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Pedro Rolo Duarte

27
Jun13

O jornalismo não acaba (nem por acaso, em dia de greve geral)

 

Quem acha que o jornalismo acabou mesmo, faça o obséquio de gastar 6,50 euros na edição especial da revista Veja dedicada, obviamente, às manifestações e ao levantamento popular que abalaram o o país nos últimos dias. Nas 30 páginas que a revista dedica ao tema, caem por terra os mitos, os boatos, as análises sem fundamento, os comentários ignorantes e as explicações tolas que ao longo dos dias fomos lendo, ouvindo, e vendo um pouco por todo o lado.

Com factos, dados, sondagens, reportagem, voz da rua, enquadramento, a Veja explica em pormenor o que está em causa, como nasceu, e qual a relevância que tem. Recupera a queda do Muro de Berlim – que começou com um piquenique e acabou com um dos mais poderosos blocos geopolíticos do século XX – para deixar claro até onde pode ir a vaga de fundo agora iniciada. E exibe a contradição mais poderosa deste momento: é com um Governo de esquerda, um Governo que em teoria comanda o povo e comanda a rua, que o povo toma conta de rua contra quem o governa.

No detalhe, o “especial” está cheio de ourivesaria jornalística, trabalho de artífice dedicado, edição apurada. Destaco apenas uma pequena genialidade. A primeira frase da reportagem diz assim: “Podem passar-se décadas sem que nada mude, mas numa semana podem concentrar-se décadas de mudança”. A ver pelo que se vive no Brasil, a frase é clara e exemplar, podia ser assinada pela revista ou qualquer sociólogo e comentador do momento. Porém, só no fim do texto se diz quem foi o seu autor: Lenine, nem mais nem menos…

Jorge Palma canta “enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar”. Pois bem: enquanto houver jornalismo assim, mesmo que distante do rectângulo, esta profissão vai continuar. Mais real nuns lados, mais sonhada noutros. Mas vai continuar.

24
Jun13

Mário Soares tem razão mais vezes do que merece

O verbo “merecer” é tão indefinido, por um lado, e pessoal, por outro, que nem me darei ao trabalho de explicar o titulo do post. Não me apetece.

Mas, na entrevista de ontem ao Público, Mário Soares tem razão quando diz:

“A democracia já está em perigo. Neste momento, somos uma pseudodemocracia, porque a democracia precisa de ter gente que resolva os problemas. Quando o Presidente da República não é capaz de resolver nada a não ser estar de acordo com o Governo, e o Governo não faz nada porque não tem nada para fazer nem sabe o que há-de fazer, o que é que se passa?”.

E por causa de ter razão no que citei, também tem razão no que mais disse:

"Aqueles que têm fome podem-se zangar".

O resto, admito, interessa-me pouco.

21
Jun13

Porno-crónica

(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman. Hoje está uma fresquinha à venda, com uma lindíssima Maria João Bastos na capa...)

 

“Ofereci à minha mulher, no seu aniversário, um tablet com acesso à internet. Passado pouco tempo ela começou a falar-me de ousadias sexuais que queria experimentar, e eu estranhei, porque nem sequer percebia do que ela falava, e conheço muito do que se faz por aí. Descobri que ela andava a ver pornografia na net e queria concretizar certas coisas que tinha visto. Estará doente?”.

Estou a citar de cor - mas era esta, no essencial, a pergunta que li, há dias, num desses consultórios sexuais que publicam alguns jornais e revistas. A sexóloga consultada procurou, na resposta, tranquilizar o marido exaltado (e assustado...), falando da necessidade de apimentar a vida sexual dos casais, e que daí não vinha mal ao mundo, desde que fosse de acordo com a sensibilidade de ambos.

Não sou sexólogo, nem pretendo especular sobre os limites da sexualidade, mas sou homem para arriscar uma ideia, sem qualquer base cientifica ou estatística, sem maior sustentação do que o empírico palpite de treinador de bancada: a pornografia livre na internet fez mais pela intimidade dos casais do que dez anos de revolução sexual na década de 60 do século passado, e trinta anos a ressacar dessa mesma revolução, e a reinventar os tempos que se lhe seguiram...

O que os estudos hoje nos dizem é que a uma esmagadora maioria de internautas vê pornografia, procura pornografia, usa a internet para ter acesso a pornografia. O sexo é, claramente, o tema que maior interesse desperta quando se estuda a rede de todas as redes, e está para a Internet como os reality-shows estão para a televisão: ninguém diz que vê, toda a gente vê. Estes factos dariam que pensar aos académicos e profissionais desta área, fossem sociólogos ou médicos. Se aquele “item” mexe com tanta gente, talvez devêssemos deixar de o considerar limbo da internet, submundo da realidade, não-assunto da vida real.

