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Pedro Rolo Duarte

26
Mai11

The face of the book

(As crónicas que assino diariamente na Antena 1 são, pela sua natureza, marcadas pela oralidade, juntam citações de blogues e redes sociais, e não merecem mais do que os minutos de áudio a que têm direito. Hoje, porém, excepcionalmente, acho que faz sentido replicar aqui, em texto, a crónica que foi para o ar há minutos...)

 

Na segunda-feira passada começou a circular na Internet um vídeo de uma violentíssima agressão de duas adolescentes a uma terceira, perante o olhar divertido de um grupo de rapazes, nomeadamente do que filmava e dizia “isto vai tudo para o Facebook”. E foi. É um vídeo de uma violência sem descrição, e acima de tudo, um momento de verdadeira insanidade, dado que a vítima está sozinha, é agredida por duas raparigas, e ninguém à volta se mexe. Os rapazes que observam a cena gozam, riem, como se estivessem a assistir a um combate de boxe.

O facto de o vídeo ter sido colocado no Facebook tornou fácil a confusão do costume: de repente, a rede social é que era a culpada da cena, ai Jesus, vamos lá diabolizar a internet.

Nada disso, claro. O que temos de pensar é obviamente como se educam os jovens em Portugal, como se permite que a violência gratuita não provoque mais do que risada e gozo. Neste caso, o Facebook até foi útil – porque a estupidez dos adolescentes, ao mandarem o vídeo para a net, tornou-os imediatamente cúmplices e culpados. Pior: um grupo de anónimos criou na hora um blog, o Rudolfo e as suas Renas, onde se reproduziram em JPG’s os diálogos entre os vários jovens no Facebook – diálogos que, quando o vídeo chegou à televisão, foram prontamente apagados. Quem se der ao trabalho de ler esse blog vai descobrir um verdadeiro mundo de violência juvenil, de ignorância e analfabetismo de toda a ordem (é rara uma palavra estar bem escrita ou sequer bem empregue), e uma cultura muito abaixo de rasca. Parece que já foi detido o autor do vídeo, os envolvidos já foram identificados – não é difícil: através do blog conseguem identificar-se, via facebook, todos eles – e o caso segue nos tribunais.

Mas o que fica deste episódio, na internet mas especialmente nos jornais, é uma vez mais essa diabolização de uma rede social por manifesta incompreensão do que está em causa. O que se passou em Benfica foi uma briga de adolescentes, assistida por outros adolescentes que gozaram o prato de forma animalesca, sem dó nem piedade. Dá que pensar? Claro que dá. Agora, traduzir isso para um crime inspirado pelas redes sociais, é não apenas confundir a estrada da beira com a beira da estrada, como é um mau trabalho jornalístico. Razão tem no seu blog Helena Sacadura Cabral quando escreve: “Vantagens e, simultaneamente, inconvenientes, das redes sociais e portanto da internet. Mas que fazem pensar naquilo que queremos para nós como comunidade!”.

E é exactamente isto: o exibicionismo barato de um vídeo permite a estes pequenos criminosos serem gente por um dia e exibe o nível de valores e o tipo de ética que (não) lhes assiste – mas sem ele, talvez nunca chegássemos a debater que raio de jovens andamos a educar. Entre a ignorância e a informação que preferíamos não ver, apesar de tudo é melhor saber com o que contamos por aí. Nem que seja para, como faz Nuno Dias da Silva, defender a diminuição da “idade penal para os 14 anos para deixar de mandar estes inimputáveis para casa como se nada fosse”. É uma primeira ideia. O debate devia continuar. Não por causa do Faebook, mas graças a ele.

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