Sou sensível ao argumento dos que defendem a candidatura de Sampaio da Nóvoa por vir de fora da panelinha politica do costume. Acho que, nesse sentido, é um excelente contributo para mexer um bocadinho no óbvio e animar o debate (aliás, o seu discurso de apresentação foi, a todos os títulos, renovador - ainda que não inovando, nem sequer naquela falácia do papel do Presidente da Républica, ou na já previsível separação entre o mundo dos políticos e o dos não-politicos…). A presença, na plateia, de Sampaio e Soares, limitaram-lhe um pouco os movimentos. A ausência de António Costa garantiu alguma consistência na candidatura acima dos partidos. Vamos ver. Mas não consigo deixar de me sentir desiludido por, à esquerda, ou em rigor ao centro-esquerda, não se ter conseguido um candidato com a dimensão que Portugal, neste momento, precisava. E o nome dele era António Guterres. Essa sim, é uma oportunidade perdida.
Sei que é uma expressão típica das novas gerações: quando querem dizer que algo é extraordinário, que lhes encheu as medidas, exclamam um “é brutal!” que a mim quase sempre me cheira a exagero… … Porém, “brutal!” é mesmo a palavra que me ocorre depois de ver a exposição “Génesis”, do genial Sebastião Salgado, que enche os corredores da Cordoaria Nacional. Brutal no sentido de extraordinário, mas também no sentido de impressionante, de impactante, de grandioso. Brutal ainda na ideia de um mundo tão maior do que o julgamos, do que o conhecemos, do que o sonhamos. “Génesis” percorre, com a mestria do trabalho a preto e branco de Salgado, das suas texturas, nuances de cor e dimensões, um mundo de contrastes e complementos: da natureza, de um reino animal que nos confronta e desafia, de povos e culturas que nos fazem todos iguais, por sermos todos diferentes. E vivermos em tempos comuns, porém desfasados e próprios. Costumo dizer - e é lugar-comum, claro - que viajar é a melhor maneira de nos recolocarmos no universo e termos a verdadeira dimensão da nossa pequenez e insignificância individual, e do mundinho da treta onde vivemos. Depois de ter visto “Génesis”, diria que, além de viajar, ver esta exposição ainda nos torna mais pequenos, mais humildes, e acima de tudo mais humanos. Somos todos aqui, na Terra. E é brutal.
Na véspera da comemoração do dia em que a liberdade foi devolvida aos portugueses, soube-se que andava pela Assembleia da Republica um projecto de diploma que criava uma espécie de “exame prévio” ao trabalho dos jornalistas em campanha eleitoral. Confesso: achei a coisa tão absurda e ridícula, que nem consegui levá-la a sério. Fez-me lembrar a história daquele deputado que roubou o gravador a um jornalista - são aquelas peripécias, aqueles fait-divers, que tornam os nossos dias menos cinzentos. Ri-me. Não sabia mais o que fazer. (O tal diploma morreu, mas parece que não era tão brincadeirinha quanto isso. Lá está: eu e a minha mania de não levar nada muito a sério…) Depois veio o 25 de Abril e o PSD e o CDS acharam que era a data ideal para anunciar uma coligação eleitoral. Marcelo disse na TVI que Passos e Portas desconfiam um do outro, mas disfarçaram para aparentar unidade. Meu deus, terei ouvido bem? Enquanto isso, na RTP-Memória, a recordação da emissão especial dedicada às eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, devolveu-nos o país que éramos há 40 anos, sem tirar nem por. Do “securitas” da RTP que ficou tranquilo quando lhe disseram que “aquilo” era um “golpe de estado” ao ponteiro que Eládio Clímaco e Fialho Gouveia empunhavam para debitar resultados, passando pelo fumo nos estúdios e pela Manuela de Melo chateada porque em 1974 ninguém quis ocupar os estudios da RTP-Porto. Amei um velhote que dizia que ía votar na “mãozinha” sem saber porquê ou sequer o que era. Mas agora a sério. Fico confuso com tanto non-sense, tanto gato fedorento, tanto humor inadvertido. Pergunto-me por onde andará a realidade.
O Ano Internacional do Design Português foi o pretexto para a edição de um conjunto de oito livros, coordenados por José Bártolo (mas assinados por nomes tão diversos quanto Helena Sofia Silva, Maria Helena Souto e Maria João Baltazar, entre outros), que o jornal Público tem vindo a lançar semanalmente. Ainda que, do ponto de vista do rigor, haja muitas falhas e esquecimentos que ensombram a obra, confesso que me derreti ao ver as páginas dedicadas ao DNA e à K - dois dos projectos que me encheram a vida de mais vida, e duas das memórias profissionais que mais me enchem as medidas. Eu sei que isto é muito cá de casa, mas há momentos em que um bocadinho de espuma de ego sabe mesmo, mesmo bem…
Leio as notícias sobre o que se vive no mar que banha a civilizada Europa, e só me ocorrem as palavras de John Kennedy: "O laço essencial que nos une é que todos habitamos este pequeno planeta. Todos respiramos o mesmo ar. Todos nos preocupamos com o futuro dos nossos filhos. E todos somos mortais".
