Memórias de infância
"O cadeirão casou com a cadeirinha.
Nasceu um banco.
Não quis estudar
e foi para banco de cozinha."
Mário Castrim, Histórias com Juízo
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"O cadeirão casou com a cadeirinha.
Nasceu um banco.
Não quis estudar
e foi para banco de cozinha."
Mário Castrim, Histórias com Juízo
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man weep,
but I don't weep,
do you?
(Bluebird, by Charles Bukowski)
Ao ver, na televisão, o ar surpreendido e indignado do líder da Oposição, António José Seguro, face aos números do desemprego (e do desemprego jovem, em particular), interroguei-me sobre o país onde terá vivido o secretário-geral do PS nos últimos anos. Dizem-me que ele se opunha a Sócrates, mas isso não responde à minha questão:
- Onde raio terá vivido António José Seguro nos últimos anos para achar que pode mostrar-se surpreendido com a miséria em que vivemos? Qual é a parte de “nem há um ano era o PS que governava” que ninguém lhe recordou?
Tira-me do sério esta ideia de que passar à oposição significa em simultâneo “passar a limpo” o passado e começar do zero. O PS já fala como se estivesse na oposição desde, pelo menos, Outubro de 1910 - e isso traduz um pântano político sem nome.
Alguém devia explicar a António José Seguro que persistir na inversão de papel a cada mudança – e repentinamente aparecer como se acabasse de deixar uma tribo aborígene e aterrasse em Portugal, além de fazer do eleitor um atrasado mental, é mero fogo-de-artifício numa situação que todos, em rigor, vivemos e conhecemos.
O meu conselho é este, António José Seguro: deixe de fazer teatro, e pense que, de cada vez que fala “aos portugueses”, está a falar aos mesmos que não quiseram mais ouvir o nome de José Sócrates. Das suas políticas. Do Portugal do TGV e do Magalhães – o país que estava falido mas fazia de conta. Ou seja: pense que tem direito à Oposição, mas tem de ter respeito por quem não mandou a memória dos factos para Paris, ou para a administração de uma qualquer empresa ligada ao regime.
Mario Testino assina pela primeira vez a capa-tripla da VF deste mês. Revista de aniversário, "The Hollywood Issue", enfim: só argumentos para nos rendermos a quem sabe. E quem sabe...
Aqui há tempos deixei isto aqui no blog. Hoje, que passam 25 anos sobre a morte de José Afonso, cá está de novo.
Porque há coisas que se podem, devem, e dão gosto repetir até à eternidade.
São poucas, mas são assim, avassaladoras, como esta canção:
Leio Lars Von Trier na Esquire: “Quando era pequeno tinha uma estante em casa onde punha as coisas de que mais gostava: um boneco de um super-herói, ume pedra que tinha apanhado no bosque e outros tesouros parecidos. Gostaria que os meus filmes se parecessem com aquela estante”.
Gostaria que a minha vida fosse como essa estante. E faço por isso.
(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman)
Aqui há dias fui fazer um workshop de sushi e sashimi – em rigor, aprender o básico sobre a preparação do arroz, o corte do peixe, o enrolar da alga naqueles rolinhos que “primeiro se estranham e depois se entranham”, como tão genialmente escreveu Pessoa sobre a coca-cola. Na verdade, depois de anos e anos de quase clandestinidade, os restaurantes japoneses ganharam o gosto e o estatuto, tornaram-se moda, e depois da moda vão ficar como os chineses, os indianos, os italianos, formando o leque de opções que ainda nos suscitam uma saída nocturna, ou um almoço de trabalho.
Mas não era sobre isso que eu queria escrever. Era sobre aquele momento. Não conhecia ninguém envolvido na ideia, descobri o workshop no Facebook, inscrevi-me e fui. Um sábado à tarde. Pensei: o pior que pode acontecer é ter de jantar o sushi que fizer com pessoas que não conheço (e eventualmente poder não gostar de alguma delas…). Isso era certo e seguro. O resto: preço convidativo justamente porque no fim da tarde de aprendizagem os “alunos” comeriam o que tinham produzido. Por um valor pouco acima do que pagariam por uma refeição num bom restaurante japonês.
