Lá estarei hoje, terça, à conversa...
... E quem vier, não só virá por bem como dará o tempo por bem... ganho.
(Esta terça, 2 de Abril, ás 18:30, no auditório do Oceanário de Lisboa)
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... E quem vier, não só virá por bem como dará o tempo por bem... ganho.
(Esta terça, 2 de Abril, ás 18:30, no auditório do Oceanário de Lisboa)
Eduardo Galeano , jornalista e escritor uruguaio.
Sábias palavras de um sábio. Merecem bem mais do que os minutos que duram.
(Encontrei na pagina de Facebook da minha amiga Margarida, e trouxe).
José Sócrates não é uma avestruz que enfia a cabeça na areia, e certamente lê o que sobre ele se diz, se escreve, se pensa, desde há dois anos até aos dias de hoje.
José Sócrates não saiu de Portugal para um país distante e desértico, sem ligação ao mundo e à actualidade. Sabe por isso, muito bem, o que a esmagadora maioria dos portugueses pensa dele e do seu desempenho político, e não ignora os (enormes) ódios e (escassos) amores que desperta.
Por maior que seja o seu ego, José Sócrates não é autista em relação ao estado em que deixou Portugal. Sabe o que fez e a herança que deixou, e não acredito que não tenha a noção das suas responsabilidades em todo o processo que nos conduziu à miséria presente.
José Sócrates deixou a liderança do PS mas não deixou o PS. Segue os passos do seu partido e sabe o estado de fragilidade da liderança que o sucedeu. Sabe onde deixou saudades, ou a falta delas.
Neste quadro, o regresso de José Sócrates a Portugal e ao “activo”, (descaradamente) dando a cara na televisão, das duas uma: ou é um acto de loucura, ou é um acto de coragem. A terceira hipótese – um acto de insanidade e cegueira puras – nem sequer a admito.
Se é um acto de loucura, bom, aos loucos tudo se desculpa.
Se é um acto de coragem, só pode ser assinado por quem não limites para a ambição – e nessa ausência, admite que somos todos lamentavelmente tolos.
Talvez se engane. Gostava de acreditar que se engana.
PS – Quanto a falar e ter um programa na televisão (pública ou privada), nada a dizer. Concordo com a citação de Voltaire que li num desses manifestos sobre o assunto: "Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la."
Esta fotografia foi tirada em Maio de 2001, no Alentejo. O meu filho tinha 5 anos, e já fazia aviões de papel. Uma década depois, os aviões de papel ganharam sérias asas e ele voa para bem longe, à procura do seu próprio caminho. Voar é que os pássaros-pais ensinam os pássaros-filhos a fazer.
Eles aprendem.
Quando tropeço em fotografias como esta, vejo como também o tempo voa. E nós com ele.
(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman. A deste mês, a festejar 12 anos de vida, já está aí nas bancas...)
A história de Paulo Sebastião (zinedepao.blogs.sapo.pt) podia figurar naquelas reportagens que a crise inspira e os jornais adoram: jovem informático de 27 anos tem oportunidade de trabalho em Estocolmo, deixa o seu país, e quando se confronta com a realidade sueca descobre que lhe faz muita falta o pão português. Decide então aprender a fazer pão – mas como é dedicado e rigoroso, vai aprender com os melhores, estuda, e torna-se um apaixonado da arte. De tal forma que todas as sextas-feiras à noite, enquanto os seus colegas vão afogar mágoas nos bares da capital sueca, o Paulo vai gratuitamente para a padaria do seu mentor aprender mais e mais sobre massas, leveduras, farinhas e cozeduras.
Cruzei-me com o Paulo porque também eu quis aprender a fazer pão. Ele passou por Lisboa há umas semanas e organizou umas sessões públicas. Paguei a minha inscrição e logo nesse momento pensei: há paixões que podem ser lucrativas...
Então lá estive uma tarde de volta do pão. Perceber as manhas da farinha quando se junta com a água, a diferença entre isco e fermento, o peso definitivo do tempo e da paciência na arte de conseguir um pão que se orgulhe desse nome. O problema do forno. E depois o momento health club da coisa: amassar, sovar, tender e por fim moldar pão. Não me saí nada mal. Mas é claro que o melhor foi ouvir o Paulo falar de pão como quem fala do amor da sua vida. Provavelmente, é. Mas ele só o descobriu quando lhe sentiu a falta...
