Ousar David Sylvian é um risco e um mergulho em águas cuja profundidade se desconhece. Mas a Marta Hugon é, além de uma excelente intérprete, uma mulher de garra e coragem. Desafiada pela TSF, no âmbito dos 25 anos da rádio, respondeu assim (e bem, muito bem):
Nos dias em que se recupera, recria e faz renascer a clássica "Grândola, Vila Morena", eu recupero (quantas vezes a já trouxe a esta página? Nem sei...) outra do mesmo autor e cantor: José Afonso.
Por mais queijos e presuntos que inventem, por mais pastas e patés que se fabriquem, por mais marmeladas e doces que as avós nos vendam, por mais voltas que lhe queiram dar, não há nada a fazer e é definitivo: pão com manteiga é a combinação mais perfeita que a raça descobriu. Por hoje é tudo.
(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman. A deste mês já está aí à venda... )
Quando os jornais falaram do vigésimo aniversário da SMS, comecei por me lembrar do “bip”. Lembram-se? Era um aparelho (em rigor, “pager”) do tamanho de um maço de cigarros, que recebia mensagens escritas ditadas pelo emissor, para uma operadora, a partir de um telefone fixo. Coisas do género: “estou atrasado 20 minutos, desculpa”. Ditávamos por telefone a uma senhora, que por sua vez digitava e enviava para o “bip” do nosso interlocutor. Ele recebia a mensagem nesse pequeno aparelho, não podia responder, a não ser que fosse a um telefone fixo ditar mensagem de resposta. Poderia até enviar um palavrão, desde que tivesse a educação de soletrar a palavra, sem a dizer. Assim: “estou farto de esperar. Vai à éme é erre dê à”. A solícita operadora repetia as letras, sem nunca dizer a palavra, e enviava...
Parece antigo? É antigo, mas não tem mais de 20 anos. O tempo em que os primeiros telefones moveis pesavam 10 quilos.
Bom, tudo a propósito da forma como comunicávamos, da forma como hoje comunicamos. Mudou radicalmente. Do BIP à SMS, do fax ao mail, da internet fixa ao smartphone. Nada é como era, e as gerações que me rodeiam, entre os 40 e os 50 anos, foram vivendo estas mudanças ao mesmo tempo que as experimentavam. É por isso que os nossos filhos convivem com o Facebook como se fosse o mapa do metropolitano ou um menu de hambúrgueres, enquanto nós passamos jantares a discutir as virtudes, os defeitos, e os problemas que criámos com a plataforma. Eles, os mais novos, não distinguem estas vibrantes e diferentes formas de comunicar - e nós, herdeiros do fax, do telex, do telefone e mesmo da carta e do postal, e ainda dominados por manuais de etiqueta, criamos hierarquias no diálogo. Pior: tornámos ditadoras essas lógicas do que deve e não deve ser, a um ponto tal que podemos inviabilizar soluções em nome de uma estrutura que arrisco dizer ser vagamente fascista...
“No dia dos meus anos ele apenas mandou um SMS?”. Ou: “o tipo não teve coragem para me dizer olhos nos olhos, mandou um mail!”. Ou: “mandei-lhe uma mensagem no Facebook, ela respondeu-me pelo WhatsApp”... Há já um manual de boas maneiras não escrito sobre tudo isto. Mas a isso, a velha sabedoria - ridicularizada num filme português com o diálogo imperdível “Alô, Alô, Dona Rosa!” – tem a pergunta final: e por que não telefonar?
Do que a experiência me diz, falar ainda é a melhor solução: os “lol” e “:-)” e “;-)” ganham vida, as frases curtas são engrossadas com argumentos, e há momentos de discussão que iluminam o resto do cenário, que podia ter apenas luz na saudades ou no amor ou no ódio.
Saúdo os 20 anos da SMS, claro, porque facilitou a vida de todos e acrescentou diálogos rápidos e ricos à paisagem. Sem o Skype, a minha vida de pai seria uma pobreza triste e deprimida. Amo a SMS, no melhor e no pior. Gosto da rapidez e economia do WhatsApp. Mas não deixo de reconhecer que esta nova hierarquia comunicacional trouxe também equívocos, maior distancia, e uma frieza tantas vezes alheia à intenção de quem comunica.
Esta quase na hora de criar um novo manual de etiqueta na comunicação humana. Um código que nos ajude a distinguir o essencial do acessório – logo, também, a separar uma SMS de um insulto barato no Viber, uma conversa divertida no WhatsApp de um “chega para lá” via mail. São demasiadas plataformas para uma mesma ideia – comunicar. E é tempo a menos para gerir tantas manhas e manias.
Não desfazendo, vejo-me grego para interagir em tanta plataforma. Mas vou a todas – quem não vai, lá está, fica pelo caminho...
Não conheço nenhum Ministro, Secretário de estado ou mesmo assessor que, depois de uma passagem pelo governo (governo, sublinho, de qualquer cor política...), tenha tido dificuldades ou frequentado um Centro de Emprego. Nem por momentos uma situação menos confortável do ponto de vista económico ou profissional. Desempregado? Nunca ouvi falar de um só. Tal facto pode merecer crítica, reflexão, revolta, indignação, investigação, o que queiramos...
... Daí a fazer outra vez de José Sócrates o bombo da festa, porque também ele arranjou o tacho e a tampa para a sua vida, já roça o absurdo. Foi apenas mais um, de TODOS os que usam o networking do poder para viver regaladamente o resto da vida.
Ou então digam-me o nome do governante do PS, do PSD, ou do CDS, que depois de sair do Governo não se sentou confortavelmente numa qualquer administração pública ou privada, ou num lugar de topo de uma empresa de sucesso...
(Eu faço parte daqueles que acham que, num país civilizado, José Sócrates estaria no banco dos réus a responder pelos crimes de lesa-pátria que cometeu. Daí a hiperventilar na demagogia, vai um enorme passo.)
Quando José Mário Branco, nos idos de 70, declarava “A Cantiga é uma arma” (à época, “contra a burguesia”...), sempre achei a analogia disparatada, por ridícula e exagerada. Foi preciso chegar a 2013 para lhe dar razão – contra uma palavra que se não quer ouvir, um canto em coro pode chegar. Não imaginava possível, mas é. Não consigo deixar de achar criativo, inovador, e inteligente, enquanto forma de luta imaculada.
Não tenho nada contra chineses nem lojas de chineses. Não vejam aqui sinais de segregação ou xenofobia – mas há factos que não contorno: os post-its que comprei numa dessas lojas não colam, as facas não cortam, os espremedor de sumo partiu-se, a máquina de barbear nunca barbeou. Há dias vi um cubo de Rubik numa loja de chineses. Interroguei-me sobre se terá solução.
Estar sentado em frente ao grande aquário - a ver o movimento dos milhares de peixes, dos tubarões devidamente alimentados, do pré-histórico peixe-lua, naquele azul que hipnotiza, condensa e nos agarra -, é em si um programa para um dia inteiro. Sentado no chão, pode ser. Numa das muitas janelas, também. A ideia é estarmos e deixar-nos ir. Como se fosse uma viagem, sem sair do mesmo lugar.
Mas além disso há bailados como estes, das medusas.
A Amália a fazer a sesta de patas devidamente postas em sossego.
Os pinguins convencidos.
E a alegria infinita das crianças, que nos reanimam para a vida.
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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