Por causa de um programa de televisão que gravei no Porto, marquei via-internet, algumas vezes, um hotel para dormir em Gaia. Já foi no ano passado. Por causa de uma amiga que passou cá por casa e queria combinar com outra amiga uma viagem a Cabo Verde, o meu computador foi usado para marcar um voo e um hotel para a cidade da Praia. Até aqui tudo normal. Menos normal é que, em ambos os casos, não haja, desde aí, um cabrão de um dia em que não receba um mail, ou anúncios em páginas de internet, ou bandas laterais no Facebook, com perguntas idiotas como: - Pedro, e que tal um fim-de-semana em Gaia com 50% de desconto? - Ultima oportunidade: vá para Cabo Verde esta semana! - Gaia espera por si por apenas 20 euros! - Voar para Cabo Verde é um sonho e custa apenas 100 euros! Ora… Ora, eu não quero ir passar fins de semana a Gaia, não estou a pensar viajar para Cabo Verde nos tempos mais próximos, e fico tão incomodado com estas mensagens que até admito que a remota hipótese de me apetecer ir, nos próximos tempos, a Gaia ou a Cabo Verde, fique hipotecada por conta desta intrusão digital no meu pequeno mundo pessoal. Chama-se a isto publicidade contraproducente. Duma forma mais rude: que se vira contra aquilo que pretende vender. Falta muito para chegarmos a um qualquer ponto de equilíbrio? Enquanto a coisa vai e vem, deixo-vos com este anuncio. Feito agora, mas à maneira de antigamente. Emocional e como deve ser.
(... E agora vou dar uma volta. Que não passa por Gaia, nem por Cabo Verde. Mas “eles” não sabem, porque não marquei pela net…)
Está já nas livrarias este “I Ching”, uma leitura actual (e portuguesa…) de um clássico livro chinês com mais de 2000 anos. Aceitei escrever o prefácio porque me interesso pelo I-Ching há quase vinte anos, porque acho fascinantes os ensinamentos que encerra, e porque merece ser mais divulgado entre nós. Tenho pouco de esotérico, mas lá está: “não negue à partida uma ciência que desconhece…” Deixo aqui um bocadinho do meu prefácio, uma forma de dar força ao livro e de explicar esta minha atracção por uma obra, no mínimo, surpreendente…
“Nunca acreditei em qualquer coisa que estivesse muito para lá do que a vista alcança ou a lógica sustenta. Mas também nunca deixei de me fascinar pelo que me escapa (ignorância ou receio de saber…), fosse o segredo dos aviões levantarem voo ou a lógica das marés. Ao longo da vida, dei comigo a aceitar que me lessem cartas de Tarot e búzios, e ouvi longas prelecções sobre o mapa astrológica que me calhou. (…) Porém, só quando conheci o I Ching parei, pela primeira vez, para pensar. Não na fé – mas antes no livre arbítrio que nos leva a decidir em função da razão ou do coração, tantas vezes apenas em função da intuição. (…) Vivemos um tempo bipolar e aparentemente absurdo em que tudo é rápido, fugaz, tantas vezes incompreensível, e a sociedade deixa-se arrastar pelo turbilhão – mas ao mesmo tempo essa mesmíssima sociedade procura paz, explicação, meditação. Competitividade, concorrência, globalização, flexibilidade, insegurança – são tudo palavras antigas que se usam agora mais do que nunca. O tempo é de apreensão – mas é também de fascínio e paixão. Novas tecnologias, redes sociais, o mundo ao alcance de um click. De um lado, a rapidez e o stress – do outro, para compensar, a procura do relaxamento, da nova atitude, seja através de práticas como a do Yoga ou a mais comum massagem, a aromaterapia, a acupunctura. Parece que o nosso organismo nos pede essa compensação pelos “trabalhos forçados” que lhe infligimos. Sinto esta dualidade diariamente – e procuro, como todos nós, escapar-lhe com os meus momentos, as minhas fugas, os meus segredos. O I Ching é um desses pontos de fuga. E ao forçar-me a abrandar, por instantes, a agenda do meu dia, muda o curso da vida, na medida em que atrasa um café ou adia uma palavra infeliz que ía escrever. Com tudo o que isso implica. Gosto desse travão numa timeline que quero cada vez mais ser eu a definir. O I Ching é, para mim, apenas isso. É isso tudo”.
Há um novo imposto sobre os sacos de plástico que, em nome da sustentabilidade e do ambiente, aumentou a receita do Estado (ou permite-lhe que continue a gastar mais do que pode). Mas, ao mesmo tempo, criaram-se leis e decretos que obrigam à impressão em papel de facturas, com ou sem numero de contribuinte - ou nas duas formas, que ainda é mais estapafúrdio. Até as declarações anuais de rendimentos dos profissionais livres são emitidas em papel e enviadas por correio para casa dos contribuintes. Exemplo banal: pago diariamente 65 cêntimos por um café cujo recibo que me dão mede 70 centímetros quadrados. Adorava que alguém fizesse contas sobre o peso da sustentabilidade e do impacto ambiental desta parvoeira que o Governo inventou para controlar e cobrar impostos. Somos cada vez mais digitais, cada vez mais ecológicos, saudáveis e defensores do ambiente - tanto quanto assistimos, impávidos e serenos, a este absurdo do papel impresso por todo o lado em facturas e recibos. Amanhã taxam-nos o pensamento e obrigam-nos a imprimi-lo, não vá fugirmos ao imposto sobre o que nos passa pela cabeça. O pensamento leva NIF ou pode ser factura simplificada?
Sim, este blog continua a ser minha sala de estar, onde entra quem eu quero e convido, onde digo o que me passa pela cabeça, e oiço e aceito as criticas que não ofendem nem insultam, e onde também “me vendo” sempre que acho que faço alguma coisa de jeito. Por acaso, acho que este “Mais Novos que Nunca” está a ganhar corpo como programa de novas tendências, descobertas sobre vidas alternativas, e mesmo como plataforma de comunicação entre quem escolhe caminhos diferentes dos óbvios. Como é o caso da Mariana. Sei que me fica mal, mas ainda assim arrisco sugerir que oiçam… Aqui.
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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