Lá está: a crise, a falta, a distância, também são oportunidades. Ou mesmo “a” oportunidade. Estava ali uma dúzia de pessoas a aprender a fazer pão numa tarde de sábado – mas na verdade, estávamos a virar as costas à depressão, a ouvir a história do Paulo (que um dia vai mesmo deixar a informática para se dedicar só ao seu amor maior...), e com ele veio a história de uma amiga que deixou a profissão na cidade para recuperar a mó de pedra para os cereais que vão dar pão, e havia ainda a mercearia fina que nos acolhia e era também um projecto pessoal de paixão. Ou seja, havia inspiração para nos deixar o resto do fim-de-semana a pensar em alternativas - e essa era a melhor causa e o mais forte argumento.
É disso que se trata: alternativa. É a palavra-chave. A tendência. O foco. Descobrir o nicho que ainda não está ocupado, pensar em grande o mais pequeno negócio, usar os recursos que os tempos nos trouxeram ao serviço de ideias que se calhar foram dos nossos avós. Quem diz pão, diz biscoitos e doces e compotas. Quem diz pão, diz crochet e presentes e sacos de pano. Afinal, esta é a primeira crise que vivemos em que, simultaneamente, temos toda a informação, e a rede de contactos, ao alcance de um clique. Além da facilidade em transformar um prazer caseiro num negócio artesanal. Desta vez não temos desculpa para não dar um passo – sendo certo que esse passo tem o travo doce do prazer...
... Acreditem: ver um pão crescer no forno de casa, amassado e tendido e “desenhado” por nós, é comovente. Ver a família e os amigos cortarem-no e barrarem-lhe manteiga e doce, e sentir que resiste fresco mais do que as 12 horas do pão que compramos no supermercado, é voltar à terra onde apanhávamos morangos às escondidas e nos sabia à compota que havia de nascer mais tarde.
Voltar ao começo. Somos nós e as mãos e a imaginação – e o mundo à nossa espera. Eu não sou dos que abraçam árvores – mas acho que tendência é mais verbo do que outra coisa qualquer. É fazer. E ver crescer.
Não sou católico – mas nem por isso me torno indiferente ao mundo católico, que esmagadoramente me cerca. Os temas religiosos interessam-me, ainda que mais pela via filosófica do que pelos caminhos da fé. A ser “algo”, talvez fosse hinduísta (assunto para outro post, um dia destes).
Para agora interessa-me ilustrar a fotografia que tirei e “mexo” no instagram com esta ideia sincera: desde o primeiro momento, o Papa Francisco conquistou-me. Parece o homem certo para o desafio maior da igreja católica nestes anos cinzentos. Tudo o que até agora mostrou – da frase “olhou-o com misericórdia e escolheu-o” à informalidade com que assume funções, passando pelo sublinhado permanente na pobreza e nas obrigações dos governantes – me cativa e me comove, me convoca e me deixa a pensar.
Não sou católico, repito. Mas pergunto-me se, com homens destes à frente da igreja nas últimas décadas, não estaria hoje convertido, convencido e militante. Quem sabe, com fé.
Ao meu pai, que sabia ouvir.
Ao meu filho, que sabe ouvir. E ouve.
Sempre que o ministro Vitor Gaspar fala, há mais uns milhares de desempregados, há mais uns milhões de euros em défice, há mais famílias endividadas e pobres nas ruas, há menos exportações, menos PIB, menos luz ao fundo do túnel.
E se ele se calasse?
A minha dúvida, para começo de semana, é mesmo essa: a coisa resolve-se calando o ministro?
Marcelo Rebelo de Sousa terá comparado Gaspar a um (mau) astrólogo. Não me parece uma comparação feliz: o segredo do astrólogo, mesmo do medíocre charlatão, é conseguir encontrar, entre previsões infundadas, algumas obviamente acertadas: se o senhor andar à chuva, molha-se; ter cuidado com a saúde é importante; invista na sua carreira. O cliente do astrólogo sai do consultório com algum alívio, porque parte dos conselhos recebidos são incontornáveis lugares-comuns.
Já com Vitor Gaspar é diferente: ele prevê o pior, e a seguir vem ainda pior. No fim, volta a falar e diz que está desapontado. E quanto mais bate no fundo, mais fundo há para bater. Talvez o problema não seja do país ou da economia – talvez seja dele, do ministro.
Calando-o, não ficávamos mais sossegados na miséria em que mergulhámos, pelos vistos, sem retorno?
Estava no Parque das Nações a olhar para este objecto, e foi o que me passou pela cabeça e tomei nota:
O vento vai para onde o empurram. Por isso o vento vai e por isso o vento não volta. Quando vai, o vento já foi.
Levantei-me, e fui.
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