Ainda a propósito deste post, vejo os números de vendas da imprensa no primeiro semestre de 2012. É assim:
Há 41 811 portugueses que deixaram de comprar jornais diários, incluindo os desportivos, por comparação com o primeiro semestre de 2011. Ou seja, venderam-se menos 7 milhões e meio de exemplares.
Há 25 547 portugueses que deixaram de comprar semanários, incluindo as duas newsmagazines que circulam, por comparação com o primeiro semestre de 2011. Ou seja, venderam-se menos 613 mil exemplares.
A tendência não oferece dúvidas – o que torna ainda mais surpreendente o imobilismo dos meios. Provavelmente, a imprensa replicará o país: quando estiver à beira do abismo, vai à procura de uma troika que a salve. Nem que venha de Angola.
Num momento tão crítico e sensível, num momento em que os nervos estão à flor da pele, o medo do abismo tolda os movimentos, e já não é o futuro, mas o presente, que nos apoquenta, todos os cuidados são poucos quando temos responsabilidades e falamos publicamente. As palavras são hoje como balas – porque a guerra está ainda no domínio das ideias, não saiu à rua... -, e servem à medida para quem se confronta na praça pública.
Neste quadro, a afirmação de Fernando Ulrich, presidente do BPI – “O país aguenta mais austeridade?... Ai aguenta, aguenta. Não gostamos, mas aguenta” – é muito infeliz. Triste frase, ainda que na essência não traduza nada do outro mundo.
Aos políticos exigimos uma atitude de seriedade no trabalho e respeito para com o sentir dos cidadãos, e fazemo-lo porque exercemos o poder de os eleger.
Aos banqueiros, não podemos exigir muito, porque eles devem lealdade apenas aos accionistas dos bancos que lideram. Porém, podemos pedir que não brinquem publicamente com os seus estados de alma como andaram anos a brincar com o dinheiro dos outros.
E talvez isso seja o mesmo que pedir a pessoas como Fernando Ulrich para cuidar das palavras antes de as usar. Mais ou menos como presumimos que faz com o dinheiro. Pelo menos, com o seu dinheiro.
Blog da semana
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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