Estar em 2012
Estar na oposição, no momento que vivemos, é extraordinário:
- Critica-se o poder, sem culpas nem remorsos, porque o passado já não conta.
- Pode dar-se por certo que a seguir será a vez de quem agora está do contra.
(O item anterior não se aplica ao PCP, mas ele também já sabe disso vai para 30 e tal anos)
- Todos os males têm cura, porque não lhes cabe serem médicos, apenas treinadores de bancada.
- Tudo o que o Governo faz está mal feito porque é suposto, na oposição, ser assim.
- A greve geral, que antes era acintosa e injustificada, passa agora a ser um grito de revolta merecido e amplamente justificado.
- O sindicalismo, antes liderado pelas forças do mal, é agora a mirífica salvação dos trabalhadores.
- Jornais, rádios e televisões são sempre culpados de tudo. O mensageiro é o demónio.
Estar no poder é também muito agradável:
- Impõem-se medidas de excepção que não se aplicam a quem justamente está no poder, porque cortar regalias a quem ganha 1500 euros, ou menos, é bem diferente de cortar a quem ganha 4000 ou 5000 euros.
- Colocam-se amigos em lugares-chave – de hoje para amanhã, são esses amigos que nos garantem um futuro tranquilo -, e cria-se a chamada “rede de contactos” que faz de qualquer secretário de estado ou chefe de gabinete um putativo administrador executivo (ou não, dá igual) de um banco ou de uma empresa de construção civil. Não tarda uma legislatura e é isto.
- Vive-se em sacrifício, prejudica-se a família, mas é tudo a bem da Nação, ainda que a Nação não note hoje o benefício dos que, no passado, se sacrificaram da mesma maneira.
- Jornais, rádios e televisões são sempre culpados de tudo. O mensageiro é o demónio.
Não estar num lado nem noutro é que é uma chatice. A única vantagem é dormir bem.
(Mesmo assim não tenho a certeza de que eles não durmam todos bem, sejam Isaltinos ou Coelhos ou Sócrates ou Lopes... E isso chateia-me, sim.)