Quem já trabalhou em rádio sabe que é assim: este meio tem uma qualquer magia que se agarra à pele, nos infecta com um (bom) vírus, e fica para sempre. Torna-se doença crónica. Talvez por isso, ontem, que foi Dia Mundial da Rádio, o Facebook estava inundado de declarações de amor à rádio – coisa que se não vê com os outros meios de comunicação. A memória é fanhosa, mas havia alguém, há muito tempo, na Rádio Comercial, que lhe chamava “uma docemania”. Gosto da definição.
Por coincidência, calhou que no Dia Mundial da Rádio se juntassem umas dezenas de profissionais deste meio, a jantar, num restaurante de Lisboa. O que os unia, o que os levou a responder “like” ao desafio da Madalena Vieira dos Santos? Terem todos participado, no final dos anos 80 do século passado, numa aventura que se chamou CMR – Correio da Manhã Rádio.
Recordar, lembrar, rir, falar, reencontrar – os verbos eram estes, à volta do amor pela rádio, e da certeza de todos termos vivido grandes momentos naquele bocado de andar da Torre 3 das Amoreiras.
Fiz parte dos contratados do CMR da "fase dois", isto é, depois da legalização da estação – ainda assim, o que senti mal entrei naquela rádio foi um ambiente muito especial. De boa camaradagem, de profissionalismo, de amizade, de entrega, o clássico e dificílimo “um por todos, todos por um”. Nunca antes o tinha sentido, porque sempre trabalhara em rádios com muitos anos de vida e de vícios. Acho que dificilmente voltarei a viver esse clima, ainda que seja hoje muito feliz na Antena 1, onde me sinto livre, onde trabalho com excelentes profissionais, e onde se pode ainda fazer rádio como entendo que a rádio se deve fazer. Nem por acaso, o director da Antena 1, Rui Pego, é o mesmo que fundou e dirigiu o CMR...
Ontem, no jantar que nos reencontrou tantos anos depois, senti que estava de novo no mesmo ambiente que tinha constituído a magia do CMR. Estamos todos vinte e tal anos mais velhos – mas continuamos a falar e a viver a rádio como se não tivessem passado estes anos.
Acho que aquele CMR não se repete – como, na minha vida profissional, se não repetem a fundação de O Independente, da K, ou o DNA. São encontros felizes entre os projectos certos e os momentos certos. Outros estarão para vir. Mas sentir que não estava enganado sobre o espírito CMR, o que se viveu no CMR, e a magia que o CMR fez multiplicar em cima da magia que a rádio, por si só, já convoca, foi muito bom.
Como disse às tantas a Margarida Pinto Correia, ou o Pedro Ribeiro, já não sei bem, “é disto que nos devemos alimentar”. E é mesmo.
(e agora seguia-se a lista dos presentes, dos ausentes, de todos. Eu sei quem são, mas eles sabem ainda melhor do que eu quem são!)
Há dois verbos que se usam agora, por tudo e por nada, e que me tiram do sério. Comecei por pensar que eram invenção de vendedores de banha da cobra – muitos deles, na versão 2.0, ganham dinheiro a “estimular o empreendedorismo” em conferências -, ou de políticos profissionais, ou talvez tivessem nascido no maravilhoso mundo dos comentadores de tudo e de nada.
Há bocado dei-me ao trabalho de ir ver se os verbos existem. E não é que existem mesmo?
Ou seja, é ainda pior: há dois verbos que se usam agora, por tudo e por nada, cujas versões originais, que desde sempre se usaram, são francamente melhores, mais elegantes, e simples. Por que raio então é moda dizer-se vivenciar, em vez de viver? Ou experienciar, em vez de experimentar?
Toda a vida vivi e experimentei. Nunca vivenciei nem experienciei.
Mas no mundo moderno as pessoas “vivenciam” e “experienciam” cenas.
Aqui em casa, nada mudou. Vivo e experimento.
Não, não me lixem: nem acordo ortográfico nem verbos que complicam o que é simples.
Entro num Centro Comercial aqui da minha zona para ir a um míni-supermercado comprar pão. Reparo que o ginásio do Centro, que tinha já uns anos largos de vida, fechou. Tudo fecha. No espaço que era do ginásio há agora uma improvisada Feira de Livros onde se mistura o melhor e o pior. No meio das mesas mais ou menos organizadas encontro uma colecção de livros com fotografias, de grandes mestres de sempre, que o Expresso terá promovido/vendido não sei quando.
Cada caixa – um livro, cinco fotos bem impressas para encadernar, custa 3,99 euros. Compro a caixa dedicada a Robert Doisneau, um dos meus heróis. Fotógrafo relevante do Séxulo XX, que descobri adolescente – claro, por causa da famosa fotografia do beijo – mas depois fui redescobrindo, já adulto, em trabalhos publicados na Life, na Paris Match, nos portfolios da Magnum.
Doisneau chamou-se a ele próprio “Pescador de imagens” – e dei por bem pagos os 3,99 euros quando descobri nesta caixa uma fotografia dele que não conhecia. Tirada em 1946, há mais de 60 anos. Não havia digital nem Photoshop nem computadores nem Internet.
Distingue-a de uma fotografia banal os balanços do preto e branco, o enquadramento, o “momento preciso”. Mas, em boa verdade, na essência, o que faz desta imagem uma grande fotografia é a simplicidade de um jogo quase geométrico entre natureza e intervenção humana na natureza. E entre elas, o miúdo que corre, como todos os miúdos - que quando são miúdos, fazem o quê? Correm.
Esta fotografia enche-me um dia. Deixo-a aqui para encher o vosso.
"Treinadores de Bancada" no canal TV do jornal A Bola (só no Meo): João Braga, João Malheiro, João Bonifácio, e eu a tentar moderar-lhes a paixão pelos seus clubes. A partir das 21:15, em directo. Agora é assim, todas as semanas, sempre à sexta.
Se correr bem esta primeira série, estreada há oito dias, estarei apto a moderar debates sobre halterofilismo, pentatlo moderno e arremesso do martelo.
Sinceramente: que o ministro Santos Pereira e o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho convidem Franquelim Alves para Secretário de Estado (para mais...) do Empreendedorismo, não me surpreende. É cada vez mais claro que andam desgovernados.
Que a passagem pelo BPN não conste na biografia oficial do novo governante, também não me espanta. É um hábito que vem de trás, dos tempos de Sócrates e companhia.
O que me surpreende é que Franquelim Alves aceite. E nem por um momento lhe ocorra que está a prejudicar o governo que apoia, o país, e está a dar cabo das nossas já tão arrasadas confiança e estima na raça humana.
Ou que não se importe de se sujeitar ao julgamento e à condenação publicas. Sou de um tempo em que as pessoas tinham vergonha na cara – nem que fosse a vergonha de, pelos mais honrados motivos, terem estado na hora errada no lugar errado. Já nem isso sobra.
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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