Gosto de ambos, e ao fim-de-semana mais ainda...
... Coisa que a R. bem sabia quando me ofereceu "Um Livro Para Todos os Dias". E melhor sabe hoje. Sabemos.
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... Coisa que a R. bem sabia quando me ofereceu "Um Livro Para Todos os Dias". E melhor sabe hoje. Sabemos.
Em todas estão todos aos gritos. A mentir. Ao telefone. Nunca são filhos de quem são. Mesmo quando se beijam, são beijos roubados. Choram. Insultam. Desconfiam. Batem portas como se fosse sempre a última vez e nunca os automóveis arrancam sem ser de forma radical. Riem nervosamente e desabafam em transe. Quando lamentam, parece que vão morrer de seguida. Quando se escondem, mostram-se.
Este deve ser o maior elogio jamais feito às novelas portuguesas: já não as distingo das outras.
Mudo logo de canal. Não aguento o som carregado de más energias que sempre vem dali. Estou a chegar à fase em que praticamente só aguento programas sobre gastronomia. O defeito deve ser meu.
Isto sou eu a tentar explicar a mim próprio, como se tivesse 3 anos, o que leio por aí:
Por um lado a democracia é, de entre todos, o mais aceitável dos regimes, porque permite que a maioria escolha o que quer e quem quer para seu governo.
Por outro lado, à esquerda, parece evidente que quando a maioria, ou uma dose generosa de eleitores, escolhe uma opção de direita mais extrema ou radical, o regime “é preocupante” e torna-se “ameaçador”. Nestas circunstâncias, a democracia é muito aborrecida e há quem concorde com a social-democrata Ferreira Leite e a sua imaginativa interrupção voluntária do regime por seis meses.
À direita, quando a esquerda ganha, como sucedeu ontem em França, na verdade não terá ganho – o que aconteceu foi que a direita não soube passar a sua mensagem e a esquerda travestiu-se de liberal.
Já em Portugal, o que o Governo legisla é criticado e chumbado pelo PS, que legislaria da mesma forma se não estivesse na oposição, e o PSD aplaude o Governo, da mesma forma que apuparia e votaria contra se acaso o Governo fosse liderado pelo PS.
Ou seja, entrámos definitivamente no grau zero da política. Está aberto o espaço para o populismo barato, e está fechada a porta do debate sério, inteligente, e adulto. Chegou a hora de reconhecer a voz do povo: é tudo a mesma açorda.
É pública a minha oposição fundamentalista à cópia não autorizada, aos leitores de jornais que lêem mas não pagam os jornais que consomem nos pontos de venda, à pirataria na música e no cinema. Eu sou um dos tais – os chamados tansos... – que compra os discos online, ou as canções, mas também os filmes, os livros, tudo.
Percebo o argumento mais básico – se é possível ter de borla, porquê pagar? -, mas não deixo de presumir que esse raciocínio levará, a prazo, a uma deterioração da criatividade e produção culturais, porque o estimulo diminui na proporção da queda de rendimentos e porque, no limite, haverá quem não crie porque sabe que a sua criação vai ser usurpada, roubada, violentada.
Já sei que é uma guerra perdida, cá fica para o que der e vier...
Mas só a trago aqui ao blog porque hoje eu próprio cometo o crime, abaixo jpegado. É certo que o faço em tempo razoável – saiu no Público de ontem, que hoje já não está à venda -, por uma causa maior (a memória de Fernando Lopes), e por conta de um autor amigo (do qual ando atrás, sem sucesso, há semanas – se alguém me puder fornecer o contacto actualizado, ficarei grato...).
Dito de forma mais simples: a crónica de Vasco Pulido Valente, no Público de ontem, sobre Fernando Lopes, é um momento de génio e humanidade. Aqui o deixo, livre, correndo o risco do crime que não cometo, certo de fazer o que devo. Há contradições que só a educação de cada um pode explicar.
Ainda assim, leiam:
A única certeza que tenho sobre o “episódio Pingo Doce” é esta: se acaso tivesse ocorrido num período sem austeridade, em tempos de vacas gordas e expansão, o resultado seria exactamente o mesmo. Qual é a parte do “isto não é fome, é vontade de comer” que escapa por aí?
A mesma miséria humana da corrida à borla e ao desconto – já vi homens à bulha por uma máquina fotográfica digital -, a mesma fúria das campanhas eleitorais em que se ofereciam sacos de plásticos e canetas sem tinta, a mesma loucura que o meu pai tão bem descrevia quando contava a história de um lugar de estacionamento disputado aos gritos sob a frase “Vai já lá!”. Ou as histórias que enchiam a mesa de jantar quando o pai descrevia os concorrentes de concursos de televisão, os figurantes, os que tentavam dar o golpe. “O melhor amigo do homem é o cão, o pior é o concorrente de concursos de televisão”, fixei a frase. E já eram os anos 80...
Bom, o “caso” Pingo Doce. Fazer politica assim, aproveitando o momento dramático para o sublinhar de forma falaciosa e constituir explicação para tudo, é tão fácil. Basta dissolver as ideias nas mais básicas pulsões humanas. Uma espécie de “achocolatado”. A metade do preço, claro.
Não gosto do sabor.
Saiu hoje. É nova. É a Playboy como sempre devia ter sido. Bem sei que ninguém quer ver mulheres lindas, todos querem ler os artigos de fundo da revista...
... Por isso vos deixo o segredo do sucesso do casamento de José Eduardo Moniz:
“Para começar, a grande capacidade para perceber o que o outro é, ser tolerante com os defeitos do outro... Gostar das coisas boas é fácil, agora aprender a tolerar aquilo que são as coisas menos boas é que é o desafio de uma relação - sobretudo, aprender a não deixar que o nosso orgulho ou convicções pessoais amarfanhem o outro. Depois, bom, saber gerir o que se diz, e o silêncio, saber gerir a presença e a ausência”.
Aprendam. Leiam. Eu gostei de fazer a entrevista. Agora resta que haja quem goste de a ler...
Inteiramente de acordo com José Manuel Fernandes:
“A verdade é amor — escrevi um dia. Porque toda a relação com o mundo se funda na sensibilidade, como se aprendeu na infância e não mais se pôde esquecer. É esse equilíbrio interno que diz ao pintor que tal azul ou vermelho estão certos na composição de um quadro. É o mesmo equilíbrio indizível que ao filósofo impõe a verdade para a sua filosofia. Porque a filosofia é um excesso da arte. Ela acrescenta em razões ou explicações o que lhe impôs esse equilíbrio, resolvido noutros num poema, num quadro ou noutra forma de se ser artista. Assim o que exprime o nosso equilíbrio interior, gerado no impensável ou impensado de nós, é um sentimento estético, um modo de sermos em sensibilidade, antes de o sermos em razão ou mesmo em inteligência. Porque só se entende o que se entende connosco, ou seja, como no amor, quando se está «feito um para o outro». Só entra em harmonia connosco o que o nosso equilíbrio consente. E só o consente, se o amar.”
Vergílio Ferreira
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