Quando cheguei ao local, além de verificar que havia mais homens do que mulheres a aprender, percebi que a “sushi-woman” era uma normalíssima profissional de outras artes que tinha feito um bom curso de cozinha japonesa e transformara o seu hobbie num rendimento extra. Com mails posteriores a explicar o que faltava: “Desligue o lume e deixe ficar com a tampa semi-fechada mais 15 a 20 minutos. Reserve a alga. Coloque o arroz numa tigela ou tabuleiro de madeira, de forma a absorver a humidade ainda existente. Deixe arrefecer e tempere com o preparado de vinagre, açúcar e sal”. Por aí fora…
A tarde foi animadíssima, o resultado foi razoável (não foi o melhor sushi que comi, mas já passei por bem pior, e este sempre foi feito por nós…), e acho que sou capaz de fazer uns rolinhos cá em casa... Mas o que ficou daquele episódio, e o que não consegui deixar de pensar, foi a circunstância de haver cada vez mais gente a virar a cara à crise, a dizer “não vais tomar conta de mim”, “não me deprimes”, e a dar a volta pelo lado menos óbvio. Cozinhar para fora? Cozinhar para fora. Colocar os nossos conhecimentos ao dispor dos outros, em workshops, cursos ou simples fins-de-semana de “aprenda a fazer pop-ups”? Porque não?
A crise condena-nos a viver com menos – mas não nos obriga a viver menos. Não escrevo isto de ânimo leve – faço parte daquele generoso grupo de pessoas que, sendo escrupulosamente cumpridor, adora ter um pretexto para não fazer o que tem de fazer. De novo Pessoa: “Ai que prazer / não cumprir um dever. / Ter um livro para ler / e não o fazer!”. Sou desses, e não escondo.
Mas também não me deixo derrotar por conta de uns tipos que, pura e simplesmente, não souberam governar-nos, foram incompetentes, são mentirosos de corpo e alma, e ainda riem na nossa cara, aqui em Lisboa ou ali em Paris. Não. Não lhes posso tirar tudo o que têm e limitá-los ao Rendimento Social e de Reinserção – era o que estavam a pedir… -, mas posso rir-me na cara deles e dizer: nem com a vossa incompetência e aldrabice me roubaram a vontade de ser feliz.
E esse foi o ponto na tarde passada à volta da “gota zen”, da alga bem rija e do corte do peixe: aquela dúzia de pessoas que ali se juntou numa grande mesa tinha em comum essa vontade. Esse espírito. À ideia de derrota, contrapor vitória. À tentação de desistir, procurar resistir. Não queríamos ficar amigos uns dos outros – mas naquele bocado, fomos amigos, ajudámo-nos, aprendemos, partilhámos. Foi uma lição dos tempos que correm.
Um sinal também, e uma frase clássica: o que não nos mata torna-nos mais fortes. Nem que seja a golpes de faca japonesa…
Por que raio as pessoas desistem de politica?
Entre outras razões, porque vêem, como eu vi, um tipo que há pouco mais de meio-ano era ministro e dizia que Portugal era um oásis, ou perto disso, estar agora na RTP a dizer que o ultimo semestre de 2011 deu cabo de Portugal e que estamos, por fim, à beira do abismo...
Era meio-Relvas do PS, ou seja, era Pedro Silva Pereira. Ali está, com aquele nariz em formato recepção de bola encarnada de palhaço, redondo e achatado, a falar da oposição responsável mas, basicamente, a culpar o PSD pelo estado da nação.
O PS, já sabemos, ía a caminho da missa, com Sócrates na frente.
Este homem, Pedro Silva Pereira, há menos de um ano era ministro da Presidência de José Sócrates. Portugal bastava-se sozinho, sem troika nem nada. Portugal iria investir num novo aeroporto e no TGV, porque sim. Portugal era o oásis da Europa.
Foi o que se viu.
As pessoas desistem da politica porque vêem Pedros Silvas Pereiras fazer contorcionismo para eternizar esta bolinha de ping-pong entre o PS e o PSD. Já tínhamos visto o mesmo do outro lado. Não tem nada que saber. Só espero que os filhos do meu filho, meus netos, estudem na escola este tempo e vejam, à distância, como a falência de um país resultou directamente da mediocridade das gerações que, nestes últimos 30 anos, elegemos (sim, elegemos, estamos no mesmo barco...) para governarem o pedaço.
Lembro-me de uma peça de teatro: “E Não se pode Exterminá-los?”
Generalizou-se a ideia de que a internet é um caos, os blogues são dominados por anónimos inimputáveis, e aqui não chega a lei comum. Uma selva, portanto, onde vale tudo, a difamação e a mentira reinam, e o crime não tem castigo.
Nada mais falso. Deixo-vos um anúncio que encontrei há dias no Correio da Manhã. Um bom aviso para quem efectivamente tenta fazer da rede um ninho de víboras...
(Ironicamente, muito ironicamente, as desculpas são para Isaltino Morais... )
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