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Pedro Rolo Duarte

09
Nov12

O Banco Alimentar é maior do que alguns minutos de televisão

Não demoro neste tema: o momento televisivo de Isabel Jonet, que tem “abalado” a comunidade, e que podem ver aqui, é infeliz, e tenho a certeza de que a própria, ao revê-lo, nele não se revê. Pode perceber-se o que quer dizer, mas não se percebe o desastre que foi a forma como disse, a falta de jeito e cuidado no discurso, a displicência na atitude. Num momento critico como o que vivemos, o rigor das palavras, quando se fala de pobreza, é crucial. E aqueles minutos parecem fatais. É indiscutível, portanto, que Isabel Jonet teve um daqueles desaires mediáticos que deitam a perder anos de dedicação, entusiasmo, entrega e trabalho que tem tido na liderança do Banco Alimentar Contra a Fome. Ela protagoniza, a um tempo, o melhor e o pior da mediatização absolutista do nosso tempo: quem usa os meios para veicular a mais solidária mensagem, é por eles destruído quando tropeça no discurso e aligeira o peso de um drama real. Como se fosse picada pelo mesmo escorpião que lhe pede boleia para atravessar o rio...

Dito isto, aqueles minutos de televisão são gotas de água no oceano de solidariedade que o Banco Alimentar Contra a Fome tem constituído. E também são gotas de água nos anos de entrega e empenho que Isabel Jonet tem dedicado a quem efectivamente precisa de apoio e ajuda. Destruir o nome da pessoa, e da instituição, por causa de um momento infeliz de televisão, é admitir que o circo mediático tem mais poder do que a causa, o trabalho, e o valor, que os anos foram demonstrando, provando, e mais do que isso: fazendo.

Fazer ainda vale mais do que só falar, digo eu. Deixemos o Banco Alimentar fazer, com a Isabel Jonet, e admitamos que errar quando se fala é bem menos grave do que errar porque nada se faz.

08
Nov12

Lembrar e esquecer

 

No domingo passado espreitei o mercado de novos e usados do CCB, desta vez francamente ampliado. Gosto de andar por ali a ver o que produz quem decide criar novo, artesanal, à mão, mas também gosto de tropeçar em antiguidades, ou em memórias. Desta vez, caiu-me um calhau em cima da cabeça, um daqueles flashs que deixam qualquer um de cara à banda: uma memória de infância desaparecida! Se eu não tivesse visto, numa banca de papelada antiga e livros, uma série de folhas de Actiontransfers, jamais me lembraria de que aquela foi uma das minhas obsessões de infância: folhas de decalques com pessoas, animais, objectos, que se “colavam” numa espécie de álbuns que constituiam, ao mesmo tempo, capa e guarda-decalques. A paixão começou porque o meu pai usava letraset – letras decalcáveis em papel – em alguns dos seus trabalhos, e eu era fascinado por aquelas letras mortas que ganhavam vida quando saltavam das transparências para o papel.

Mas os Actiontransfers eram muito melhores – além de coloridos, eram bonecos, animais, objectos, que se decalcavam para cenários previamente impressos, onde ficavam a brilhar e permitiam todos os sonhos. Eu era apaixonado por aquilo, e lembro-me de passar horas a olhar para um soldado, observar o cenário, e escolher com rigor o lugar onde ía ser “imortalizado”. Domingo passado, quando os meus olhos se fixaram numa capa de Actiontransfers na banca da feira do CCB, parecia que estava a ser sugado por um aspirador de memória. Como é que me esqueci dos Actiontransfers? Como é que me lembro da revista Recreio, dos soldados da Airfix, dos carrinhos da Matchbox, dos livros dos sete, das tardes da Vovó Donalda, e apaguei o ficheiro dos Actiontransfers? Desde esse dia que ando a tentar perceber o mistério. Será trauma ou casualidade? Ou apenas a natural hierarquia das memórias? É o mais provável. Mas não me conformo, porque abri um precedente no que julgava ser uma ainda boa memória de infância. De que mais me terei esquecido?

Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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