Porém, deixamos o tema no banho-maria do que pode criar problemas se a água começa a ferver. Os nosso tabus, a educação que recebemos, e os clássicos pruridos sobre estas matérias, levam-nos a um estado de negação permanente. Não somos capazes de confessar – nem às paredes... – que foi num “zapping” por um site ousadíssimo que descobrimos aquela posição, aquela alternativa, aquele fetiche que repentinamente nos diz tanto. Mais do que as sombras do tal Grey (de que falei aqui, há meses, para dizer que pôr “novo” atrás da palavra “sexo” não faz do sexo algo de novo...), é ali, no click de um site, numa fotografia, num vídeo, que nos encontramos com o espelho do que nem imaginávamos que podíamos ver reflectido. Essa janela aberta é boa e saudável – e, uma vez mais, sem quaisquer comprovativos científicos, arrisco escrever que contribui para diminuir os crimes sexuais, as perversões, as parafilias.

Este é um elogio da pornografia? Com certeza que sim. Porque talvez quisesse apenas chegar a um ponto: quanto mais escondemos o que nos convoca, o que nos abala, o que verdadeiramente mexe connosco, mais nos afastamos de uma qualquer ideia de paz e felicidade. Nada nos apazigua mais do que a mente liberta e livre – e não há forma de lá chegarmos sem que nos libertemos dos fantasmas que dançam à nossa volta.

Voltando ao começo, eu responderia ao leitor daquele consultório: “A sua mulher não está doente, está de boa saúde! Já você, caro leitor, se continuar a achar que fetiche e fantasia, desordem e libertação, podem ser doenças da outra metade do casal, vai acabar duplamente infeliz: sem o prazer... e sem a sua mulher”.

19
Jun13

De passagem

 

Adoro assistir a casamentos para os quais não fui convidado.
Ou seja: passar por uma Igreja, de jeans e ténis, e perceber que está a decorrer um casamento. Entrar. Observar. E depois ir à minha vida, sem transpirar com o fato e a gravata, sem me sujeitar à boda de três pratos e seis horas, seguindo directo para a praia ou para o cinema.
Lembrei-me disto quando tropecei, aqui no computador, nesta fotografia que tirei há uns anos em Barcelona. Lá está: ía a passar, e havia casório. Fui ver.

18
Jun13

Da série textos antigos que não perdem actualidade (I)

(algures em 2006)

Num dossier publicado na revista “Notícias Magazine” encontrei um provérbio chinês que deveria estar colocado em todas as repartições públicas, em todas as casas de Portugal, nas lapelas dos casacos, nos vidros dos carros, talvez até mesmo em permanência nos rodapés das televisões. Diz assim:

“Se tem remédio, porque te queixas? Se não tem remédio, porque te queixas?”.

Assim, com a irónica mas certeira serenidade oriental, ali estão as duas perguntas que nos devem ser colocadas diariamente. Repetidamente. Até à exaustão. Só pelo cansaço venceremos os nossos eternos complexos. Eu, por exemplo, já estou farto de ouvir queixas. E também de me queixar. E no fim deixar andar...

13
Jun13

O espectro do medo

A notícia é a que se sabe: “O homem de 25 anos que foi detido no domingo passado em Elvas por difamar o Presidente da República, Cavaco Silva, foi condenado em tribunal a uma multa de 1300 euros”.

Parece um fait-divers mas não é um fait-divers.

Parece uma notícia de segunda, mas é uma notícia relevante. Tanto mais relevante quanto é certo que ocorre duas semanas depois do episódio “palhaço”, que envolveu Miguel Sousa Tavares e o Presidente da Republica.

Interessa pouco se os agentes da autoridade agiram antes ou depois de consultarem a Presidência da Republica.

Interessa mesmo é notar que foi preciso chegarmos a 2013, e termos Cavaco Silva na Presidência, para um homem ser julgado e multado por ousar gritar a sua indignação na rua, chamando dois ou três nomes menos razoáveis ao Presidente e, de passagem, mandando-o trabalhar.

Tudo o que qualquer de nós, em algum momento, alto ou baixo, na rua ou em casa, já fizemos. Com este Presidente, com os anteriores, com Governos e governantes de qualquer área.

O insulto na rua, ou o beijinho na feira, a indignação ou a lambe-botice, fazem parte do “pacote” da actividade pública de qualquer político. Todos o sabem, é o jogo da política. Mesmo que juridicamente um impropério gritado na rua possa ter consequências, não há quem se queixe, condene, ou reclame. Nem José Sócrates, o tal animal selvagem, tentou entrar por essa noite escura.

Foi com Cavaco Silva que se abriu o precedente. Em duas semanas, por duas vezes, o espectro do medo pairou sobre a nossa liberdade de expressão. Não bastava a crise.

09
Jun13

A noite de um génio

Os privilegiados que puderam assistir, ontem à noite, no Espaço Brasil (LX Factory) ao concerto de Ed Motta (que, entre outros, teve um dueto com Mariza absolutamente extraordinário...), conheceram não apenas o génio, a virtuosidade e a criatividade do músico, cantor e compositor, como obviamente se renderam à sua cultura e ao seu apuradíssimo sentido de humor. Há momentos de sorte. Calhou-me um desses.

Ainda por cima com direito a canções novas. Como esta, que vos deixo...

 

 

(Corram à lx Factory, Ed Motta repete a receita esta tarde, às 18:00, só os convidados são diferentes – e Rui Veloso é um deles).

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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