mas torna a infelicidade mais pura, livrando-a das distracções desconfortáveis, provocadas pela falta de dinheiro, que concorrem com ela, disputando prioridades.
A felicidade está para o dinheiro como o riso para o meio de transporte. Há uma relação – mas estão apenas vagamente relacionados. Dito de outra maneira, é mais fácil estar-se triste quando não se tem dinheiro. A frase propagandística tem de ter alguma verdade para funcionar. Sim, o dinheiro não compra a felicidade – mas isso é uma frouxa máxima para quem tem dinheiro e, por causa disso, pensa que pode ser feliz”.
O Miguel tem razão, como de costume.
... E lembrei-me de imediato de uma frase que fixei há anos – há tão pouca coisa que eu fixe.. – e que felizmente a Internet me permite citar, porque lhe descobriu a autoria (Paul Laffitte): “Um idiota pobre é um idiota, um idiota rico é um rico”. No fundo é isto.
A democracia nunca falha. A hora que dá é a hora que é no lugar onde está. Acerta sempre – e o que dela resulta é o que a democracia é, onde se diz que está.
Há um ano, na Islândia, a democracia, num país civilizado, culto e politicamente instruído, levou o seu ex-primeiro-ministro Geir Haarde a tribunal para responder à acusação de negligência no colapso do sistema financeiro do país em 2008 e ao falhanço dos mecanismos para evitar a crise e gerir as suas consequências.
Ontem, na Madeira, a democracia, num país pouco civilizado, inculto e sem qualquer nível de instrução politica, renovou a maioria absoluta de um homem que tem uma ilha economicamente a naufragar e se prepara para afundar o que dela resta.
Impávidos e serenos, os seus pares no continente assistem a tudo isto sem piar.
No pior e no melhor, a democracia é assim mesmo e não falha: dá todas as oportunidades para que o povo, soberano e em maioria, se manifeste. Quando os governos contribuem para que o povo julgue com consistência e saber, em consciência e com cultura politica, estamos na Islândia. Quando os governos fazem tudo para que o povo vote em slogans, demagogia, inaugurações e betão, e garante o sossego da ignorância com um voto tranquilo e seguro, estamos em Portugal.
Alberto João Jardim não é diferente da esmagadora maioria da classe política que governa o continente desde 1974. Cultivam todos a ignorância, apostam tudo na demagogia, e vivem na expectativa de vencer o desconhecido.
Jardim dá nas vistas, tem mais lata, e diverte-se com a sua forma de exercer a governação - o que acaba por o distinguir dos seus pares. Mas isso seria um pormenor, não se desse o caso de esconder uma tragédia. Lá está: votaram nele. Espero que o aturem. Especialmente, espero que desta vez os madeirenses “aturem” também o custo financeiro da lata habitual de Alberto João Jardim.
Às vezes perguntam a quem faz rádio sobre a magia da rádio (ou o "bichinho", que vem a dar no mesmo).
Quem a sente, não sabe responder.
Quem não a sente, fala sobre ela.
O que daqui resulta é simples: a magia da rádio existe. É mais imaginação do que facto, mais coração que razão. Mas fica connosco para sempre.
Quando voltei à rádio, em 2006, estava há dez anos em doca seca. Agora, que estou há cinco “de volta”, nem sei como aguentei os outros dez. Ou sei. Mas não muda nada: estava tudo como estava. Foi só voltar a abrir o microfone. Quem sente e sabe a magia da rádio, sabe o que isto é.
(Acho que ainda um dia vou escrever um post assim sobre jornais e revistas.)
Capa da próxima edição já em estreia online:
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